RJ: pais lutam para criar bebê após despejo de prédio da Oi
Com fraldas contadas, desempregados vivem em calçada em frente à prefeitura do Rio
No meio da confusão de moradores sem-teto que ocupavam uma calçada ao lado da prefeitura do Rio de Janeiro, o pedreiro desempregado Carlos Alessandro Souza Gomes, 34 anos, tentava aquecer o pequeno Carlos Alessandro Júnior, de apenas 2 meses de vida, após dar mamadeira para ele. A terça-feira estava fria e o pedreiro, sentado em um fino colchonete no chão, lamentava que as roupas do caçula tenham se molhado com a chuva. As roupas, assim como o carrinho do bebê, foram as poucas coisas que ele e a mulher conseguiram trazer do barraco em que moravam em um prédio da Oi na zona norte da capital, conhecido como favela da Telerj. O edifício foi desocupado na última sexta-feira pela polícia após ação com resistência dos sem-teto, que acabou em veículos queimados, saques e feridos. Com dezenas de outros sem-teto, ele decidiu acampar na sexta-feira nas proximidades da prefeitura para reivindicar a sua inclusão em programas de habitação popular.
Depois de passar noites dormindo no gramado em frente à prefeitura e em um pequeno hotel no centro graças à ajuda de desconhecidos, Gomes parecia sereno em meio aos ânimos exaltados de outros sem-teto que dividiam a calçada com ele. Na terça, chegou a haver tumulto com guardas municipais: os sem-teto jogaram pedras nos agentes de segurança que cercavam a prefeitura quando souberam que uma reunião com o governo municipal acabou sem avanços. Além disso, os sem-teto brigavam a cada doação que chegava na calçada. "Criar um filho assim é se sentir de mãos atadas", disse. No carrinho do bebê, duas garrafas de água, duas latas de leite para a criança e algumas fraldas. Tudo doado. "Tenho apenas quatro fraldas, que doaram. Deve ser o suficiente para até as 23h", disse, por volta das 18h da terça-feira.
Gomes decidiu morar no prédio da Oi depois de ouvir amigos sobre a ocupação. Ele pagava R$ 500 de aluguel, mas como a dona do imóvel pediu a residência de volta, resolveu investir o dinheiro que deveria dar à proprietária em madeiras para construir um barraco na favela da Telerj. Agora, disputa as doações que chegam aos sem-teto que vivem na calçada e não acredita que seu problema de moradia vá ser resolvido rapidamente. "Até sair uma solução, onde vamos morar?", questiona.
A mulher de Gomes, Fernanda Aldeia, 34 anos, resolveu não assinar um papel da prefeitura em que solicita cadastro no programa Minha Casa, Minha Vida. A auxiliar de serviços gerais desempregada quer uma providência mais rápida: uma bolsa da prefeitura para pagar aluguel. "Quero receber o aluguel-social. Se a gente assinar esse cadastro para o Minha Casa, Minha Vida, tenho medo que eles não deem o aluguel social. O Minha Casa, Minha Vida demora muito para sair", afirmou Fernanda.
Fernanda e Gomes têm outros quatro filhos, com idades entre 3 anos e 16 anos, que moram com as avós. "É difícil criar assim uma criança tão pequena, que precisa de comida e roupas. A gente não dorme. Temos medo de roubarem nosso filho na rua", diz Fernanda. Apesar de todas as dificuldades, ela diz que acredita em um futuro melhor para a criança. "A esperança é a última que morre", afirma.