RJ: desocupação de terreno da Oi tem confronto e incêndios
Moradores montaram barricadas e incendiaram veículos na região da ocupação. Entre os feridos, estão crianças que inalaram fumaças e policiais apedrejados
André Naddeo
11 abr2014 - 06h21
(atualizado em 16/7/2018 às 11h37)
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Um intenso confronto entre policiais e famílias que ocuparam, há duas semanas, um terreno que pertence à empresa Oi, no Engenho Novo, na zona Norte do Rio de Janeiro deixou vários feridos e dezenas de detidos nesta sexta-feira. Cerca de 1,6 mil policiais chegaram ao local ainda na madrugada, atuando na reintegração de posse
Por volta das 6h30, a população que mora no local ofereceu resistência e entrou em confronto com a tropa de Choque da Polícia Militar. Pelo menos cinco veículos foram incendiados, lojas foram saqueadas e bancos da região tiveram vidraças quebradas.
Alguns moradores reagiram e chegaram a jogar um coquetel molotov em direção aos militares. A polícia reagiu, atirou bombas de efeito moral e disparou tiros de borracha para dispersar os manifestantes que ocupam várias ruas do bairro. Entre os feridos estão moradores que inalaram fumaça e policiais apedrejados. Uma pessoa perdeu a visão de um olho.
A prefeitura interditou as principais ruas no entorno do bairro do Engenho Novo para facilitar o trabalho de remoção das famílias. A PM enviou reforço para o local, devido ao enfrentamento do lado de fora do terreno. Homens do Batalhão de Operações Especiais e do Grupamento para Grandes Eventos, criado recentemente, estão dando apoio à ação. Homens da Guarda Municipal e três helicópteros da PM também participam da operação.
No interior do prédio, que fica na Rua 2 de Maio e está abandonado há mais de dez anos, homens do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), usaram retroescavadeiras para destruir os barracos feitos pelos invasores, com tábuas de compensado.
O local, batizado informalmente como favela da Telerj, foi ocupado no final de março e, no último dia 4, a Justiça concedeu ordem de reintegração de posse favorável à empresa.
Ônibus é incendiado durante reintegração de posse no RJ:
Por volta das 7h20, o prédio principal do terreno começou a pegar fogo. Uma extensa coluna de fumaça podia ser vista de longe. Não há informações sobre a presença de feridos tanto no confronto como no incêndio, que foi extinto por volta das 7h40.
Alguns minutos depois, um carro da Polícia Militar e dois ônibus também foram incendiados no local. Mais tarde, outro ônibus e um caminhão foram incendiados.
Segundo o Corpo de Bombeiros, viaturas de sete quartéis participam da operação no local. Por volta das 9h30, a corporação confirmou a informação de que um menino de 9 anos havia sido atendido e liberado no local por inalação de fumaça. Às 10h, a Secretaria Municipal de Saúde informou que algumas pessoas foram encaminhadas com ferimentos leves ao hospital Salgado Filho, mas não soube confirmar o número de vítimas. De acordo com assessoria, entre elas estavam moradores que inalaram fumaça e policiais que foram atingidos por pedras.
Mais tarde, chegou a informação de que um bebê de seis meses foi socorrido pelos bombeiros até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Engenho Novo por inalação de fumaça tóxica. O estado de saúde da criança não foi informado.
Detidos
Um repórter do jornal O Globo foi detido e outros repórteres e fotógrafos que fazem a cobertura foram agredidos fisicamente e verbalmente. Um balanço divulgado pela Polícia Civil no início da tarde informou que ao menos 25 pessoas foram detidas e encaminhadas para 25ª DP.
Segundo a polícia civil, 21 pessoas, entre eles seis menores, foram detidas por suspeitas de furto ao supermercado Campeão, vizinho ao terreno. Outros dois foram pesos em flagrante por roubo ao deixar o supermercado com carrinhos de compras repletos de chocolates, bebidas e energeticos.
Segundo o delegado William Bezerra os suspeitos alegam que entraram no mercado para se proteger do tumulto. Eles estão sendo ouvidos e liberados. Do lado de fora da delegacia, parentes se aglomeram em busca de informações sobre os familiares.
Um homem foi ouvido e liberado, acusado de ter atirado uma pedra contra um ônibus e atingido o motorista. Outro morador foi preso por já ter um mandado de prisão por roubo.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) condenou a prisão do repórter Bruno Amorim, de O Globo. Segundo o órgão, o jornalista registrava imagens da ação da PM no terreno quando foi imobilizado com uma chave de braço e teve os óculos arrancados por um policial sem identificação. Levado a uma delegacia, teve o celular apreendido por mais de uma hora.
O repórter Leonardo Barros, também de O Globo, foi ameaçado com voz de prisão caso não “corresse” dali. Ao mesmo tempo, manifestantes que resistiam à desocupação atacaram veículos da TV Globo, do SBT e da Record. “A Abraji condena mais uma vez a ação violenta contra a imprensa. Ao prender Bruno Amorim e ameaçar com prisão outros repórteres, a PM do Rio presta um desserviço. Ao depredar automóveis dos meios de comunicação, manifestantes se unem à polícia no ataque ao direito à informação de toda a sociedade”, disse o comunicado.
