A chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) a comunidades antes dominadas pelo tráfico pode estar criando uma nova onda de conflitos para a cidade do Rio de Janeiro. O que se viu na sexta-feira na desocupação do antigo prédio da Telerj, no Engenho Novo, pode ser encarado como reflexo direto do encarecimento do preço dos aluguéis nas comunidades, justamente depois da chegada das UPPs.
“Antes eu pagava R$ 230, R$ 250 de aluguel. Agora estão querendo cobrar pela mesma casa R$ 450, R$ 500”, denuncia Antonio Francisco Silva, cearense que está há pouco tempo no Rio, mas que já saiu de onde morava, no bairro do Jacaré, para ser um dos ocupantes da chamada Favela da Telerj, criada há cerca de duas semanas em um terreno na avenida Dois de Maio, zona norte da cidade. Ontem, após ser expulso do local, ele dormiu na calçada em frente à sede da prefeitura, esperando uma solução para o seu problema e de mais cerca de 50 famílias que o acompanham no acampamento.
Para outra sem teto, Maria Regina, é impossível para quem ganha salário mínimo morar em favelas ocupadas pelas UPPs. “Tudo ficou muito caro. Era faxineira no Norte Shopping e não conseguia mais pagar aluguel e sustentar meus quatro filhos”, conta, dizendo que ficou desempregada e, por isso, decidiu deixar os filhos na casa de parentes no Mandela, outra comunidade com UPP. “Estou aqui só com a roupa do corpo. Tem nove dias que não vejo meus filhos. Minha menina de 7 anos fez aniversário e eu nem fui, porque estava no prédio da Telerj”, diz. “Queremos uma moradia digna, um teto. Não somos vândalos como disseram por aí, somos trabalhadores. Queremos uma solução”, desabafa.
Mas até agora ninguém apareceu na frente da prefeitura para dar alguma solução. Mais cedo, quando inaugurava obras do projeto Bairro Maravilha, em Santa Cruz, na zona oeste da cidade, o prefeito Eduardo Paes disse que a prefeitura está fazendo de tudo para ajudar as pessoas, desde que elas se cadastrem no projeto Minha Casa, Minha Vida.
“Fizemos um cadastro, mas só anotaram nome e telefone. Não sei se isso vai resolver alguma coisa”, disse, desconfiado, Francisco. De acordo com a assessoria do prefeito, 177 famílias se cadastraram ontem e vão ter seus pedidos analisados. Sobre o número de 5 mil pessoas que ocupavam a favela da Telerj contra as 150 que resistiam em frente à prefeitura, Antonio Francisco explicou: “Só está aqui quem realmente precisa. Quem corre atrás dos seus direitos”, disse, em referência às notícias de que muitos dos que estavam na ocupação queriam apenas lucrar com a venda de pedaços de lotes. “Não é bem assim. Muita gente foi para a casa de parentes e vai voltar para seguir nos protestos”, disse Juliete Pastore, que integra o movimento Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). “Estamos tentando coordenar as pessoas no Jacaré, Manguinhos, Mandela e Rato Molhado”, afirma.
Enquanto isso, são os próprios moradores que tentam se acertar e reunir doações que chegam, ainda em pouca quantidade. O Terra flagrou algumas discussões entre os acampados sobre a distribuição da água e do leite, já que são muitas as crianças no local. Apesar disso, o clima era de aparente tranquilidade. Para as crianças, o MLB pretende organizar uma espécie de creche, para fazer com que elas tenham algum tipo de atividade e para que os pais possam descansar. “Mas ainda estamos esperando alguém forte que venha dialogar conosco”, afirma Antonio Francisco. A prefeitura informou ao Terra que já ofereceu lugar para as pessoas em um abrigo municipal e espera que elas aceitem a proposta.
Ação da polícia
Francisca Isabel, irmã de Francisco, estava com ele na hora em que a polícia entrou no prédio da antiga Telerj para a desocupação. “Entraram sem fazer alarde, mandaram mulheres e crianças descerem na frente porque do lado de fora assistentes sociais fariam um cadastro e nos levariam para abrigos, mas nada disso aconteceu. Um primo nosso vinha saindo de mochila, um policial arrancou a mochila dele e jogou-a de volta para dentro de algum barraco”, conta, dizendo que, ao contrário do que disse a polícia, não tiveram tempo de levar nada. “Perdemos roupas, televisão e ventilador”, afirma. Antonio Francisco ainda tentou voltar no meio da tarde para recuperar pertences, mas foi impedido de entrar por policiais. “Só disseram que ninguém entrava mais e acabou.”
