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SP: protesto acua em igreja bispo que substituiu padre negro

Segundo manifestantes, substituição ocorreu após pedido de um grupo influente da cidade de Adamantina

8 dez 2014 - 08h25
(atualizado às 13h27)
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SP: fiéis protestam contra bispo que substituiu padre negro:

O bispo de Marília (SP), Dom Luiz Antonio Cipolini, deixou a igreja matriz de Adamantina, no interior de São Paulo, escoltado por dezenas de policiais na noite deste domingo. O bispo, que foi à cidade comandar a missa de Crisma, ficou por mais de 1h40 encantoado no interior da igreja, esperando que milhares de pessoas, que o esperavam do lado de fora, se acalmassem. O motivo da revolta dos fieis foi a substituição de um padre conhecido por suas ações sociais junto a usuários de drogas e à comunidade carente. Segundo os manifestantes, o padre Wilson Luís Ramos já havia sofrido preconceito racial por ser negro.

Antes de sair escoltado, o bispo enfrentou a revolta dos fieis já dentro da igreja. Foi vaiado por centenas de manifestantes quando comandava a missa. No momento em que ele conduzia a eucaristia, já no final da celebração, manifestantes levantaram cartazes e começaram a gritar palavras de ordem em favor do padre.

O padre teria sido substituído pelo bispo a pedido de um grupo de fieis ricos e conservadores, que tinham sido substituídos pelo padre de cargos de coordenação da igreja, que ocupavam há 13 anos. O grupo estava descontente com a opção dada pelo padre aos pobres e jovens usuários de drogas, que passaram a frequentar a principal igreja da cidade desde que o padre chegara a Adamantina, em 2012.

Durante a missa deste domingo, revoltados com a saída do padre, manifestantes também passaram a jogar moedas no altar da igreja, enquanto gritavam a palavra “indignação” e frases pedindo para o padre Wilson permanecer na paróquia. Diante do protesto e do barulho, padre Wilson pediu que os manifestantes – na maioria jovens - parassem com o protesto, mas não foi atendido. Eles continuaram gritando enquanto o restante dos fieis – cerca de 800 - que ocupavam a igreja, lotada, os ajudavam batendo palmas.

“Nunca vi uma coisa dessas. As pessoas acabaram se esquecendo de que se tratava de um local sagrado. Mas acho que elas têm razão porque o bispo até agora não deu uma explicação convincente sobre a saída do padre. Se há culpado, o bispo é o culpado”, disse o comerciante Orlando Ferrari. “Muitos pensam, e eu também, que se trata simplesmente de um ato de preconceito porque o padre é negro, pois não há motivo algum para substituí-lo”, disse um empresário da cidade, que pediu anonimato.

Tensão e reforço da PM

Ao final da missa, a situação se tornou mais tensa do lado de fora, onde centenas de manifestantes aguardavam o bispo sair para protestar contra a decisão da igreja de retirar o padre da cidade. “Só queremos que ele nos dê uma explicação, nos diga o que está acontecendo. Ele está desrespeitando os paroquianos daqui”, afirmou um jovem.

<p>Padre Wilson ficou menos de dois anos na igreja</p>
Padre Wilson ficou menos de dois anos na igreja
Foto: João Spósito Júnior / Facebook

Em grupos, com cartazes, apitos e narizes de palhaço, os manifestantes gritavam frases contra discriminação racial, já que o padre Wilson relatou diversas vezes o sofrimento que passou por atitudes preconceituosas por parte de fieis de Adamantina. “Na cidade diziam que o galo que existe no alto da torre da Matriz seria trocado por urubu”, contou o padre.

Uma hora e meia após o fim da missa e sem que a multidão saísse de frente da Matriz, a Polícia Militar, que já tinha alguns homens do lado de dentro, pediu reforços. Diversas viaturas chegaram e dezenas de PMs deram cobertura ao bispo para que ele pudesse sair da igreja. Ele aproveitou para sair por uma lateral onde havia um número menor de manifestantes. Por volta das 23h30, o bispo teve de ir embora dentro do carro de um sargento da PM, já que o seu carro foi alvo de vandalismo.

Segundo dia de manifestações

A manifestação da noite de domingo foi a segunda em dois dias. A população, que já tinha feito abaixo-assinado com 10 mil assinaturas, abraçado a igreja e escrito palavras de apoio ao padre nos vidros dos carros, fez uma grande passeata na noite de sábado. Cerca de duas mil pessoas, muitas vestidas de preto e carregando velas e faixas com frases pedindo o fim do racismo na cidade, se concentraram na frente da igreja Matriz e, assim que a missa terminou, saíram em passeata pelas ruas.

<p>Faixa pede o fim do racismo na cidade</p>
Faixa pede o fim do racismo na cidade
Foto: João Spósito Júnior / Facebook

Na sexta-feira, o bispo expediu circular dando prazo para padre Wilson deixar a cidade até esta terça-feira No domingo, dia 14, ele assume o santuário Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Dracena. Seu lugar em Adamantina será ocupado pelo padre Rui Rodrigues da Silva. A circular pegou líderes da igreja católica de surpresa porque na manhã de sexta-feira o Conselho Pastoral da Paróquia havia se reunido com o bispo para lhe pedir clemência e sugeriu que demorasse pelo menos um ano para fazer a substituição, a fim de não causar “traumas” ou antipatia da população para com a igreja.

Primeiro padre negro da cidade

Parte dos católicos de Adamantina estão revoltados porque além de o bispo não dar uma justificativa plausível para a saída do padre - o bispo disse em entrevista à reportagem que decidiu pela substituição após consultar a população e chegar à conclusão que o padre estava dividindo a paróquia -, a dispensa do padre ocorre em plena época natalina da igreja e menos de dois anos depois de o padre assumir a igreja.

“Além de ele ser o primeiro padre negro a trabalhar na cidade, ele será o padre que ficou menos de 2 anos na nossa cidade. O problema é que era um padre que agradou a maioria da população, que estava muito contente como ele conduzia os fieis”, contou um dos líderes religiosos da cidade. O mesmo líder enumerou as ações do padre: “ele recuperou as capelas que estavam esvaziadas, construiu uma delas e tinha uma forte ligação com as pessoas humildes, sem contar que aumentou a contribuição do dízimo na cidade”, completou. “Por isso não entendemos essa saída. Pelo que vimos o preconceito racial imperou na nossa cidade”, completou.

Fonte: Especial para Terra
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