RJ: vídeo flagra PM atirando contra homem e moradores de comunidade após chacina
Momento foi registrado por um assessor parlamentar, logo após ação policial que deixou mais de 20 mortos na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio
Um homem flagrou o momento em que um policial militar do Batalhão de Operações Especiais (Bope) atira contra ele e moradores da comunidade Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro, após um desentendimento entre os PMs e uma moradora. O episódio aconteceu na última terça-feira, 24, mesma data em que foi realizada a ação policial que deixou ao menos 25 pessoas mortas no local.
Nas imagens, gravadas de um celular (veja abaixo), é possível ouvir uma das moradoras da comunidade dizendo: "Moço, você falou que era meia hora, tá? Você mentiu, não tem palavra. Sem palavra". Em seguida, um dos policiais se volta em direção à mulher e a questiona: "Tu falou o que? Eu sou o que? Repete aí".
— Dani Monteiro 🌻🥖💉📚 (@danimontpsol) May 25, 2022INACEITÁVEL!
Policial atirando pra cima de moradores!
É grave e cruel como moradores de favela são tratados como vemos nesse vídeo durante a chacina promovida ontem no Complexo da Penha. + pic.twitter.com/ghHuakWj3E
Após o policial questionar a moradora, o homem que está gravando as imagens se posiciona: "Tá tranquilo, irmão! Tá tranquilo!", diz ele. Mas o rapaz é intimidado pelo PM, que o manda "ficar quieto".
O vídeo ainda mostra que outros policiais aparecem e retiram o agente que estava discutindo com a moradora do local, porém, segundos depois, um dos PMs retorna e atira na direção em que estavam os moradores e o homem que fazia a gravação. Todos correram após o disparo.
Nas redes sociais, a deputada estadual Renata Souza lamentou o ocorrido e afirmou que a gravação foi feita pelo seu assessor parlamentar.
"Absurdo! Policial atirou contra meu assessor parlamentar e moradores no Complexo da Penha. A pena de morte é aplicada pelo braço armado do Estado todos os dias nas favelas. Não há dúvidas que Cláudio Castro [governador do Rio de Janeiro] tem as mãos sujas de sangue!", escreveu.
O assessor também se posicionou em seu perfil pessoal.
"Hoje fiquei, literalmente, a um metro de tomar um tiro. E não seria bala perdida, porque o policial do Bope parou a 5 metros de mim, mirou o fuzil e atirou. Eu estava ao lado de um dos corpos dos chacinados na Vila Cruzeiro e ele fez isso com a pu** intenção de aterrorizar", lamentou, por meio de um tuíte.
Em nota enviada ao Terra, a Polícia Militar afirma que Corregedoria-Geral da PM acompanhará as apurações, a cargo da Polícia Civil, sobre as ocorrências da operação.
Chacina na Vila Cruzeiro
A ação policial na Vila Cruzeiro já é considerada a segunda mais letal em um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL), ficando atrás da ação na favela do Jacarezinho, com 28 óbitos. Além das mortes já contabilizadas, o Hospital Estadual Getúlio Vargas afirmou que quatro pacientes seguem internados, sendo um em estado grave e três estáveis.
Outra vítima foi transferida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP). A Secretaria de Estado da Saúde informou ainda que os corpos estão sendo encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) da Secretaria de Estado de Polícia Civil.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro confirmou, por meio de comunicado oficial, que uma pessoa morreu atingida por um disparo em Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro. A vítima foi identificada como Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos. Ela estava dentro de casa.
A PM informou ainda que a ação foi executada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro para impedir o movimento de criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV) da Vila Cruzeiro para a Rocinha, na zona sul do Rio. Segundo a PM, as equipes se preparavam para a operação quando criminosos começaram a fazer disparos de arma de fogo na parte alta da comunidade. "Uma pessoa foi ferida na Chatuba, uma comunidade fora da área da operação, e veio a óbito no local", alega.
A nota ainda traz dados sobre o resultado da operação: "Onze criminosos foram localizados feridos e houve apreensão de 13 fuzis, quatro pistolas e 12 granadas, além de drogas a serem contabilizadas".