SP: 130 mil passam a enfrentar racionamento de água em Bauru
Cerca de 130 mil moradores de Bauru, no interior de São Paulo, passaram a enfrentar, a partir das 6h desta sexta-feira, o racionamento de água, que já é realidade em outras cidades do interior e na capital paulista. A medida foi anunciada pelo Departamento de Água e Esgoto (DAE), na tarde desta quinta-feira. Noventa e dois bairros são abastecidos pelo manancial do rio Batalha, o que corresponde a quase 40% do município.
De acordo com a autarquia, a medida tornou-se necessária em decorrência do longo período de estiagem e diante do nível crítico do reservatório do rio Batalha, que está com apenas 1,12 metro, quando o ideal seria 2,6 metros. Além disso, o aumento no consumo de água por conta das altas temperaturas e a baixa umidade do ar contribuíram, segundo o DAE, para o rebaixamento da represa.
Na prática, os bairros foram divididos em dois grupos (Vila Falcão/Bela Vista e região Central) que receberão água alternadamente durante 24 horas. Ou seja, enquanto um grupo é atendido, no outro o fornecimento é interrompido. O critério para definir o esquema de rodízio considera as manobras operacionais possíveis de serem feitas e obedecem a critérios exclusivamente técnicos, de acordo com o DAE.
O rodízio no abastecimento nos bairros atendidos pelo rio Batalha é, segundo o departamento, emergencial e temporário. Por conta da estiagem, 14 milhões de litros deixaram de ser produzidos por dia, o que equivale a uma redução de 30% no volume. Desde 2006 o nível do manancial não fica tão baixo devido à estiagem. Naquele ano, apesar do rio ter registrado nível de apenas 50 centímetros, não houve racionamento.
As demais regiões da cidade, que são abastecidas por água subterrânea (poços), não serão afetadas pela interrupção no abastecimento. Caso necessário, o Dae continua disponibilizando caminhões-pipa e, além disso, afirma ter projetos para a perfuração de mais poços artesianos.
“A população aumentou muito nessa região da cidade com os novos condomínios. Mas nenhum investimento foi feito durante anos. Assumi a um ano e oito meses a gestão e estamos comprando equipamentos porque nem isso tinha aqui para os funcionários trabalharem”, disse o presidente do DAE, Giasone Cândia, criticando administrações anteriores do departamento.
Ele frisa que a participação da população na economia de água é fundamental para que o racionamento não perdure.
“O poder público não consegue resolver isso sozinho. A população tem que ajudar parando de lavar calçada, quintal, ficando menos tempo no banho e fechando a torneira quando escova os dentes por exemplo. Precisa participar da solução do problema”, avalia.
Apesar do rodízio no abastecimento ter sido oficializado pelo Departamento de Água e Esgoto apenas nesta sexta-feira, muitos moradores relatam que a falta d’água existe há muito tempo na cidade e já seria um problema crônico.
Luis Ricardo Dias Barbosa, 27 anos, é vendedor em uma loja de celulares no Centro e mora em um condomínio de prédios no Parque União. Lá, o fornecimento de água tem sido insuficiente há pelo menos uma semana e meia. “A gente tem que comprar galões de água pra beber e até para lavar roupa e a louça. Tomar banho de caneca é terrível e parece que a gente não fica limpo. Por isso às vezes vou a um hotel só para tomar banho. Pago entre R$ 20 e R$ 25 por banho e fica muito caro”, reclama.
A secretária Victória Rodrigues, 33 anos, também enfrenta o problema na região sul da cidade. Moradora no Jardim Terra Branca, segundo ela a água só chega no bairro em dias alternados.
“Ontem fui na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bela Vista e estava fechada por conta da falta de água. Não bastasse a falta de profissionais. Eu não consegui atendimento. Aí tive que ligar para um amigo médico e pedir uma consulta porque estava com febre e infecção na garganta”, conta. “Aqui era raro faltar. E uma amiga que tem um salão tem que lavar os cabelos das clientes de canequinha. É muito difícil”.
Vazamentos se multiplicam
Se não bastassem os problemas causados pela estiagem, Bauru tem uma rede de distribuição de água antiga e uma das reclamações mais comuns entre os moradores é a de vazamentos. No Jardim Bela Vista, por exemplo, no início da semana uma adutora que leva a água da estação de tratamento até o reservatório do bairro rompeu e boa parte do bairro ficou sem água. Os reparos levaram três dias.
No início da semana a auxiliar administrativo Juliana Santos, de 29 anos, também se deparou com um vazamento e uma das caixas d’água do próprio departamento no bairro onde mora. Segundo ela, a água limpa e tratada jorrava pela rua há algumas horas. “Eu moro no Bela Vista e estamos economizando ao máximo, devido as notícias que estamos ouvindo do racionamento. Achei um absurdo. Em casa nós economizamos e o próprio DAE desperdiçando. E não foi a primeira vez que isso ocorre nesse posto de abastecimento. Só no final da noite é que a água parou de jorrar”, critica.
Segundo o DAE, hoje existem cerca de 500 vazamentos espalhados por toda a cidade à espera de conserto. A autarquia diz que são feitos cerca de 50 reparos por dia e não sabe quantificar o número de novas reclamações diárias registradas no serviço 0800, serviço gratuito para os moradores. A demora no atendimento depende, de acordo com a autarquia, com a gravidade do problema, pois demanda maior número de servidores que têm que priorizar os casos mais graves.
“Hoje estamos com uma defasagem de 35 funcionários, encanadores que trabalhariam no setor de vazamentos. Fizemos um concurso e 21 foram aprovados, mas ainda não sabemos quantos vão assumir as vagas porque ainda depende do prazo legal. Essa é uma grande dificuldade nossa porque muitos desistem. Além disso tudo é muito demorado no setor público. São 120, 150 dias para a contratação, enquanto numa empresa privada seria apenas uns 10 dias. E isso não é considerado pelos críticos. Falar é fácil, mas tem que conhecer o outro lado”, se defende.
Desperdício gera multa
Em Iacanga, município com pouco mais de 10 mil habitantes e a 50 km de Bauru, o desperdício de água agora pesa no bolso. Uma lei de autoria do Executivo e publicada no início de agosto prevê que moradores flagrados lavando calçadas, guias, sarjetas e ruas serão multados. De acordo com o secretário de Saneamento, Hélio Borba, o hábito de desperdiçar água era comum no município.
“Precisávamos criar uma lei para proteção dos mananciais e já aproveitamos e incluímos essa questão do desperdício. Alguns moradores ainda resistem a mudança e estão sendo notificados e multados. No próprio texto da lei, a condição para a multa é o registro fotográfico do desperdício”, explica.
Segundo ele, cerca de 30 notificações e ao menos 15 multas já foram aplicadas. O valor da multa é de 100% do valor da fatura do mês do morador, ou seja, caso a conta seja de R$ 50, ele terá que pagar R$ 100. Em menos de 20 dias o consumo de água na cidade caiu 10%, o que equivale a 400 mil litros a menos por dia. A cidade ainda não enfrenta o problema do racionamento. O serviço de abastecimento é de responsabilidade do município que utiliza poços profundos.