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Recompensa a quem matar tubarões em Ubatuba gera protestos

Postagem feita por dirigente do Tamoios Iate Clube fala em prêmio por captura de animais

26 nov 2021 - 19h01
(atualizado às 19h51)
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Uma postagem feita por um dirigente do Tamoios Iate Clube de Ubatuba oferecendo recompensa a quem capturar tubarões gerou polêmica e nota de repúdio assinado por 44 entidades ambientalistas do País. A postagem faz referência aos recentes ataques desses peixes a banhistas, em praias da cidade. O post afirma que, preocupada com possíveis danos ao turismo do município, a direção do Tamoios instituiu um prêmio pela captura ou eliminação do "organismo causador desses ataques".   

No dia 3 de novembro, um turista francês sofreu cortes na perna quando nadava na Praia do Lamberto. Já no dia 15, uma idosa, moradora de Minas Gerais, sofreu um corte de 25 cm na panturrilha quando se banhava na Praia Central de Ubatuba. Nos dois casos, especialistas concluíram que as lesões foram produzidas por ataques de tubarões. Na postagem, o dirigente do Tamoios afirma que o prêmio consistirá no valor mínimo inicial de R$ 20 por centímetro de comprimento do animal.

Ambientalistas criticam recompensa para caça de tubarões no litoral de SP
Ambientalistas criticam recompensa para caça de tubarões no litoral de SP
Foto: Alex Rose / Unsplash

As entidades lembram que os ataques não são comuns na região e o histórico de incidentes entre banhistas e tubarões ou outros peixes sempre foram casos que não levam a fatalidades, como os dois ataques recentes. E consideram "assustador" o fato de circular um e-mail de instituições desinformadas, promovendo uma caça com recompensa ao tubarão. "Esse incentivo é uma prática totalmente desnecessária e pode trazer efeitos muito piores para o equilíbrio dos mares paulistas, afinal, tubarões são peças-chaves no controle de águas-vivas, por exemplo", afirmam.

Segundo o documento, essa ideia "estúpida" já foi realizada no estado de Pernambuco e em países onde realmente ocorrem ataques sérios aos banhistas, e o que se observou foi um desequilíbrio nos mares que nada alterou quanto aos ataques. "Vale destacar que diversas espécies de tubarões vivem em nossa costa e muitas delas são proibidas de serem pescadas/caçadas por correrem risco de extinção", acrescenta.

Ainda segundo a nota, os tubarões já estão entre as espécies mais ameaçadas do planeta, em especial pela sobrepesca, pesca acidental, e não precisam de estímulo para serem predadas e odiadas pelo homem. "Vale reforçar que o Brasil é um dos maiores consumidores de carne de tubarão do mundo. O peixe que chamamos de cação nada mais é do que tubarão e arraia. Não podemos deixar que a desinformação ameace nossa biodiversidade", finaliza.

O episódio não é isolado. No último dia 23, a prefeita de Ubatuba, Flávia Paschoal (PL), publicou um vídeo, em suas redes sociais, negando que os dois turistas feridos quando se banhavam em praias da cidade tenham sido mordidos por tubarões. Contradizendo as informações dadas por especialistas, ela alegou que ninguém viu os peixes e que as notícias estavam prejudicando o turismo da cidade.

Na Câmara, um vereador chegou a pedir a revogação de um decreto municipal que cede a área onde está localizado o Instituto Argonauta, que monitora as praias da região e atua no resgate e reabilitação de animais marinhos. Especialistas vinculados ao instituto confirmaram que os ferimentos produzidos nas duas vítimas são compatíveis com mordidas de tubarões.

Através de sua assessoria, o comodoro (comandante) do Tamoios Iate Clube, José Jacyntho de Magalhães, informou que a mensagem postada não passava de uma ironia e que foi mal interpretada. Segundo ele, foi apenas uma brincadeira, feita de forma irônica, e que não será levada à frente.

Estadão
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