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RJ: alta de preço em áreas de UPPs leva moradores a invasões

12 abr 2014 - 18h03
(atualizado às 18h10)
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As famílias dizem não ter para onde ir depois de serem retiradas do prédio que pertence à Oi, na zona norte do Rio
As famílias dizem não ter para onde ir depois de serem retiradas do prédio que pertence à Oi, na zona norte do Rio
Foto: Daniel Ramalho / Terra

A chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) a comunidades antes dominadas pelo tráfico pode estar criando uma nova onda de conflitos para a cidade do Rio de Janeiro. O que se viu na sexta-feira na desocupação do antigo prédio da Telerj, no Engenho Novo, pode ser encarado como reflexo direto do encarecimento do preço dos aluguéis nas comunidades, justamente depois da chegada das UPPs.

“Antes eu pagava R$ 230, R$ 250 de aluguel. Agora estão querendo cobrar pela mesma casa R$ 450, R$ 500”, denuncia Antonio Francisco Silva, cearense que está há pouco tempo no Rio, mas que já saiu de onde morava, no bairro do Jacaré, para ser um dos ocupantes da chamada Favela da Telerj, criada há cerca de duas semanas em um terreno na avenida Dois de Maio, zona norte da cidade. Ontem, após ser expulso do local, ele dormiu na calçada em frente à sede da prefeitura, esperando uma solução para o seu problema e de mais cerca de 50 famílias que o acompanham no acampamento.

Para outra sem teto, Maria Regina, é impossível para quem ganha salário mínimo morar em favelas ocupadas pelas UPPs. “Tudo ficou muito caro. Era faxineira no Norte Shopping e não conseguia mais pagar aluguel e sustentar meus quatro filhos”, conta, dizendo que ficou desempregada e, por isso, decidiu deixar os filhos na casa de parentes no Mandela, outra comunidade com UPP. “Estou aqui só com a roupa do corpo. Tem nove dias que não vejo meus filhos. Minha menina de 7 anos fez aniversário e eu nem fui, porque estava no prédio da Telerj”, diz. “Queremos uma moradia digna, um teto. Não somos vândalos como disseram por aí, somos trabalhadores. Queremos uma solução”, desabafa.

Mas até agora ninguém apareceu na frente da prefeitura para dar alguma solução. Mais cedo, quando inaugurava obras do projeto Bairro Maravilha, em Santa Cruz, na zona oeste da cidade, o prefeito Eduardo Paes disse que a prefeitura está fazendo de tudo para ajudar as pessoas, desde que elas se cadastrem no projeto Minha Casa, Minha Vida.

“Fizemos um cadastro, mas só anotaram nome e telefone. Não sei se isso vai resolver alguma coisa”, disse, desconfiado, Francisco. De acordo com a assessoria do prefeito, 177 famílias se cadastraram ontem e vão ter seus pedidos analisados. Sobre o número de 5 mil pessoas que ocupavam a favela da Telerj contra as 150 que resistiam em frente à prefeitura, Antonio Francisco explicou: “Só está aqui quem realmente precisa. Quem corre atrás dos seus direitos”, disse, em referência às notícias de que muitos dos que estavam na ocupação queriam apenas lucrar com a venda de pedaços de lotes. “Não é bem assim. Muita gente foi para a casa de parentes e vai voltar para seguir nos protestos”, disse Juliete Pastore, que integra o movimento Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). “Estamos tentando coordenar as pessoas no Jacaré, Manguinhos, Mandela e Rato Molhado”, afirma.

Enquanto isso, são os próprios moradores que tentam se acertar e reunir doações que chegam, ainda em pouca quantidade. O Terra flagrou algumas discussões entre os acampados sobre a distribuição da água e do leite, já que são muitas as crianças no local. Apesar disso, o clima era de aparente tranquilidade. Para as crianças, o MLB pretende organizar uma espécie de creche, para fazer com que elas tenham algum tipo de atividade e para que os pais possam descansar. “Mas ainda estamos esperando alguém forte que venha dialogar conosco”, afirma Antonio Francisco. A prefeitura informou ao Terra que já ofereceu lugar para as pessoas em um abrigo municipal e espera que elas aceitem a proposta.

Ação da polícia

Francisca Isabel, irmã de Francisco, estava com ele na hora em que a polícia entrou no prédio da antiga Telerj para a desocupação. “Entraram sem fazer alarde, mandaram mulheres e crianças descerem na frente porque do lado de fora assistentes sociais fariam um cadastro e nos levariam para abrigos, mas nada disso aconteceu. Um primo nosso vinha saindo de mochila, um policial arrancou a mochila dele e jogou-a de volta para dentro de algum barraco”, conta, dizendo que, ao contrário do que disse a polícia, não tiveram tempo de levar nada. “Perdemos roupas, televisão e ventilador”, afirma. Antonio Francisco ainda tentou voltar no meio da tarde para recuperar pertences, mas foi impedido de entrar por policiais. “Só disseram que ninguém entrava mais e acabou.”

Fonte: Terra
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