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SP: Movimento Passe Livre diz que só negocia revogação de aumento

Manifestantes dizem que situação está nas mãos do prefeito e do governador, e rejeitam definir trajeto para a marcha de hoje

17 jun 2013 - 10h52
(atualizado às 13h54)
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<p>Integrantes do MPL, Caio, Monique, Rafael e Érica disseram que é impossível definir previamente um trajeto para a passeata</p>
Integrantes do MPL, Caio, Monique, Rafael e Érica disseram que é impossível definir previamente um trajeto para a passeata
Foto: Vagner Magalhães / Terra

Membros do Movimento Passe Livre (MPL), que encabeça os protestos contra o aumento da tarifa de transporte público em São Paulo, afirmaram na manhã desta segunda-feira que só estão dispostos a negociar a revogação do reajuste. "Só negociamos uma pauta, que é a revogação do aumento. Ainda que o ato tenha tomado outra amplitude por diversas razões", disse a técnica em museologia Érica de Oliveira, que participa do movimento.

"A gente não pode negociar menos do que isso. Negociar algo diferente do que a população quer seria uma traição", disse Caio Martins, estudante de história. O grupo concedeu uma entrevista coletiva na capital paulista e falou sobre as condições de diálogo com as autoridades. Os integrantes do MPL afirmaram que o controle da situação está nas mãos do prefeito Fernando Haddad (PT) e do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O movimento afirmou que não será possível definir previamente um trajeto para a passeata marcada para a tarde desta segunda-feira. A Secretaria Estadual de Segurança Pública havia proposto uma reunião para que o roteiro ficasse agendado. A marcha de hoje terá como ponto de partida o Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo.

"A negociação tem de ser feita da hora. Não somos donos das manifestações. Só dá para ter uma definição com uma avaliação do público presente", disse Caio Martins. "Estamos abertos ao diálogo. Queremos discutir questões simples, como a garantia de não repressão à manifestação. Os atos são muito maiores do que o movimento", afirmou.

Para o estudante, a discussão tem de ser outra. "O que deve ser discutido não é por onde a gente vai passar, mas onde a gente quer chegar, que é a revogação imediata do aumento da tarifa", disse Caio.

Érica lembra que o movimento é diferente das manifestações de rua. "Temos trabalho cotidiano desde 2005, que luta contra os aumentos. Vinte centavos pesam, sim. São mais pessoas que deixam de utilizar o transporte urbano. Nas manifestações, incorporam-se entidades de classe e a população. A dimensão que os atos tomaram foi mais por uma revolta popular do que pelo movimento. Somos muito mais do que os atos de rua", disse ela.

Para o professor Rafael Siqueira, o movimento é totalmente pacífico e contra atos de violência. "Não estimulamos e não fazemos qualquer ato de vandalismo. Para quem acompanhou os atos de perto, aconteceram em resposta à violência policial. Quem estava nos atos viu isso. O movimento é pacífico e é direito constitucional se manifestar nas ruas", disse ele.

Cenas de guerra nos protestos em SP

A cidade de São Paulo enfrenta protestos contra o aumento na tarifa do transporte público desde o dia 6 de junho. Manifestantes e policiais entraram em confronto em diferentes ocasiões e ruas do centro se transformaram em cenários de guerra. Enquanto policiais usavam bombas e tiros de bala de borracha, manifestantes respondiam com pedras e rojões.

Durante os atos, portas de agências bancárias e estabelecimentos comerciais foram quebrados, ônibus, muros e monumentos pichados e lixeiras incendiadas. Os manifestantes alegam que reagem à repressão opressiva da polícia, que age de maneira truculenta para tentar conter ou dispersar os protestos.

Segundo a administração pública, em quatro dias de manifestações mais de 250 pessoas foram presas, muitas sob acusação de depredação de patrimônio público e formação de quadrilha. No dia 13 de junho, o protesto foi marcado pela repressão e pelo abuso da ação policial. A passeata, que começou pacífica - com jovens cantando, carregando cartazes e distribuindo flores para a população -, terminou com cenas de guerra em diversas ruas do centro.

As primeiras bombas de gás lacrimogênio lançadas pela Polícia Militar na rua da Consolação deram início a uma sequência de atos violentos por parte das forças de segurança, que se espalharam até por quase até meia-noite. Enquanto os policiais atacavam com bombas e tiros de bala de borracha, os manifestantes respondiam com pedras e rojões.

A polícia teria iniciado o confronto porque um acordo com os manifestantes teria sido rompido. Segundo o major Lidio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM, o combinado era que a manifestação, que começou na praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal, se encerrasse na praça Roosevelt, ao lado da igreja da Consolação. "Se não é para cumprir acordo, não adianta reclamar das consequências", disse o major.

