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Quatro são presos após MP identificar uso de soda cáustica e água oxigenada em produtos lácteos

Produtos da fábrica no Rio Grande do Sul eram distribuídos em todo Brasil e até para Venezuela; empresa também venceu licitação em escola

11 dez 2024 - 16h07
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Cinco são presos após MP identificar uso de soda cáustica e água oxigenada em produtos lácteos
Cinco são presos após MP identificar uso de soda cáustica e água oxigenada em produtos lácteos
Foto: Divulgação/MPRS

O Ministério Público do Rio Grande do Sul deflagrou, nesta quarta-feira, 11, uma operação contra a adulteração de produtos lácteos em uma fábrica da Dielat localizada em Taquara, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Quatro pessoas ligadas a empresa foram presas até o momento, e a ação corresponde à 13ª fase da Operação Leite Compensado.

A operação, conduzida pelas Promotorias de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor, revelou que a fábrica de Taquara estava produzindo derivados lácteos, como leite UHT, leite em pó, composto e soro, com adição de soda cáustica e água oxigenada, substâncias nocivas à saúde. Além disso, foram encontrados "pelos indefinidos" e sujeira dentro das embalagens.

Um dos presos é Sérgio Alberto Seewald, conhecido como "alquimista" ou "mago do leite", que já havia sido implicado em fraudes em fases anteriores da operação estava sob medida cautelar. Ele foi alvo da quinta fase da Operação Leite Compensado, em 2014, quando sua participação em fraudes envolvendo a adição de substâncias químicas em produtos de uma indústria de Imigrante, no Vale do Taquari, foi descoberta. A Dielat, conforme a apuração do MP, o contratou para assessorar na produção.

A operação contou com a colaboração do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Receita Estadual, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), Ministério Público de São Paulo (MPSP) e a Delegacia do Consumidor da Polícia Civil (DECON). Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, além de quatro mandados de prisão preventiva em empresas e residências em Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e São Paulo. A prisão dos suspeitos foi realizada com o apoio da Brigada Militar.

O promotor Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, ressaltou que, após 2017, apenas duas denúncias de adulteração de leite foram feitas, com pouca quantidade de água sendo adicionada. Porém, a nova denúncia em 2024 levou à presença do "alquimista", o que surpreendeu a investigação.

"Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da [Operação] Leite 5. Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, disse Rockenbach.

Já o promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Defesa do Consumidor, explicou que a soda cáustica é utilizada para ajustar o pH do leite e reduzir sua acidez, desaparecendo rapidamente nas análises, o que dificulta sua detecção.

“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação. Vale lembrar que as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite", explica ele.

"Por exemplo, sobre o composto lácteo, eles chegam a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo novamente. Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns, inclusive, cancerígenos”, acrescenta Alcindo Bastos.

Também participaram da deflagração da "Operação Leite Compen$ado 13", os promotores de Justiça André Dal Molin, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) no Estado, Manoel Antunes, também do GAECO, além do apoio do promotor João Paulo Gabriel de Souza, do GAECO/MPSP.

De acordo com o Ministério Público, os produtos da fábrica de Taquara eram distribuídos em todo o Brasil e até para a Venezuela. Recentemente, a empresa venceu licitações para fornecer laticínios a escolas de uma cidade paulista.

Sobre os lotes de produtos adulterados, o MP informou que, embora análises iniciais tenham detectado substâncias nocivas à saúde humana, além de sujeiras e "pelos indefinidos", aguardam-se exames mais detalhados para identificar precisamente quais lotes estão contaminados, considerando o aprimoramento da fórmula de adulteração.

Entre os detidos, o diretor administrativo da empresa foi flagrado com uma arma de fogo de numeração raspada. Além disso, uma funcionária foi presa em flagrante na fábrica por embaraço de investigação, por avisar colegas, por mensagem, para esconderem seus celulares. Em São Paulo, uma prisão também ocorreu em São José do Rio Preto.

Em nota, o advogado Nicholas Horn, que representa Sérgio Alberto Seewald, afirmou que ele não tem qualquer relação formal ou informal com a empresa Dielat. "Trata-se, pois, de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade. Todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas", disse o advogado.

O Terra solicitou nota a Dielat, mas não obteve nenhum retorno. 

Fonte: Redação Terra
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