Flavio Azevedo, 20 anos, mora no Capão Redondo e ainda pretende fazer faculdade de fisioterapia. Enquanto isto não acontece, ele trabalha e frequenta rolés em bairros de São Paulo para se divertir. Segundo ele, rolés já acontecem há anos em bairros periféricos de São Paulo - não só em shopping centers, mas em ruas e praças, e sempre na mira dos policiais.
"A polícia diz que a gente atrapalha eles, mas eles atrapalham a gente. Os caras já chegam tacando bomba, bala de borracha e gás, principalmente na rua. Não precisava disso", disse à BBC Brasil.
Flavio afirma que os eventos - que continuam sendo marcados por adolescentes, mesmo após os episódios de repressão policial e a proibição de alguns shopping centers - deveriam ser defendidos pelas autoridades.
"A gente trabalha e chega o final de semana a gente quer curtir, quer conhecer alguém, quer se divertir como qualquer pessoa. Deveriam fazer uma lei pra isso. A gente é jovem, quer curtir mesmo. Se eles não liberarem pra a gente fazer nossos rolés, a gente vai acabar fazendo protesto, como muitos protestos existem", afirmou.
Para ele, que trabalha como montador de móveis planejados e quer comprar uma moto, o "funk ostentação", tipo de música que faz sucesso entre jovens da periferia, mostra um caminho honesto para ter poder de consumo: "As músicas falam de crescer na vida, mesmo pelo funk", disse. "Quando eu comprei o meu tênis, minha mãe quase teve um treco, mas é meu dinheiro. Muitas pessoas ostentam roubando, mas o que vem fácil, vai fácil. A gente trabalha, a gente sua."
Flavio foi com dois amigos ao parque Ibirapuera no sábado, dia 18, para o evento que tinha cerca de 3 mil confirmados no Facebook. O rolé do parque, no entanto, teve muitos jornalistas e pouco menos de 50 participantes, segundo a Guarda Civil, que havia reforçado o policiamento.
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Diante das promessas de "rolezinho", o estabelecimento fechou as portas no domingo
Foto: Paulo Campos / Futura Press
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Clientes e manifestantes não conseguiram entrar no estabelecimento
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Pablo Capilé, do coletivo Fora do Eixo, participa da manifestação
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Uma tentativa de rolezinho terminou em churrasco no shopping Leblon, no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Porto Alegre) - "É decepcionante que tem mais policiais que manifestantes. Não somos sequer um movimento: somos um grupo de pessoas que se reuniu pelo Facebook", disse o organizador Fábio Fleck
Foto: Luís Felipe dos Santos / Terra
19 de janeiro (Porto Alegre) - Um segundo "rolezinho", com cerca de 10 pessoas com camisetas da União da Juventude Socialista (UJS), movimento estudantil ligado ao PCdoB, também compareceu. Algumas lojas fecharam as portas
Foto: Luís Felipe dos Santos / Terra
19 de janeiro (Porto Alegre) - Cerca de 20 pessoas participaram neste domingo do "rolezinho" no Moinhos Shopping, em Porto Alegre. No Facebook, havia mais de 500 confirmados no evento
Foto: Daniel Boucinha / Futura Press
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - A Justiça proibiu o ato e a administração do estabelecimento resolveu fechar as portas ao público com receio de violência
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Um grupo de amigas, em forma de protesto por não poder entrar no shopping, trouxe a praia para a calçada, com cadeiras, canga, revista e baralho. Eu iria participar do rolezinho, mas como a gente não pode se manifestar, vou ficar aqui, jogando o meu baralho, acho que isso eu posso fazer, né?, ironizou a figurinista Sabrina Magalhães
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Com cerca de nove mil presenças confirmadas nas redes sociais, o rolezinho do Shopping Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, teve baixa adesão, na tarde deste domingo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Segurança vigia shopping fechado no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Dois centros de compras fecharam as portas devido a um "rolezinho" que ocorreria em um deles neste domingo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Um "rolezinho" acabou por se transformar em protesto no Shopping Plaza, em Niterói, na noite de sábado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Ao contrário do "grito de liberdade" da periferia que marcou os atos de São Paulo, o tom foi político, com gritos contra o governador Sérgio Cabral e o tradicional "não vai ter Copa (do Mundo)"
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Logo no início do ato, ocorreu um princípio de confusão, com manifestantes tentando entrar em lojas, e seguranças impedindo, além de correria no prédio.
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Assustados, muitos clientes do shopping entraram nas lojas, com medo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Não houve, contudo, nenhum ato de violência e a Polícia Militar sequer se fez presente nas mediações do Shopping Plaza.
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Cerca de 30 pessoas participaram do movimento
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Os manifestantes gritavam ainda frases "estamos na rua e a luta continua" e "amanhã vai ser maior"
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Eles cantaram funks antigos do Rio de Janeiro e foram acompanhados todo o tempo por cerca de 20 seguranças, muitos deles à paisana
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Seguranças acompanham rolezinho no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Muitas lojas fecharam as portas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Clientes questionaram o que estava acontecendo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - "Rolezinho" vira protesto com princípio de confusão em Niterói.