Ônibus estacionados, pedestres que passavam nas regiões onde houve confrontos e veículos de paulistanos viraram reféns da situação. Durante a troca de pedradas e bombas, muitos motoristas fecharam os veículos e se abrigaram no comércio da região. Em ônibus e estações de metrô, mulheres e crianças, além de adultos, sofreram com os efeitos do gás lacrimogênio.

O cenário foi de caos: manifestantes e pessoas pegas de surpresa pelo protesto correndo para todos os lados tentando se proteger; motoristas e passageiros de ônibus inalando gás de pimenta sem ter como fugir em meio ao trânsito; e vários jornalistas, que cobriam o protesto, detidos, ameaçados ou agredidos.

O fotógrafo do Terra Fernando Borges foi um dos profissionais da imprensa presos enquanto cobria a manifestação. Ele portava crachá de imprensa, equipamento fotográfico de trabalho e se apresentou como jornalista, mas foi levado pelos policiais. Ele passou 40 minutos detido junto com outros manifestantes, de frente para a parede, com as mãos nas costas e a cabeça baixa, e depois foi liberado.

O repórter do Terra Vagner Magalhães levou um golpe de cassetete de um policial militar durante a cobertura do evento. Ele foi agredido no braço, no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Próximo à praça Roosevelt, no centro, a também repórter do Terra Marina Novaes chegou a ser detida, mas foi dispensada depois que se apresentou como jornalista.

Sete repórteres do jornal Folha de S. Paulo foram atingidos, sendo que os jornalistas Giuliana Vallone e Fábio Braga levaram tiros de balas de borracha no rosto enquanto trabalhavam no protesto. Uma imagem de Giuliana com o olho inchado após o tiro circula repercutiu nas redes sociais. O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, que foi atingido no olho esquerdo por um tiro de bala de borracha disparado pela PM durante o protesto corre risco de perder a visão.

Imagens exclusivas mostram ataque da tropa de choque; veja:

As agressões da polícia repercutiram negativamente na imprensa e também nas redes sociais. Vítimas e testemunhas da ação violenta divulgaram relatos, fotografias e vídeos na internet e obrigaram uma atitude dos governos estadual e municipal. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado afirmou que a polícia não usará balas de borracha para reprimir os novos protestos. Foi informado também que ninguém será preso por levar consigo recipientes com vinagre. 

Além disso, diante da persistência dos movimentos em manter os protestos pela causa, o governo de São Paulo convocou representantes para uma reunião com a SSP para o dia 17 de junho. A prefeitura da capital paulista também sinalizou que irá se reunir com os grupos no dia 18 de junho. "O objetivo (do convite) é garantir que todos possam exercer seu direito de manifestação de forma segura e pacífica", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em seu perfil no Twitter. "Preservando assim a liberdade de expressão, o interesse público e os serviços essenciais", complementou.

No dia seguinte ao protesto marcado pela violência, em entrevista à TV Bandeirantes, o governador declarou que via "ações coordenadas" oportunistas no movimento que cobra a suspensão do reajuste das tarifas de transporte público na capital paulista e em outras cidades do País. Ele reiterou por diversas vezes "a defesa do direito de ir e vir" da população e garantiu que não permitirá que os manifestantes prejudiquem a circulação de veículos e pessoas.

No mesmo dia, em entrevista ao programa Bom Dia SP, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que a Polícia Militar deve ser investigada por abusos cometidos durante a repressão à manifestação, mas não deixou de criticar a ação dos ativistas. "Infelizmente, na terça, vimos violência contra policiais. Hoje, o Brasil conhece cenas de violência que ensejaram uma abertura de investigação pela SSP”, disse. "São cenas lamentáveis que não condizem com o espírito de São Paulo", afirmou.

A mobilização em torno do aumento da tarifa de ônibus ultrapassou as fronteiras do País e ganhou as ruas de várias cidades do mundo. Nos dias 15 e 16 de junho, dezenas de manifestações foram organizadas em outros países em apoio aos protestos em São Paulo e repúdio à ação violenta da Polícia Militar. Eventos foram marcados pelas redes sociais em quase 30 cidades da Europa, Estados Unidos e América Latina.

As passagens de ônibus, metrô e trem da cidade de São Paulo passaram a custar R$ 3,20 no dia 2 de junho. A tarifa anterior, de R$ 3, vigorava desde janeiro de 2011.

Segundo a administração paulista, caso fosse feito o reajuste com base na inflação acumulada no período, aferido pelo IPC/Fipe, o valor chegaria a R$ 3,40. "O reajuste abaixo da inflação é um esforço da prefeitura para não onerar em excesso os passageiros", disse em nota. 

O prefeito da capital havia declarado que o reajuste poderia ser menor caso o Congresso aprovasse a desoneração do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para o transporte público. A proposta foi aprovada, mas não houve manifestação da administração municipal sobre redução das tarifas.

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Fonte: Terra
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