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SP: sem-teto relatam especulação imobiliária em favelas

Representantes de cinco ocupações protestaram em frente à prefeitura; eles apontam alto de preço de aluguéis em áreas como Paraisópolis, onde aluguel de um cômodo sai por quase R$ 800

23 mar 2014 - 09h26
(atualizado às 09h50)
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<p>Sem-teto fizeram protesto na quinta-feira no centro de São Paulo</p>
Sem-teto fizeram protesto na quinta-feira no centro de São Paulo
Foto: Alan Morici / Terra

O garçom autônomo Mário José Cavalcanti Sales, 47 anos, não suportou o aluguel de R$ 380 que pagava por um único cômodo (quarto/banheiro, conjugados) na favela de Paraisópolis (zona sul de São Paulo) e embarcou naquela que, para vários outros amigos dele, seria a grande oportunidade de enfim construir a própria casa: ajudou na ocupação de um terreno que “há anos” estava sem uso. Desde setembro, ele é um dos cerca de 1,2 mil moradores da ocupação “Faixa de Gaza”, na mesma região - ou uma mini-favela dentro da favela.

Assim como Sales, moradores de outras ocupações que reivindicaram resultados da política habitacional do prefeito Fernando Haddad (PT) por meio de um protesto na quinta-feira, no centro de São Paulo, alegaram que a especulação imobiliária em regiões de periferia são a razão principal para as invasões. O grupo é formado em grande parte de nordestinos de Estados como Rio Grande do Norte, Ceará e Alagoas. Figuram entre eles domésticas, pedreiros, garçons e costureiras - praticamente todos, ou maioria, estimam, sem curso superior.

O Terra conversou com moradores das ocupações Nova Deda, Faixa de Gaza e União Palestina, as três da zona sul da capital paulista. Além delas, integram o ato liderado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) também as ocupações Estaiadinha (zona norte) e Capadócia (zona sul). Ao todo, os organizadores estimam que todas elas representem uma demanda de pelo menos 18 mil novas moradias.

"A Câmara que nos aguarde", avisa morador

Pai de dois filhos, Sales contou que está há 27 anos em São Paulo. Saiu do Ceará, onde já pagava aluguel, para seguir sem casa própria em território paulista. “Pago aluguel há 30 anos, e, só em Paraisópolis, estou há 13 deles. É uma especulação muito grande, a ponto de eu não aguentar. O que queremos agora é que o prefeito mude o zoneamento lá da região, onde só se pode construir mansões, para que possamos ter nosso canto em paz”, disse. E avisou: “sabemos que quem vota o Plano Diretor que permite essas mudanças de zoneamento é a Câmara. Íamos lá, hoje, mas acabamos vindo para a prefeitura. A Câmara que nos aguarde”, afirmou.

A votação do Plano Diretor estava prevista para o início deste mês, mas acabou adiada para abril.

Moradores fazem 'rondas noturnas' contra reintegração

Vizinha de Sales, a costureira Maria Luiza Silva, 36 anos, está há 14 deles em São Paulo - ela é de Natal. Ano passado, contou, não deu conta de sustentar os três filhos pequenos e ainda pagar o aluguel de R$ 620 por três cômodos na favela e foi para a mesma ocupação. “As pessoas da própria favela superfaturaram o preço dos aluguéis, moça, aquilo virou uma covardia”, lamentou.

Integrante da ocupação Nova Deda, sobre a qual os moradores afirmam haver o risco iminente de uma reintegração de posse pedida pelo município, a desempregada Ana Cristina Nascimento, 34 anos, contou à reportagem que o aluguel de R$ 500 que pagava até novembro do ano passado não coube mais no orçamento doméstico. Separada, vivem na ocupação ela e três filhos.

“Quem diz que morador de ocupação é só desocupado não sabe de nada. Quem não quer ter um teto? E a gente ainda vive com medo de uma reintegração - é medo todo dia”, relatou.

Foi justamente o medo de uma reintegração de madrugada - o grande trauma dos moradores, relataram, foi a do Pinheirinho, em 2012, em São José dos Campos - que levou os ocupantes da Nova Palestina a se organizarem em 21 grupos, ou células, para garantir a segurança do grupo. Ao todo, estimam, são mais de 10 mil pessoas lá.

“A gente precisou correr o risco de enfrentar um despejo porque não tinha como pagar aluguel. Eu mesma pagava R$ 500 no Capão Redondo (zona sul de SP) e tenho sete filhos, sou casada... não tem condições. Para muita gente esse valor não pesa, mas, para quem acaba indo para uma ocupação, é muito dinheiro”, declarou a doméstica Maria Quitéria de Oliveira, 47 anos, que há 25 anos deixou Alagoas para viver em São Paulo.

“Na ocupação nós nos ajudamos. Formamos grupos de cinco pessoas para fazer rondas noturnas e para checar se não está havendo brigas entre os moradores, por exemplo. Temos uma cozinha comunitária e muita gente de fora faz doações. Pedimos pelo boca a boca mesmo, e posso dizer: as pessoas são muito solidárias. Só falta mesmo o poder público fazer a parte dele”, definiu a garçonete autônoma Francisca Alexsandra, 43 anos, que trocou o Ceará por São Paulo há 14 anos.

"As pessoas de fora são solidárias com a gente"

“Sandra”, como prefere ser chamada, ainda não mora na Nova Palestina, apesar de participar “de tudo que é possível: protesto, assembleias, mutirão na cozinha e arrecadação de alimentos”. “Estou ajudando porque tenho esperança que logo eu me mude para lá. Não tem por que o prefeito manter um decreto de utilidade pública de uma área onde moram pessoas, para se fazer ali uma praça, se a 50 metros dessa mesma área existe o Parque do Guarapiranga”, completou a garçonete.

Ela se refere ao decreto assinado pelo então prefeito Gilberto Kassab (PSD) transformando a antiga área privada em área de utilidade pública. Segundo o MTST, Haddad teria prometido revogar a medida até janeiro deste ano - quando completou um ano de governo -, o que ainda não ocorreu.

Uma comissão de moradores das cinco ocupações foi recebida por representantes da Secretaria Municipal de Relações Governamentais durante pouco mais de quatro horas. O município ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso.

Fonte: Terra
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