Policiais militares escalados para acompanhar um suposto rolezinho no Shopping Interlagos, zona sul de São Paulo, adotaram a tática de abordagens, recolhimento de documentos e revista, com uso de arma de fogo, para cumprir a ordem expedida mais cedo pela Justiça paulista.
A ação da PM ocorreu dentro e fora do shopping quando o rolezinho marcado pelo Facebook já havia sido adiado. A administração do shopping, entretanto, alegou que o pedido feito à Justiça pela associação de lojistas era contra uma tarde de autógrafos de um funkeiro --evento que, por volta das 16h30, já estava transferido de local.
Entre as abordagens feitas pelos PMs, estiveram as de jornalistas que tentavam registrar a movimentação no shopping. Documentos de repórteres --entre os quais, do Terra -- foram recolhidos, e os profissionais, orientados a deixar o shopping para fins de “cadastramento”. O recolhimento de documentos ocorreu por parte de um soldado do 22º Batalhão que não quis se identificar, e após a reportagem fotografar a revista e o "encaminhamento para averiguação" do cinegrafista. Ele portava uma micro-câmera e, segundo os PMs, estava "observando, em atitude suspeita".
“(A apreensão de documentos) é para identificação de vocês, que vão ser cadastrados”, disse o soldado. Indagado sobre o significado do cadastramento, resumiu: “Se acontecer alguma coisa com vocês, eu sei quem são”, respondeu.
Sobre o pedido da reportagem para que ele próprio se identificasse, o PM refutou: “Eu sou policial, você, infelizmente, não é, precisa estudar para ser. Aí você pode abordar, isso (estudar) dá esse direito. O Estado me dá esse direito.”
SSP vai apurar se houve abusos
Perto das 20h, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o secretário Fernando Grella determinou "que seja apurado se houve abuso nas abordagens a jornalistas, nesse domingo, no Shopping Interlagos".
Mochila, bermuda e chinelo são critérios de identificação
Outro policial que acompanhou de longe a ação dos colegas alegou que o grupo estava ali para “coibir o rolezinho e algazarra” e descreveu que, dentre os critérios de averiguação de frequentadores, estavam os trajes – sobretudo bermuda e chinelos –, os acessórios – tais como mochila, citou – e se os abordados andariam em grupos.
O cinegrafista abordado depois de usar o celular e uma micro-câmera definiu: “Foi um absurdo. Eu estava dentro do shopping, e os PMs disseram que eu estava em atitude suspeita. Não tinha como ser isso, se eu nem olhei para eles, entendeu?”, alegou. “Eu tinha entrado para ver como estava a movimentação do tal rolezinho, vi que tinha viaturas e fiz imagens delas. Aí, quando voltei para entrar, tomei até um susto: o policial mandou eu por a mão na cabeça, com uma arma nas minhas costas, me levou até a base móvel e pegou todos os meus dados”, relatou.
Para o 2º tenente De Luca, um dos comandantes da “Operação ‘rolezinho’ no shopping Interlagos” - como estava manuscrito em ficha de posse do policial -, o objetivo do policiamento no local era “não proibir, mas o que a gente não quer é algazarra”. Questionado sobre PMs à paisana, De Luca disse apenas que havia desses policiais “de folga” pelo shopping.
Shopping nega pedido de abordagem e revista
Por meio da assessoria de imprensa, a administração shopping negou ter pedido à Justiça que se evitasse rolezinho no local ou mesmo a revista e o acesso de quaisquer cidadãos ao local. Segundo a assessoria, o pedido de liminar à Justiça requeria que fosse evitada, na realidade, uma “tarde de autógrafos do MC Brankim” a fim de que se prevenissem eventuais contratempos.
A assessoria também negou que a segurança interna, privada, tenha sido reforçada - apesar de vigilantes andarem em grupos em número de pelo menos 50 deles no local, revelou um desses agentes, sob anonimato, e alguns, com colete à prova de balas.
PM admite que não havia "rolezeiros"
Procurada, a assessoria de imprensa da PM alegou que "apenas cumpriu a determinação judicial" e que abordagens e revistas fazem parte dela, ainda que "apenas em acompanhamento de uma ação".
"O bairro ali tem a chamada 'Operação Saturação' que compreende, também, abordagens de veículos e transeuntes. Nesse caso, as equipes tinham o chamado de que havia um grupo de jovens que aparentavam ser de rolezinho, o que não se constatou. Se houve abusos em condutas de policiais, a PM não compactua com isso e os casos devem ser relatados à Corregedoria", informou a assessoria da corporação.
