‘São medidas punitivas e não técnicas’, diz padre Júlio Lancellotti sobre muro na Cracolândia em SP
Líder religioso se colocou à disposição para mediar conversas com a Prefeitura de São Paulo
Coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti definiu como “simplista” e “punitiva” a criação de um muro na Cracolândia, em São Paulo. A estrutura de cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura tem como objetivo delimitar e conter a área onde se concentram os usuários de drogas no centro da capital.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
“É uma iniciativa simplista, que quer excluir, e não ter possibilidade. Qual é o sentido terapêutico de fazer um muro desse? Qual é o sentido humano? De resgate da dignidade humana dessas pessoas? Isolar, tirar a visão, esconder as pessoas. Neste sentido, é uma coisa simplista, que não vai trazer retorno algum”, disse em conversa com o programa Terra Agora, do Terra, desta quinta-feira, 16.
O padre também criticou outras medidas no local do isolamento. Segundo Lancellotti, as pessoas não têm sequer acesso à água no local.
“Além de tudo, disseram que a alimentação será só em determinado lugar. São medidas punitivas, e não técnicas, humanas, de solidariedade ou de rompimento com o isolamento. Sem interação, não há possibilidade de tratamento, de superação e humanização. No momento em que estávamos com eles, partilhando o alimento, eles pediram muita água. É desumano você negar água", continuou.
Ao questionar a criação do muro, o padre apontou tratamento com equipes multidisciplinares e o combate ao tráfico de drogas como medidas para a Cracolândia.
“Tem dois pontos importantes. Um deles é o tratamento e terapia, que envolve equipes multidisciplinares. Mas, também, teríamos que coibir o tráfico. Como é que a droga chega lá? Alguém passa por cima do muro? Passam por onde os carros da polícia estão? Pronta? Pelo ralo?”, questiona o líder religioso.
Lancellotti também colocou a Pastoral do Povo de Rua de São Paulo à disposição para mediar conversas com a Prefeitura de São Paulo para encontrar uma solução para a região.