SP: tratamento a viciados com a 'bolsa-crack' deve começar em 60 dias
Edital deve ser lançado na próxima semana. Expectativa é que 3 mil viciados sejam atendidos
Os primeiros atendimentos em clínicas pelo Cartão Recomeço, projeto anunciado nesta quinta-feira pelo governo de São Paulo, deverão ocorrer em 60 dias, afirmou o secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia. O programa, apelidado de "bolsa-crack", dará R$ 1.350 a usuários de droga que desejam se tratar do vício em clínicas para dependentes químicos.
O Cartão Recomeço é uma parceria entre o governo paulista e clínicas especializadas no tratamento de dependentes químicos. O alvo do projeto são os viciados que já passaram por um período de internação de até 30 dias e que precisam dar prosseguimento ao tratamento para se livrar da droga. A expectativa é reduzir o índice de reincidência desses usuários.
"É uma iniciativa inovadora e, tecnicamente, muito consistente. Primeiro a pessoa estabiliza e depois ela precisa de alguns meses para recuperar a dignidade, readquirir alguns valores", explicou o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do programa e professor titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Laranjeira destaca que essa é uma etapa complementar ao período clínico. "O tratamento da dependência química, especialmente do crack, não se resume a um ou dois meses de internação. Você vai precisar de uma série de medidas. Um suporte para a pessoa recuperar o trabalho, a vida social. Esse é um processo mais complexo e tem que ser feito", disse o médico.
Inicialmente, 3 mil dependentes químicos serão atendidos pelo programa. O cartão, que dá direito ao valor estipulado, servirá para custear as despesas de recuperação dos dependentes químicos que buscarem ajuda voluntariamente.
O valor é repassado diretamente do governo às entidades de tratamento. O dependente ou sua família não recebem valor algum em dinheiro. O repasse é feito através do Cartão Recomeço, onde os dados de cada paciente fica registrado.
Até o momento, somente unidades de 11 cidades do interior poderão se habilitar para o atendimento nesta etapa inicial do programa: Diadema, Sorocaba, Campinas, Bauru, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José dos Campos, Osasco, Santos e Mogi das Cruzes. O governo espera que o número de municípios aumente com o tempo, de acordo com a ampliação do projeto.
O cartão não atenderá os viciados na capital. Segundo o governo, isso ocorre porque o Programa Recomeço - do qual o Cartão Recomeço faz parte - já atende os dependentes químicos por meio do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) e do convênio com a Missão Belém.
"É um modelo próprio. Temos hoje 270 vagas em 13 entidades diferentes localizadas no entorno de São Paulo", disse Rodrigo.
Para Rodrigo, o programa é ideal para ampliar o combate ao crack no interior, onde a demanda por tratamento de viciados é grande. “É uma resposta a uma demanda (o Cartão Recomeço)”, disse o secretário. “Com isso, conseguimos agilizar o tratamento (de viciados) no interior e aumentar o controle desse tratamento, de acordo com as exigências feitas no edital."
As exigências feitas para as comunidades terapêuticas que desejem se inscrever no programa serão esmiuçadas no edital, que será lançado até a próxima semana. Segundo Rodrigo, entre outros requisitos, será necessário que as unidades ofereçam oficinas laborativas, medidas de fortalecimento do vínculo do usuário com sua família e também qualificação profissional dos atendidos.
Ausência de médicos barateia custos
Segundo Rodrigo, o valor destinado para o atendimento de cada paciente é suficiente para custear o tratamento, já que não é necessário que médicos façam parte da equipe das unidades para onde os viciados serão encaminhados. De acordo com o secretário, os dependentes serão atendidos nas comunidades terapêuticas por médicos da rede de saúde pública.
A expectativa é que todas as 3 mil vagas sejam preenchidas, o que ajuda as comunidades terapêuticas que receberão os usuários a estruturarem melhor suas equipes. “Elas (comunidades terapêuticas) sofrem com sazonalidade. Às vezes têm pacientes, muitas vezes não. Com isso, a troca de profissionais que precisam ser contratados e depois mandado embora é grande. Com o projeto, há uma continuidade”, disse Rodrigo.
O prazo para o tratamento estipulado pelo governo é de 180 dias. Durante os seis meses em que estiver em tratamento, o paciente receberá os R$ 1.350 através do cartão. Com isso, cada viciado tratado custa R$ 8,1 mil ao governo. Mensalmente o governo deverá gastar R$ 3,9 milhões no tratamento dos viciados e, no final dos seis meses, caso sejam preenchidas as 3 mil vagas, o valor gasto será de R$ 23,4 milhões.
Governo pretende adotar modelo no interior
Segundo Rodrigo, o governo não pretende abrir vagas em comunidades terapêuticas públicas. “Entendemos que esse modelo (de convênios) é melhor”, afirmou.
De acordo com o secretário, vários prefeitos manifestaram a intenção de construir comunidades municipais e podem se tornar parceiros do governo. “Se atenderem a todos os requisitos, não tem problema. Podem se tornar parceiros do governo."
Com informações da Agência Brasil