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Diante das promessas de "rolezinho", o estabelecimento fechou as portas no domingo
Foto: Paulo Campos / Futura Press
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Clientes e manifestantes não conseguiram entrar no estabelecimento
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Pablo Capilé, do coletivo Fora do Eixo, participa da manifestação
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Uma tentativa de rolezinho terminou em churrasco no shopping Leblon, no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Porto Alegre) - "É decepcionante que tem mais policiais que manifestantes. Não somos sequer um movimento: somos um grupo de pessoas que se reuniu pelo Facebook", disse o organizador Fábio Fleck
Foto: Luís Felipe dos Santos / Terra
19 de janeiro (Porto Alegre) - Um segundo "rolezinho", com cerca de 10 pessoas com camisetas da União da Juventude Socialista (UJS), movimento estudantil ligado ao PCdoB, também compareceu. Algumas lojas fecharam as portas
Foto: Luís Felipe dos Santos / Terra
19 de janeiro (Porto Alegre) - Cerca de 20 pessoas participaram neste domingo do "rolezinho" no Moinhos Shopping, em Porto Alegre. No Facebook, havia mais de 500 confirmados no evento
Foto: Daniel Boucinha / Futura Press
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - A Justiça proibiu o ato e a administração do estabelecimento resolveu fechar as portas ao público com receio de violência
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Um grupo de amigas, em forma de protesto por não poder entrar no shopping, trouxe a praia para a calçada, com cadeiras, canga, revista e baralho. Eu iria participar do rolezinho, mas como a gente não pode se manifestar, vou ficar aqui, jogando o meu baralho, acho que isso eu posso fazer, né?, ironizou a figurinista Sabrina Magalhães
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Com cerca de nove mil presenças confirmadas nas redes sociais, o rolezinho do Shopping Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, teve baixa adesão, na tarde deste domingo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
19 de janeiro (Rio de Janeiro) - Segurança vigia shopping fechado no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Dois centros de compras fecharam as portas devido a um "rolezinho" que ocorreria em um deles neste domingo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Um "rolezinho" acabou por se transformar em protesto no Shopping Plaza, em Niterói, na noite de sábado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Ao contrário do "grito de liberdade" da periferia que marcou os atos de São Paulo, o tom foi político, com gritos contra o governador Sérgio Cabral e o tradicional "não vai ter Copa (do Mundo)"
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Logo no início do ato, ocorreu um princípio de confusão, com manifestantes tentando entrar em lojas, e seguranças impedindo, além de correria no prédio.
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Assustados, muitos clientes do shopping entraram nas lojas, com medo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Não houve, contudo, nenhum ato de violência e a Polícia Militar sequer se fez presente nas mediações do Shopping Plaza.
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Cerca de 30 pessoas participaram do movimento
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Os manifestantes gritavam ainda frases "estamos na rua e a luta continua" e "amanhã vai ser maior"
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Eles cantaram funks antigos do Rio de Janeiro e foram acompanhados todo o tempo por cerca de 20 seguranças, muitos deles à paisana
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Seguranças acompanham rolezinho no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Muitas lojas fecharam as portas
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Clientes questionaram o que estava acontecendo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - "Rolezinho" vira protesto com princípio de confusão em Niterói.
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) - "Se fosse um bando de playboyzinho, como colocam nos filmes, aquela loja ali não estaria fechada", apontou PH Lima, 25 anos
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro - Alguns vendedores chegaram a protestar contra o ato. Um deles chegou a fazer um cartaz: "Eu ganho por comissão, obrigado, rolezinho"
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - As lojas fechavam as portas conforme os ativistas se aproximavam
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Os ativistas gritavam frases como "não vai ter copa", "estamos na rua e a luta continua" e "amanhã vai ser maior"
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Em meio ao protesto, ocorre uma discussão sobre racismo
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Cerca de 20 seguranças acompanharam o ato - muitos à paisana
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Ativistas tentam entrar em cinema e são barrados por seguranças
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (Niterói) - Manifestantes deixando prédio do shopping em Niterói
Foto: Mauro Pimentel / Terra
18 de janeiro (Niterói) -Marcado como "rolezinho", protesto teve princípio de confusão no Shopping Plaza, em Niterói (RJ)
Foto: André Naddeo / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Segundo a polícia, esses jovens foram citados, o que quer dizer que, se eles voltarem a ser encontrados em "atitudes suspeitas", podem ser notificados e multados em até R$ 10 mil. No caso dos menores, os notificados serão os pais
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - No Shopping Center Norte, na zona norte de São Paulo, o "rolezinho" acabou não acontecendo. O evento estava marcado para as 16h. Antes desse horário, já havia policiais civis aguardando o grupo no local. Os agentes afirmam que têm um dossiê feito a partir de informações retiradas de perfis no Facebook.
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - "Levei ameaças de seguranças, falando que iam quebrar minhas pernas e arrancar minha cabeça", complementa
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - "Eu já estava indo embora porque os policiais falaram que não era para a gente ficar parado, que era para circular", diz um dos adolescentes, identificado como R.A., 17 anos
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Policiais abordaram um grupo de jovens que queria participar de um rolezinho no Shopping Center Norte, popular centro comercial na zona norte de São Paulo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Na zona sul da capital paulista, um grupo protestou contra o racismo em um rolezinho no shopping JK Iguatemi
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - utilizando até faixas em inglês, o grupo pediu o fim do racismo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Movimento social reclamou da liminar que proibiu a realização de rolezinhos no shopping de luxo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - O shopping fechou as portas, com os clientes dentro, impedindo a entrada dos manifestantes
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Grupo levou faixas e bandeiras para o encontro
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) -Com palavras de ordem, manifestantes protestaram em frente ao estabelecimento
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro - O ato ganhou tom político e não teve a participação tradicional dos jovens que iniciaram o movimento na periferia de São Paulo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - A ONG Uneafro participou do evento
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Basta de apartheid, diziam os jovens
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Manifestantes tentaram entrar no prédio com instrumentos musicais
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - Faixa usada pelo grupo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
18 de janeiro (São Paulo) - O ato durou cerca de duas horas