Sequestro no RJ: homem achou que estava cercado por policiais ao comprar passagem
Investigado possui anotação criminal por crime de roubo em 2019; vítimas o reconheceram em imagens e denunciaram outros roubos recentes
O homem que sequestrou um ônibus na Rodoviária do Rio de Janeiro nesta terça-feira, 12, e manteve passageiros reféns por 3 horas afirmou à polícia que acreditou que já estava sendo cercado por agentes desde o momento em que comprou a passagem. As informações foram dadas pelo delegado Mário Andrade, da 4ª DP (Praça da República), em entrevista à TV Globo.
O investigado, identificado como Paulo Sérgio de Lima, afirmou na delegacia que tinha ligação com o Comando Vermelho na Muzema. Segundo ele, durante uma briga, baleou um traficante da Rocinha, área também de domínio da facção, e com medo, decidiu fugir para Minas Gerais. O ônibus sequestrado tinha o estado como destino.
No entanto, a versão dele ainda é investigada pela Polícia Civil. Outra linha de investigação é a ocorrência de roubos pela região e Paulo Sérgio estar em fuga porque havia sido descoberto pelo tráfico. Segundo informações, a facção não tolera roubos nas comunidades de seu domínio.
Dinâmica do sequestro
Câmeras de monitoramento flagraram Paulo Sérgio no guichê da Viação Sampaio às 13h51 de terça. Em seguida, com dinheiro em espécie, ele comprou a passagem do semileito para Juiz de Fora (MG). O ônibus sairia às 14h30.
"Ao efetuar o pagamento, Paulo tirou um saco de dinheiro e achou que aquilo ali chamou a atenção de algumas pessoas, que para ele seriam policiais", afirmou o delegado à TV Globo.
Segundo a autoridade policial, quando ele embarcou dentro do ônibus, cismou que tinham passageiros que eram policiais.
"Houve a falha mecânica. O motorista pediu auxílio e saiu do coletivo. Paulo achou que, nesse momento, os policiais iriam pegá-lo. Foi quando vieram passageiros, que estavam entrando no ônibus, ele achou que seriam policiais e fez menção de entregar a arma. Um se assustou e saiu correndo, e Paulo efetuou os disparos", explicou o delegado.
Os disparos de arma de fogo atingiram um passageiro de 34 anos, que foi internado em estado grave no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, e transferido para o Instituto Nacional de Cardiologia. Uma outra vítima recebeu atendimento no posto ambulatorial da própria rodoviária.
Investigações e depoimentos
Em nota enviada ao Terra, a Polícia Civil informou que, de acordo com a 4ª DP (Praça da República), os passageiros que permaneceram no ônibus foram ouvidos, assim como o motorista, e as demais vítimas também prestarão depoimento. Imagens de câmeras de segurança da rodoviária estão sendo analisadas e outras foram solicitadas. Foi realizada perícia no local.
Ainda segundo a delegacia, o autor foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio, cárcere privado e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Ele possui anotação criminal anterior no Rio de Janeiro, por crime de roubo em 2019. A delegacia está em contato com a Polícia Civil de Minas Gerais para checar os antecedentes dele naquele estado.
Durante o registro da corrência, duas vítimas de um roubo ocorrido no domingo, 10, compareceram à unidade policial, após reconhecerem o preso em imagens veiculadas pela imprensa. O fato foi registrado e um dos bens roubados das vítimas - um cordão - foi devolvido, ao ser encontrado entre os pertences do detido.
"Ele foi autuado pelo crime. A 4ª DP reforça a importância de outras possíveis vítimas procurarem a delegacia para registrarem o crime. As investigações seguem em andamento", acrescentou a Polícia Civil.
O que diz a rodoviária
A Rodoviária do Rio amentou o episódio envolvendo um dos veículos da Viação Sampaio em uma de suas plataformas centrais. Confira o posicionamento na íntegra:
"O ônibus seguiria para Juiz de Fora no horário de 14h30. Foram 37 passagens vendidas para os assentos executivos na parte superior e seis no leito da parte inferior. No momento, somente 17 estavam no interior do veículo e a ação do sequestrador se iniciou por volta de 15h. Prontamente a concessionária que administra o terminal, assim como a viação UTIL acionaram as forças de segurança pública, que chegaram imediatamente, incluindo policiais da PM, do Bope e Corpo de Bombeiros. A vítima baleada pelo criminoso foi atendida imediatamente.
Após a determinação do Bope para a evacuação completa do terminal, com direcionamento do público para a área externa, a ação policial de negociação terminou com a prisão do elemento e a liberação dos reféns. Durente as 3 horas de suspensão das operações da rodoviária, a concessionária montou um esquema especial para o desembarque dos ônibus que chegavam ao Rio de Janeiro e, de 15h ate às 19h30, os desembarques passaram a ocorrer no Terminal Gentileza (TIG) - operação em parceria com a Secretaria Municipal de Transportes, CET Rio e CCPar.
As forças de segurança liberaram a abertura da Rodoviaria do Rio ao público por volta de 19h30. Aqueles que permaneceram aguardando no lado de fora entraram no terminal e as operações foram normalizadas pelas viações.
O movimento hoje está normal. Ontem, durante o episódio, orientamos a todos com passagens compradas para hoje que remarcassem seus bilhetes frente ao ocorrido e as 41 viações farão as trocas e cancelamentos sem prejuízos aos viajantes. Quem tiver algum problema pode procurar o atendimento da ANTT e do Detro, que possuem postos no desembarque superior.
Reiteramos que desde o início da ocorrência acionamos imediatamente as autoridades policiais (Bope e PM), assim como o Corpo de Bombeiros. A Viação Sampaio também lamentou o ocorrido e prestou atendimento imediato junto às vítimas e suas famílias.
Hoje, uma mobilização da Viação Sampaio e com apoio da rodoviária mobilizou o envio de ônibus com funcionários das duas empresas para contribuir na doação de sangue para ajudar o passageiro atingido e também para reposição dos estoques do Hemorio, conforme orientação do secretário municipal de Saúde.
Dos passageiros que estavam no ônibus sequestrado ontem, 11 embarcaram na garagem da Sampaio para então seguir para Juiz de Fora. Um passageiro foi levado em um veículo da empresa para casa, no Rio de Janeiro. Outro casal preferiu ir para a casa de parentes no Rio e só viajar depois.
Enquanto outros dois passageiros foram acomodados em um hotel. Os passageiros, incuindo o motorista, que foram levados de ônibus para Juiz de Fora, partiram por volta de 22h30. Todos estavam acompanhados pela psicóloga da empresa a todo momento".