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Técnica suspeita de emitir laudos de órgãos com HIV se entrega à polícia

Ela é suspeita de utilizar carimbo com registro profissional de outra pessoa para liberar laudo dos órgãos de uma paciente infectada com HIV

15 out 2024 - 17h11
(atualizado às 17h19)
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Fachada do PCS Lab, responsável pelos laudos que indicaram, erroneamente, que transplantes poderiam ser realizados
Fachada do PCS Lab, responsável pelos laudos que indicaram, erroneamente, que transplantes poderiam ser realizados
Foto: Pedro Kirilos/Estadão / Estadão

A técnica de laboratório do PSC Lab Saleme, cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que doadores de órgãos não tinham HIV, se entregou à Polícia Civil do Rio de Janeiro nesta terça-feira, 15. Jacqueline Iris Bacellar de Assis, de 36 anos, estava foragida desde segunda-feira, 14, quando foi emitido um mandado de prisão temporária para ela e outros envolvidos no caso.

O laboratório está sendo investigado por emitir exames com resultados falsamente negativos para HIV no RJ. O erro nos exames resultou na contaminação de seis pessoas, que contraíram o vírus após receberem órgãos transplantados.

O advogado José Felix, responsável pela defesa da funcionária, confirmou a prisão à Folha de São Paulo. Até o final desta terça-feira, ela ainda estava prestando seu depoimento.

Jacqueline, que atuava como auxiliar administrativa no PCS Lab Saleme, se entregou na Delegacia do Consumidor, localizada na Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio, segundo informações da TV Globo. Ela entrou sem dar declarações à imprensa, que tentou questioná-la sobre os laudos.

Ela é suspeita de ter utilizado um carimbo com o registro profissional de outra pessoa para liberar o laudo dos órgãos de uma paciente de 40 anos que estava infectada com HIV, resultando na contaminação de outros três pacientes.

Ao Terra, a Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera afirmou que o diploma de biomédica apresentado por Jacqueline não é reconhecido pela instituição, que não o identificou em seus registros. “A Instituição não emitiu certificado de conclusão de curso de graduação, de qualquer natureza, para a Jacqueline Iris Bacellar de Assis”, informou.

O laboratório investigado, segundo o jornal Folha de São Paulo, afirma ter recebido o diploma de biomédica da funcionária no momento de sua contratação, além da carteira profissional com habilitação em patologia clínica. No entanto, ela afirmou desconhecer o documento. Inclusive, a clínica enviou o print da conversa em que a contratada teria enviado o documento da Unopar.

A assinatura de Jaqueline aparece em um dos laudos de uma mulher de 40 anos, que morreu no Hospital Municipal Albert Schweitzer, na Zona Oeste do Rio, depois de ter fígado e rins transplantados em maio deste ano. Cinco meses depois, um dos pacientes que recebeu os órgãos apresentou sintomas e, ao fazer a testagem, resultou positivo para HIV. 

Prisões

Além da prisão de Jacqueline, o médico ginecologista Walter Vieira, apontado como o responsável técnico pelo laboratório e que assinou um dos laudos com o falso negativo para o vírus HIV, foi preso pela Polícia Civil na Operação Verum nesta segunda-feira, 14, que mirou os suspeitos de envolvimento no caso.  

Ivanilson Fernandes dos Santos também foi preso pela ação. Ele seria um dos responsáveis técnicos pelos laudos. Segundo O Globo, Santos não quis falar com a imprensa e riu ao ser indagado sobre os crimes. Outro alvo de mandado de prisão é Cleber de Oliveira Santos, que é considerado foragido. 

Além das prisões, os agentes também cumpriram 11 mandados de busca e apreensão em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde fica a sede do laboratório, e na capital.

Nega envolvimento

De acordo com a Folha de S.Paulo, a defesa da funcionária disse que ela  "jamais trabalhou como biomédica", que "não tem capacidade técnica e nunca teve interesse na função". A mulher, conforme seu advogado, também alegou que não reconhece o diploma citado pelo laboratório, pois "jamais cursou ou tem a faculdade de biomedicina".

Antes de ser considerada foragida, ela deu entrevista ao jornal, ocasião em que relatou que passou a trabalhar na PCS Lab Saleme em outubro de 2023 como supervisora administrativa, e não assinava laudos. Jacqueline também disse que seu nome era usado como “laranja”. 

Segundo a investigada, o que ela fazia era uma “conferência” na qual verificava se estava “tudo digitado corretamente”, e depois enviava para “os médicos liberarem”. 

No último domingo, 13, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra de sigilo de dados de aparelhos eletrônicos apreendidos, conversas e análises de ligações efetuadas ou recebidas. Fotos e arquivos também poderão ser analisados. 

‘Maximização de lucro’

"Houve uma quebra do controle de qualidade, visando à maximização de lucro e deixando de lado a preservação e a segurança da saúde dos testes", disse o delegado André Neves, titular da Delegacia do Consumidor, sobre a conduta do laboratório PCS Lab Saleme, responsável por realizar os exames dos doadores de órgãos.

"As informações iniciais colhidas até o momento dão conta de que houve uma falha operacional de controle de qualidade nos testes aplicados ao diagnóstico de HIV. E tudo isso com o objetivo de obter lucro nessa questão dessas análises. A questão contratual também está sendo investigada pela Polícia Civil", explicou o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, segundo O Globo.

Ainda não há informações sobre quem seria o responsável direto pela flexibilização da rotina de segurança para a realização dos exames. Segundo o delegado Wellington Dias, titular da Delegacia do Consumidor (Decon), cerca de 300 pessoas estão sendo testadas novamente.

"Todas as pessoas que foram receptoras de órgãos estão sendo testadas, em torno de 300. Isso demanda um pouquinho de tempo, começou a ser feito, mas ainda não terminou", pontuou.

Fonte: Redação Terra
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