Shantal diz que Kalil sugeriu abortivo contraindicado
Influenciadora acusa o médico obstetra Renato Kalil de lesão corporal na vagina durante o parto de sua filha
A influenciadora Shantal Verdelho fez o exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal), na última terça (21). Ela acusa o médico obstetra Renato Kalil de lesão corporal na vagina durante o parto de sua filha, Domênica, no dia 13 de setembro. A perícia irá apurar se as manobras feitas são consideradas inadequadas.
Kalil é investigado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), após o vazamento de um de um vídeo gravado pelo marido de Shantal, Mateus Verdelho, mostrando o médico gritando e falando palavrões na hora do parto. Em uma das mensagens ele diz que Shantal ficou "arregaçada", porque não quis fazer uma episiotomia —procedimento em que o períneo da mulher é cortado. A colunista Mônica Bergamo, da Folha, teve acesso ao que foi dito por Shantal.
A influenciadora não tem dúvidas de que o médico, responsável pelo seu parto, fez a chamada manobra de Kristeller, prática que consiste em pressionar a barriga da gestante para empurrar o bebê. O mecanismo, contraindicado pela OMS e pelo Ministério da Saúde, pode comprometer a saúde da mãe e do bebê.
No depoimento, Shantal disse que Renato insistiu para ela fazer o uso do Misoprostol, medicamento abortivo que serve para acelerar o trabalho de parto. Ela afirma à delegada que não aceitou fazer uso da droga após pesquisar a literatura médica e consultar outra obstetra e sua fisioterapeuta pélvica. Ambas teriam dito que ela poderia correr risco de vida. Elas serão ouvidas pela polícia nesta semana.
O advogado de Shantal, Sergei Cobra Arbex, não deu muitos detalhes e destacou que o processo corre sob sigilo e que não poderia comentar o conteúdo do depoimento. "Esperamos que tudo seja investigado e que a justiça seja feita", afirma.
Por outro lado, Kalil nega as acusações e comenta que o parto de Shantal ocorreu sem "qualquer intercorrência" e que o vídeo foi editado, com frases retiradas de contexto.
O advogado de Kalil, Celso Vilardi, comentou em nota, que as condutas do médico são "pautadas pelas boas práticas" e seguem integralmente os protocolos técnicos vigentes. E que "por respeito ao obrigatório sigilo profissional e por não ter tido acesso ao inquérito".
O vazamento e a repercussão do caso de Shantal levaram outras mulheres a denunciarem o médico. Quatro mulheres que não quiseram ser identificadas e a fotógrafa de partos Fernanda Sophia relataram os episódios. Os hospitais paulistanos São Luiz e Albert Einstein e o Ministério Público de São Paulo estão investigando as denúncias contra o médico.
A jornalista britânica Samantha Pearson, correspondente do jornal The Wall Street Journal no Brasil, disse ao jornal O Globo ter passado por episódios traumáticos de assédio moral no consultório de Kalil. Segundo ela, após o parto de seu primeiro filho, ela ouviu o médico dizer a seu marido que não se preocupasse porque havia "feito um ponto ali", referindo-se à vagina da paciente.