Reintegração de posse em Engenho Novo, no Rio de Janeiro, é marcada por confronto e incêndios
Foto: Ale Silva / Futura Press
A tropa de choque se posicionou para ocupar a área do terreno da empresa de telefonia OI
Foto: Ale Silva / Futura Press
Alguns moradores deixaram o local pacificamente
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
Um carro da polícia foi incendiado por populares
Foto: Ale Silva / Futura Press
Um incêndio também consumiu o próprio prédio ocupado pelos invasores
Foto: Ale Silva / Futura Press
Fumaça é vista de longe
Foto: Ale Silva / Futura Press
Homem é detido pela Polícia Militar
Foto: Ale Silva / Futura Press
Morador é flagrado atirando pedras contra a tropa de choque
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
O prédio ocupado pegou fogo logo no início da desocupação
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
Houve confronto entre PMs e moradores, que se negaram a sair do local
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Cerca de 1,6 mil policiais militares participam a ação de reintegração de posse
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Helicóptero sobrevoa região do terreno da Oi que está sendo desocupado
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Ônibus pegou fogo em uma rua paralela à 2 de Maio, vizinha ao prédio da Oi. A fumaça do incêndio no ônibus entrou em várias quitinetes. Bombeiros resgataram moradores pelo telhado. Alguns chegaram a passar mal
Foto: André Naddeo / Terra
Mateus Gomes, 16 anos (sem camisa), mora com a mãe, a tia e a irmã em uma das quitinetes e conta que desmaiou com a fumaça. Minha janela pegou fogo e fiquei com medo de tudo explodir, porque são muitos bujoes de gás ali, disse. Mas fiquei preocupado mesmo com minha mãe, que está grávida. Na hora foi uma correria danada, relatou.
Foto: André Naddeo / Terra
Famílias retiram seus pertences de dentro de casa
Foto: André Naddeo / Terra
Sem ter para onde ir, moradores que deixaram o terreno empilham suas coisas em frente ao prédio
Foto: André Naddeo / Terra
Moradores escreveram seus nomes nos barracos, delimitando sua área dentro do terreno
Foto: André Naddeo / Terra
Barracos construídos pelas famílias que estavam no local ficaram abandonados
Foto: André Naddeo / Terra
Batalhão de Choque da Polícia Militar ocupa o terreno da Oi na zona norte do Rio após retirar todos os moradores do local
Foto: André Naddeo / Terra
A PM cerceou o trabalho da imprensa ameaçando jornalistas e prendendo um repórter durante desocupação no Rio
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Enquanto policiais passavam, alguns moradores xingavam os agentes
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais Militares fazem ronda sob o olhar de moradores do local
Foto: Mauro Pimentel / Terra
PM exibe armas e faz barreiras na favela do Rato Molhado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Moradores observam os policiais que ocupam a comunidade, que fica próxima ao terreno da Oi
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais revistaram moradores na favela do Rato Molhado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A comunidade fica ao lado do terreno da Oi, no Engenho Novo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Polícia ocupa a favela do Rato Molhado após a reintegração de posse do terreno da Oi
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Morador ergue as mãos após ser atingido por bomba de gás atirada pela polícia
Foto: André Naddeo / Terra
Cerca de 1,6 mil homens da Polícia Militar participaram da ação, que começou durante a madrugada
Foto: André Naddeo / Terra
Batalhão de Choque vai as ruas para impedir que novas ocupações aconteçam
Foto: André Naddeo / Terra
Mais de 2 mil pessoas estavam no local, de acordo com a Polícia Militar
Foto: André Naddeo / Terra
Moradora mostra pés e pernas feridos após a ação da polícia na desocupação do prédio da Oi
Foto: André Naddeo / Terra
O prédio, que estava abandonado, foi ocupado e loteado por moradores de diversas comunidades há pouco mais de uma semana
Foto: André Naddeo / Terra
Menino vítima do gás atirado por PMs é carregado por moradores na favela do Rato Molhado
Foto: André Naddeo / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Grupo diz que ficará no local até ser recebido pelo prefeito
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um terreno abandonado da empresa de telefonia Oi acampam em frente à sede da prefeitura municipal em protesto por moradia
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Homens, mulheres e crianças passaram a noite acampados em frente à prefeitura
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradores querem que a prefeitura do Rio apresente uma solução para as famílias
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As famílias dizem não ter para onde ir depois de serem retiradas do prédio que pertence à Oi, na zona norte do Rio
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Os moradores passaram a noite no local
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As famílias que foram expulsas do terreno da Oi acamparam em frente à prefeitura do Rio
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Manifestantes bloquearam a avenida Presidente Vargas e, para liberar a pista, os guardas municipais usaram bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar a multidão
Foto: Ale Silva / Futura Press
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Prefeito cancela agenda
A assessoria do prefeito Eduardo Paes (PMDB) informou que o político cancelou a sua agenda na parte da manhã e convocou uma reunião interna no gabinete da prefeitura. O prefeito iria participar de uma inauguração de um Centro de Atenção Psicossocial em Bonsucesso, voltado para o atendimento da população do Complexo da Maré, ocupado recentemente por forças de segurança.
Ocupação
A grande maioria das pessoas que ocupam o prédio decidiu invadir o imóvel para fugir da alta dos aluguéis, que teria disparado nas comunidades, principalmente depois dos processos de pacificação. "O objetivo de todos é a moradia, porque nós não estamos em nenhum projeto social do governo. Eu precisei sair da minha comunidade, o Jacarezinho, porque o aluguel ficou muito puxado. Eu ganho R$ 700 e pago R$ 400 de aluguel. O resto dá para comer o mínimo", disse o mecânico Adriano Rodrigues de Oliveira, no último dia 8.
Na tarde de terça-feira uma reunião entre a juíza responsável pelo caso, oficiais da Polícia Militar, representantes da Defensoria Pública, da prefeitura e dos moradores da área ocupada foi feita, mas terminou sem acordo.