Reintegração de posse em Engenho Novo, no Rio de Janeiro, é marcada por confronto e incêndios
Foto: Ale Silva / Futura Press
A tropa de choque se posicionou para ocupar a área do terreno da empresa de telefonia OI
Foto: Ale Silva / Futura Press
Alguns moradores deixaram o local pacificamente
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
Um carro da polícia foi incendiado por populares
Foto: Ale Silva / Futura Press
Um incêndio também consumiu o próprio prédio ocupado pelos invasores
Foto: Ale Silva / Futura Press
Fumaça é vista de longe
Foto: Ale Silva / Futura Press
Homem é detido pela Polícia Militar
Foto: Ale Silva / Futura Press
Morador é flagrado atirando pedras contra a tropa de choque
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
O prédio ocupado pegou fogo logo no início da desocupação
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
Houve confronto entre PMs e moradores, que se negaram a sair do local
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Cerca de 1,6 mil policiais militares participam a ação de reintegração de posse
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Helicóptero sobrevoa região do terreno da Oi que está sendo desocupado
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Ônibus pegou fogo em uma rua paralela à 2 de Maio, vizinha ao prédio da Oi. A fumaça do incêndio no ônibus entrou em várias quitinetes. Bombeiros resgataram moradores pelo telhado. Alguns chegaram a passar mal
Foto: André Naddeo / Terra
Mateus Gomes, 16 anos (sem camisa), mora com a mãe, a tia e a irmã em uma das quitinetes e conta que desmaiou com a fumaça. Minha janela pegou fogo e fiquei com medo de tudo explodir, porque são muitos bujoes de gás ali, disse. Mas fiquei preocupado mesmo com minha mãe, que está grávida. Na hora foi uma correria danada, relatou.
Foto: André Naddeo / Terra
Famílias retiram seus pertences de dentro de casa
Foto: André Naddeo / Terra
Sem ter para onde ir, moradores que deixaram o terreno empilham suas coisas em frente ao prédio
Foto: André Naddeo / Terra
Moradores escreveram seus nomes nos barracos, delimitando sua área dentro do terreno
Foto: André Naddeo / Terra
Barracos construídos pelas famílias que estavam no local ficaram abandonados
Foto: André Naddeo / Terra
Batalhão de Choque da Polícia Militar ocupa o terreno da Oi na zona norte do Rio após retirar todos os moradores do local
Foto: André Naddeo / Terra
A PM cerceou o trabalho da imprensa ameaçando jornalistas e prendendo um repórter durante desocupação no Rio
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Enquanto policiais passavam, alguns moradores xingavam os agentes
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais Militares fazem ronda sob o olhar de moradores do local
Foto: Mauro Pimentel / Terra
PM exibe armas e faz barreiras na favela do Rato Molhado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Moradores observam os policiais que ocupam a comunidade, que fica próxima ao terreno da Oi
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais revistaram moradores na favela do Rato Molhado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A comunidade fica ao lado do terreno da Oi, no Engenho Novo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Polícia ocupa a favela do Rato Molhado após a reintegração de posse do terreno da Oi
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Morador ergue as mãos após ser atingido por bomba de gás atirada pela polícia
Foto: André Naddeo / Terra
Cerca de 1,6 mil homens da Polícia Militar participaram da ação, que começou durante a madrugada
Foto: André Naddeo / Terra
Batalhão de Choque vai as ruas para impedir que novas ocupações aconteçam
Foto: André Naddeo / Terra
Mais de 2 mil pessoas estavam no local, de acordo com a Polícia Militar
Foto: André Naddeo / Terra
Moradora mostra pés e pernas feridos após a ação da polícia na desocupação do prédio da Oi
Foto: André Naddeo / Terra
O prédio, que estava abandonado, foi ocupado e loteado por moradores de diversas comunidades há pouco mais de uma semana
Foto: André Naddeo / Terra
Menino vítima do gás atirado por PMs é carregado por moradores na favela do Rato Molhado
Foto: André Naddeo / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Grupo diz que ficará no local até ser recebido pelo prefeito
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um terreno abandonado da empresa de telefonia Oi acampam em frente à sede da prefeitura municipal em protesto por moradia
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Homens, mulheres e crianças passaram a noite acampados em frente à prefeitura
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradores querem que a prefeitura do Rio apresente uma solução para as famílias
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As famílias dizem não ter para onde ir depois de serem retiradas do prédio que pertence à Oi, na zona norte do Rio
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Os moradores passaram a noite no local
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As famílias que foram expulsas do terreno da Oi acamparam em frente à prefeitura do Rio
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Manifestantes bloquearam a avenida Presidente Vargas e, para liberar a pista, os guardas municipais usaram bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar a multidão