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Tarcísio diz que não vai demitir Derrite após série de casos de violência policial

'Olha os índices (da segurança pública)', diz governador de SP; Estado tem queda de indicadores de crimes, mas a PM matou 496 pessoas entre janeiro e setembro, o maior número desde 2020

4 dez 2024 - 08h04
(atualizado às 12h02)
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Derrite tem sido cobrado por sequência de casos de violência policial; Tarcísio diz que vai mantê-lo no cargo
Derrite tem sido cobrado por sequência de casos de violência policial; Tarcísio diz que vai mantê-lo no cargo
Foto: Werther Santana/Estadão

BRASÍLIA - O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta quarta-feira, 4, que não vai demitir o secretário da Segurança Pública do Estado, Guiherme Derrite, após uma série de casos de violência policial no último mês. "Não vou. Olha os índices (da segurança pública)", disse o chefe do Executivo paulista.

O Estado tem registrado queda de indicadores como roubos e furtos neste ano, mas a Polícia Militar paulista matou 496 pessoas entre janeiro e setembro, o maior número desde 2020, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado.

A sequência recente de casos jogou mais luz sobre o problema. Entre as ocorrências do último mês, estão a morte de uma criança de 4 anos na Baixada Santista, de um estudante de Medicina baleado em um hotel da capital, de um homem atingido nas costas após tentativa de roubo em um mercado e o flagra de um policial atirando um homem de uma ponte na zona da capital.

Tarcísio participa, em Brasília, de sessão solene na Câmara dos Deputados para Outorga da Medalha do Mérito Legislativo. Ele foi questionado sobre o vídeo que flagra o PM jogando um homem do alto da ponte.

"O que aconteceu foi muito ruim. Nós vamos tomar providência", acrescentou Tarcísio. No dia anterior, Derrite prometeu no Instagram "severa punição" aos envolvidos.

Segundo a corporação, os PMs fizeram o registro no sistema operacional da polícia de uma perseguição de uma dupla de moto considerada suspeita, mas sem mencionar qualquer arremesso de viaduto. Os dois homens não teriam parado após pedido dos policiais, segundo relatam os agentes.

Os agentes, então, os perseguiram por cerca de dois quilômetros e só conseguiram alcançá-los justamente onde o vídeo foi gravado, na Rua Padre Antônio de Gouveia.

A corporação afastou 13 policiais que participaram na ocorrência, mas as identidades dos agentes não foram reveladas. Os agentes são do 24° Batalhão de Polícia Militar, de Diadema, região metropolitana da capital.

O indivíduo alvo da agressão do policial ainda não foi identificado, mas testemunhas relataram que ele saiu do local andando. Não há informações sobre o estado de saúde do motociclista

A alta de mortes interrompeu a curva de queda de mortes pela PM que havia sido registrada a partir do uso das câmeras corporais nas fardas dos agentes. Em 2022, o total de óbitos do tipo foi o menor da série histórica, iniciada em 2001.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, um dos erros da gestão Tarcísio foi não ter fortalecido o programa de câmeras. O governador chegou a questionar a efetividade dos equipamentos, mas depois disse que manteria o modelo. A gestão também reiterou a continuidade do sistema ao Supremo Tribunal Federal (STF) após ser cobrado - há 10.125 câmeras em funcionamento no Estado.

Analistas defendem preparar melhor a tropa - sobretudo para ocorrências cotidianas, como brigas -, reforçar mecanismos de controle e investir em armas não letais para abordagens em que isso é possível. A letalidade policial maior, continuam, não leva ao combate mais eficaz ao crime organizado e pode criar confrontos ainda mais violentos, com risco para moradores de áreas dominadas pelo tráfico de drogas.

Entre 2023 e este ano, a polícia repetiu incursões na Baixada Santista sob a justificativa de reprimir o crime organizado na região. A área é estratégica para o Primeiro Comando da Capital (PCC), que usa o Porto de Santos para enviar drogas escondidas em navios para o exterior.

A primeira operação (Escudo) foi deflagrada em julho de 2023 após o assassinato de um soldado da Rota no Guarujá. Meses depois, uma ação semelhante (Verão) foi replicada na Baixada. Segundo a PM, vários dos mortos têm conexão com o tráfico ou passagens pela polícia, além de terem entrado em confronto com as forças de segurança.

Ministério Público, Ouvidoria das Polícias e entidades denunciaram supostos abusos em parte das ações da polícia, o que é negado pela gestão Tarcísio, que diz investigar os casos.

Dois PMs da Rota se tornaram réus acusados de forjar provas e sabotar câmeras corporais após matarem um homem na Operação Escudo. À época, a SSP disse que a denúncia não desqualificava o trabalho da polícia na região.

Em março, após entidades denunciarem à Organização das Nações Unidas (ONU) abusos nas operações na Baixada, Tarcísio minimizou. "Temos muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito (na Baixada Santista). A pessoa pode ir para a ONU, para a Liga da Justiça, para o raio que o parta, eu não estou nem aí", disse à época.

Estadão
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