"Ou a gente paga aluguel ou a gente come. O último lugar onde eu paguei aluguel foi em uma pensão na região da Cracolândia. Pagava R$ 400. Na época eu fazia tapioca para vender. Só não passava fome porque os pastores nos ajudavam.”
Há exatos 30 dias, Eli Sarai, 44 anos, chegou a pensar que fosse morrer quando bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas dentro do prédio do antigo Hotel Aquarius, na avenida São João, no centro de São Paulo, fechado há mais de dez anos. Parte dos sem-teto que havia ocupado o edifício em fevereiro resistia a seguir a ordem de despejo, e a Polícia Militar reagiu. Para cada coco-verde jogado das janelas, a PM respondia com bombas e balas de borracha.
“Foi desumano o que fizeram com a gente. Onde já se viu jogar bombas de gás em um lugar fechado? A gente poderia ter morrido lá dentro. Vi gente desmaiando, criança passando mal. A minha filha foi direto para o hospital”, disse a mãe, referindo-se à filha de 17 anos que tem paralisia cerebral. O caso da menina, aliás, ganhou repercussão na época, depois que um vídeo mostrou um agente arremessando a cadeira de rodas no chão. “Quebraram a cadeira dela”, lamentou.
Novo despejo
Das cerca de 800 pessoas despejadas naquela ocasião, 600 ocupam agora o prédio antigo dos Correios, fechado em 2010, na rua Libero Badaró, também no centro. O edifício é particular e hoje pertence à Cruz Vermelha. Uma reintegração de posse autorizada pela Justiça deveria ter ocorrido no último 9, mas foi adiada.
A fim de buscar uma solução para as famílias, a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do governo do Estado, intermediaram o diálogo entre os sem-teto e a Cruz Vermelha, que fará uma escola no local e concordou com o adiamento. “Enquanto a reintegração está suspensa, a Sehab e a CDHU estão estudando um encaminhamento habitacional às famílias dessa ocupação”, informou a prefeitura.
“A gente espera que antes do dia 8 saia uma solução para as famílias, como auxílio-aluguel”, afirmou Silmara Congo, 43 anos, uma das coordenadoras do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), ligado à Frente de Luta por Moradia (FLM), responsável pela ocupação.
“Espero que cumpram com a palavra de fazer alguma coisa pela gente. Trabalhamos o ano inteiro, mas quatro meses (de salário) vão para o governo (em pagamento de impostos) e não temos moradia digna”, disse Eli, que hoje está desempregada porque tem que cuidar da filha com deficiência. “Ainda não encontrei escola para ela, não estão aceitando. Isso está sendo um problema.”
Sem alternativa
“Quem está aqui é porque realmente não tem para onde ir. As famílias que passaram por aquela situação não têm para onde ir. Ninguém ia passar por aquilo se tivesse alguma alternativa”, afirmou a coordenadora Silmara.
“Está aí o guerreiro que te falei. Esse pai é um guerreiro”, disse Silmara, apontando para Florisvaldo Prudente dos Santos, 34 anos, que vende bala no metrô e na rua para sustentar o filho de 2 anos. No dia da reintegração de posse do prédio da São João, Santos levou um tiro de bala de borracha no abdome e estava dentro do imóvel quando foram atiradas as bombas. “Saí por cima do telhado, com ele (filho) nos braços.”
Santos conta que mora em ocupação desde janeiro, quando sua mulher foi presa. A família morava em um hotel no centro de São Paulo, que ele teve que deixar depois que ficou sozinho. “Muitas vezes eu trabalhava até tarde da noite para ter dinheiro para pagar o hotel. Ou então ficava sem dinheiro para comer.”
Antes do confronto, policiais e moradores negociavam a saída pacífica do prédio
Foto: FLM / Divulgação
Policiais atiraram bombas de efeito moral e de fás lacrimogêneo
Foto: FLM / Divulgação
Sem-teto ocupam o prédio de um antigo hotel, no centro de São Paulo
Foto: FLM / Divulgação
Cerca de 200 famílias ocupam o prédio, segundo o movimento
Foto: FLM / Divulgação
A Justiça ordenou a reintegração de posse nesta terça
Foto: FLM / Divulgação
Mulher é socorrida após confronto com a PM
Foto: FLM / Divulgação
Policiais da Tropa de Choque participam da ação no centro
Foto: Joyce Galvão / vc repórter
De acordo com a PM, policiais ocupam os arredores do prédio para impedir novos tumultos
Foto: Joyce Galvão / vc repórter
Devido à situação, a SPTrans alterou o itinerário de pelo menos 30 linhas durante a manhã
Foto: Joyce Galvão / vc repórter
Caminhão blindado do Choque foi acionado para abrir caminho
Foto: André Lucas Almeida / Futura Press
Moradores derrubaram árvores na avenida
Foto: André Lucas Almeida / Futura Press
Eles atiraram bombas para desocupar as ruas
Foto: André Lucas Almeida / Futura Press
Policias da Tropa de Choque foram acionados por volta das 8h
Foto: André Lucas Almeida / Futura Press
Policias agiram com bombas de gás lacrimogêneo na ocupação de um hotel abandonado em São Paulo
Foto: Alice Vergueiro / Futura Press
Fumaça do ônibus queimado era vista de vários pontos de São Paulo
Foto: Eduardo Hernandes / Futura Press
Leitores do Terra registraram imagens da fumaça de um ônibus que foi incendiado em frente ao Teatro Municipal
Foto: Roberto Ono / vc repórter
Ônibus pega fogo enquanto homem foge da polícia
Foto: André Lucas / Futura Press
Veículo ficou completamente destruído pelas chamas
Foto: André Lucas Almeida / Futura Press
Ônibus incendiado em frente ao Teatro Municipal, no centro de São Paulo
Foto: André Lucas / Futura Press
Bombeiros tentam conter as chamas que atingem o veículo
Foto: Marcio Antonio Ebert / vc repórter
Ônibus é incendiado durante a reintegração de posse
Foto: Marcio Antonio Ebert / vc repórter
Ônibus é consumido pelo fogo no centro de São Paulo
Foto: Giselle Martos / vc repórter
Após ser incendiado, ônibus articulado é removido do local
Foto: Giselle Martos / vc repórter
A fumaça do incêndio se espalhou pela região
Foto: Giselle Martos / vc repórter
Ônibus articulado é removido do local após o incêndio
Foto: Giselle Martos / vc repórter
Tropa de Choque passa pela rua Barão de Itapetininga
Foto: Priscila Souza / vc repórter
Ônibus incendiado durante a ação é removido
Foto: Priscila Souza / vc repórter
Ao menos 70 pessoas foram detidas e encaminhadas para o 3º DP
Foto: Fernando Zamora / Futura Press
A ação da polícia atraiu a atenção da imprensa e de pessoas que circulavam pelo local
Foto: Fernando Zamora / Futura Press
Policiamento reforçado atuou durante a reintegração de posse
Foto: Philippe Nery / vc repórter
Leitores do Terra registraram imagens da fumaça do ônibus queimado
Foto: Fábio Davidson / vc repórter
Leitores do Terra registraram imagens da fumaça do ônibus queimado