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - "Se fosse um bando de playboyzinho, como colocam nos filmes, aquela loja ali não estaria fechada", apontou PH Lima, 25 anos
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro - Alguns vendedores chegaram a protestar contra o ato. Um deles chegou a fazer um cartaz: "Eu ganho por comissão, obrigado, rolezinho"
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - As lojas fechavam as portas conforme os ativistas se aproximavam
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Os ativistas gritavam frases como "não vai ter copa", "estamos na rua e a luta continua" e "amanhã vai ser maior"
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Em meio ao protesto, ocorre uma discussão sobre racismo
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Cerca de 20 seguranças acompanharam o ato - muitos à paisana
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Ativistas tentam entrar em cinema e são barrados por seguranças
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Manifestantes deixando prédio do shopping em Niterói
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) -Marcado como "rolezinho", protesto teve princípio de confusão no Shopping Plaza, em Niterói (RJ)
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Segundo a polícia, esses jovens foram citados, o que quer dizer que, se eles voltarem a ser encontrados em "atitudes suspeitas", podem ser notificados e multados em até R$ 10 mil. No caso dos menores, os notificados serão os pais
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - No Shopping Center Norte, na zona norte de São Paulo, o "rolezinho" acabou não acontecendo. O evento estava marcado para as 16h. Antes desse horário, já havia policiais civis aguardando o grupo no local. Os agentes afirmam que têm um dossiê feito a partir de informações retiradas de perfis no Facebook.
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - "Levei ameaças de seguranças, falando que iam quebrar minhas pernas e arrancar minha cabeça", complementa
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - "Eu já estava indo embora porque os policiais falaram que não era para a gente ficar parado, que era para circular", diz um dos adolescentes, identificado como R.A., 17 anos
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Policiais abordaram um grupo de jovens que queria participar de um rolezinho no Shopping Center Norte, popular centro comercial na zona norte de São Paulo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Na zona sul da capital paulista, um grupo protestou contra o racismo em um rolezinho no shopping JK Iguatemi
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - utilizando até faixas em inglês, o grupo pediu o fim do racismo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Movimento social reclamou da liminar que proibiu a realização de rolezinhos no shopping de luxo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - O shopping fechou as portas, com os clientes dentro, impedindo a entrada dos manifestantes
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Grupo levou faixas e bandeiras para o encontro
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) -Com palavras de ordem, manifestantes protestaram em frente ao estabelecimento
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro - O ato ganhou tom político e não teve a participação tradicional dos jovens que iniciaram o movimento na periferia de São Paulo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - A ONG Uneafro participou do evento
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Basta de apartheid, diziam os jovens
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Manifestantes tentaram entrar no prédio com instrumentos musicais
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Faixa usada pelo grupo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - O ato durou cerca de duas horas
Foto: Marcelo Pereira / Terra
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Protesto pacífico
Seu amigo Lucas Ávila, 18 anos, acredita que marcar rolezinhos é "um tipo de protesto pacífico nosso, para a gente ter o nosso espaço". "Todo mundo já ia para o shopping se encontrar. Só porque aumentou a quantidade a polícia começou a interferir e começou a dar esse tumulto todo. Aí o pessoal acabou se revoltando e querendo fazer essas manifestações de protesto, para conseguir alguma coisa para a gente", diz.
Rolezinho em shopping do Rio tem bate-boca e correria:
Os jovens dizem apoiar as manifestações de ativistas e movimentos sociais contra o que chamam de discriminação e segregação social em shopping centers de São Paulo, mas não participaram de nenhum deles. "Foi igual àquele negócio que teve da condução (os protestos contra o aumento das tarifas de ônibus). Sempre tinha aquelas pessoas fazendo aquele protesto ali e insistindo. E acabaram conseguindo a diminuição. Eu acho que a se a gente continuar insistindo, a gente vai acabar conseguindo nosso espaço", disse Lucas.
O jovem, que é instalador de pisos, gosta de usar roupas de marca e diz que quer comprar seu carro ainda esse ano. Mas, no futuro próximo, ele quer ir à faculdade e tornar-se chefe de cozinha.
Pouca adesão
Durante o fim de semana, rolés foram marcados por adolescentes no parque Ibirapuera, no shopping Center Norte e no shopping Tatuapé, em São Paulo. Nenhum dos três eventos teve muitos participantes, mas contou com presença maciça de jornalistas.
Vídeo mostra reunião de jovens para 'rolezinho' em shopping de luxo:
No shopping Center Norte, os adolescentes organizadores do evento foram abordados por policiais antes mesmo de entrarem no centro comercial. Um deles, Caique Gonçalves, recebeu uma notificação judicial. O documento previa o pagamento de uma multa de R$ 10 mil reais por dia, caso o evento fosse realizado.
Um rolé de protesto marcado em um shopping de elite paulista no sábado também não chegou a acontecer porque o centro comercial fechou as portas.
No Rio de Janeiro, o shopping Leblon - onde foi marcado rolezinho com cerca de 9 mil confirmados - também decidiu fechar as portas para evitar o evento, depois que uma decisão judicial derrubou a liminar que proibia o evento.
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