Quem é Gordão, traficante do PCC preso que se inspirava em Pablo Escobar
Também conhecido como Gold ou Gordo, ele é um dos líderes do Narcosul, cartel da droga da facção paulista e de suas associadas; suspeita é de que ele tenha ficado foragido na Bolívia
Preso pela Polícia Civil de São Paulo nessa segunda-feira, 5, Anderson Lacerda Pereira - conhecido como Gordo, Gordão ou Gold - tem sido apontado em investigações como um dos líderes do Narcosul, cartel de droga do Primeiro Comando da Capital (PCC) e de seus associados.
Anderson é acusado de ter montado 38 clínicas médicas e odontológicas que eram usadas para lavar o dinheiro obtido com o tráfico de drogas para o exterior. Ele participou das primeiras negociações de expansão internacional do PCC e vendia entorpecentes até com a máfia italiana. O criminoso chegou ainda a dominar os contratos da área de Saúde da cidade de Arujá, na Grande São Paulo e usava até criptomoedas em algumas operações. Ele faz parte do grupo que cresceu na Baixada Santista e teve relações estreitas com a estiva do Porto de Santos.
Desde 2020, o nome de Lacerda - que agora foi detido em Poá, na região metropolitana da capital paulista - estava na lista de procurados da Interpol. Naquele ano, a polícia já havia encontrado pistas de uma passagem sua pelo Recife. Ele deixou às pressas seu apartamento antes da chegada dos policiais que cumpriam mandados de busca e prisão da Operação Soldi Sporchi (dinheiro sujo). Os materiais apreendidos revelaram o perfil de Gordo, que se inspira em grandes traficantes mexicanos e colombianos, como Pablo Escobar.
Foram encontrados no local livros como O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, e Minha Vida com Pablo Escobar, de Jhon Jairo Velasquez, o Popeye. Gordão também se dedicava à gestão dos negócios e a estudar matemática financeira.
Outra história que despertou interesse do chefe do PCC é a de Amado Carrillo Fuentes, o Senhor dos Céus, nascido em Guamuchilito, em Sinaloa (México). Esse criminoso foi o responsável por montar uma grande frota de aviões para trazer a cocaína colombiana do cartel de Medellín até o México na década de 1980. Foi com o nome da cidade natal de Fuentes que Gordão batizou um de seus sítios. Ele criou até uma logomarca para o local.
Também foi encontrado um arquivo com uma música que Gordo dizia ter mandado gravar. Inspirado nos "narcocorridos", ele encomendou no México a gravação, conforme a polícia, da música em sua homenagem. O corrido é um ritmo mexicano, usado pelos traficantes, como o funk no Rio. Muitos dos negociadores de drogas - como mostrado na série Breaking Bad - são "homenageados" com essas músicas.
Em celulares apreendidos pela polícia, também foram achadas fotos de aviões sendo inspecionados na Bolívia. Uma pasta trazia os arquivos com fotografias de passeios feitos por Gordo e sua família no país vizinho. As imagens mostra, por exemplo, testes sobre a pureza da cocaína e encontros de negócios em um restaurante.
Traficante criava jacarés e escreve poesias
Gordão ainda copiou de Pablo Escobar um zoológico em uma de suas propriedades, com jaulas, viveiros e até um lago, onde criava jacarés. A polícia suspeita que essa área era usada inclusive para desova de corpos.
As mensagens apreendidas revelam ainda a rota de venda de entorpecentes mantida pelo Narcosul entre as Ilhas Canárias e a África, além de exibir dados sobre a presença do PCC em 12 países, incluindo seis europeus (Portugal, Espanha, Holanda, Suíça, França e Itália).
As apreensões ainda apresentam outra paixão de Gordo, a poesia. Os textos encontrados pela polícia tratam de sua vida, amores, de sua mãe e do crime. Um dos textos fala em "viver entre o amor e o ódio em um ambiente estranho" e outra traz a seguinte mensagem: "Oh, Deus ajude-nos a manter vivo o nosso ódio", concluída com a frase: "Mata, que Deus perdoa".