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Quadrilha passava cocaína por raio-x e até alambrado do Aeroporto de Guarulhos, diz delegado

Ao todo, 15 foram presos nesta terça e oito estão foragidos - entre eles, os dois chefes do esquema, segundo Polícia Federal; suspeita é de elo com o PCC

22 jul 2022 - 17h43
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SÃO PAULO - A Polícia Federal fez uma operação nesta terça-feira, 19, contra um grupo acusado de cooptar funcionários do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, para o tráfico internacional de drogas. Ao todo, foram presos 15 suspeitos de integrar a célula de quadrilha vinculada ao Primeiro Comando da Capital (PCC),conforme a PF.

A investigação indica que o grupo chegou a passar carregamentos de cocaína pelo raio-x de bagagens e até pelo alambrado que contorna as pistas do terminal. A maior parte dos 23 investigados trabalhava infiltrada entre funcionários de empresas terceirizadas, o que os permitiu descobrir brechas de segurança. Oito alvos estão foragidos - entre eles, dois apontados como chefes do esquema.

"Existiam diversas formas de a droga entrar no caso dessa investigação específica", disse ao Estadão o delegado da Polícia Federal Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes. Como exemplo, ele cita que os investigadores mapearam situações em que carregamentos de cocaína passaram pelo check-in, mas foram descobertos por funcionários de companhias aéreas. "(Os suspeitos) Eram terceirizados que, após o fechamento do check-in, de alguma forma tentavam introduzir as bagagens."

Em alguns casos, as tentativas foram bem sucedidas, até pelo conhecimento que integrantes da quadrilha adquiriram sobre o funcionamento do aeroporto. "Houve episódios em que a droga foi passada pelo alambrado. Havia funcionários - tratoristas e outros funcionários que prestavam serviços - que aguardavam em local impróprio, onde normalmente não deveriam estar, para receber essa droga."

As investigações da PF sobre a célula específica tiveram início em abril do ano passado. Desde então, foram feitas nove ações e apreendidos 887,5 kg de cocaína. Dos 23 suspeitos, 18 trabalhavam (ou chegaram a trabalhar) em empresas que prestam serviço ao Aeroporto de Guarulhos, três davam apoio logístico à quadrilha e outros dois comandavam o esquema. A PF não divulgou os nomes das empresas terceirizadas que tinham empregados entre os suspeitos.

"Os dois principais alvos, que são os responsáveis pela cooptação, são faccionados pelo PCC", disse o delegado. Os policiais, no entanto, não chegaram a capturá-los. "Um deles não se encontrava no endereço e é dado como foragido, embora as equipes da Polícia Federal ainda estejam atrás dele. E o outro se encontra no exterior, razão pela qual foi feito um pedido de prisão internacional decretado pela Justiça do Brasil e feita a difusão vermelha via Interpol."

As investigações prosseguem. "Existem outras células que estão sendo investigadas pela Polícia Federal, e já foram feitas diversas operações no aeroporto para que essas células sejam eliminadas", disse Galli. Segundo ele, o crime organizado traz a droga de países vizinhos, como Bolívia e Paraguai, e depois organiza a entrega para países normalmente da Europa. É neste momento que criminosos de células como a que foi presa nesta terça passam a atuar.

Os suspeitos capturados pela PF, informou Galli, foram cooptados pelo crime organizado de diferentes modos. "Havia funcionários específicos que foram contratados já para fazer a atividade. E existiam outros funcionários que, no decorrer da prestação de serviço, eram cooptados para desempenhar as atividades dentro da organização criminosa", disse. "Eles eram de várias empresas terceirizadas, não tinha uma especificação. Aparentemente (as empresas) não suspeitavam."

"Como o Brasil é uma rota de escoamento de drogas, e (a quadrilha) utilizava, nesse caso específico, uma rota aérea, foi feito esse trabalho (de investigação)", explicou Galli. Como destinos utilizados para o tráfico internacional, o delegado cita que a investigação já mapeou cidades como Frankfurt, na Alemanha, Lisboa, em Portugal, e Amsterdã, na Holanda.

Mudança no perfil

Conforme Galli, a PF vem se intensificando ações dentro do aeroporto ao longo dos últimos três anos para acompanhar novas estratégias do crime organizado. "Sabemos que houve mudança no perfil. Havia muita apreensão de drogas das chamadas "mulas", o tráfico "formiguinha", e elas continuam existindo. Mas conseguimos identificar diversas células dentro do Aeroporto de Guarulhos fazendo o tráfico de drogas, principalmente com escoamento via carga aérea."

As investigações da polícia, explicou ele, normalmente têm início com apreensões de drogas feitas de forma pontual no aeroporto. A partir delas, são realizadas vigilâncias, levantamentos e solicitações de medidas judiciais para acompanhamento de possíveis alvos pela PF. Foi esse mesmo caminho que possibilitou a operação desta terça.

Os policiais federais cumpriram mandados expedidos pela 5ª Vara da Justiça Federal em Guarulhos. Além dos 23 mandados de prisão preventiva, foram 24 de busca e apreensão. As medidas ocorreram em Guarulhos, na capital paulista, em Sorocaba e em Praia Grande. E também em Portugal, onde um dos mandantes estaria. Os investigados serão indiciados pelos crimes de tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico, cujas penas variam de 10 a 25 anos de prisão.

Procurada, a GRU, concessionária responsável pelo aeroporto, disse que informações sobre a operação serão repassadas pela Polícia Federal. A operação ganhou o nome de Bulk, em alusão a um dos compartimentos de carga de aeronaves comerciais de longo curso: o bulk cargo, que fica no porão, perto da parte traseira da aeronave.

Estadão
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