Técnico de enfermagem é preso após ser acusado de pegar corrente de ouro de paciente no litoral de SP
Caso ocorreu em PS de Praia Grande e foi registrado como receptação; investigado pagou fiança de R$ 5 mil e responde em liberdade
Um técnico de enfermagem, de 36 anos, foi preso em flagrante após ser acusado de pegar uma corrente de um paciente internado no Pronto Socorro (PS) de Praia Grande, no litoral paulista. Na delegacia, ele alegou que comprou a joia, avaliada em R$ 5 mil, de uma pessoa em situação de rua e acabou sendo liberado após pagar fiança . No entanto, o advogado da vítima alega que o caso se trata de um furto.
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O Terra teve acesso ao boletim de ocorrência, registrado no último domingo, 12, no qual é relatado que o homem, de 54 anos, deu entrada na unidade hospitalar após sofrer um acidente, no sábado, 11, e estava desacordado.
No local, foi entregue à família as roupas, um relógio, um chinelo e dois pingentes. Os filhos estranharam que a corrente não foi devolvida e questionaram a equipe, que informou que o pertence “não apareceu”. Em contato com outro envolvido no acidente, os familiares souberam que o pai estava usando o item quando foi socorrido pela ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Na manhã de domingo, a esposa da vítima e madrasta de seus dois filhos foi até uma padaria próxima ao hospital, onde se sentou no balcão, ao lado da equipe de saúde. Em dado momento, conforme o boletim, ela viu um deles com a corrente na mão. A mulher avisou os enteados, que foram até o local.
Um vídeo obtido pela reportagem (veja acima) mostra o momento em que o filho da vítima questiona o técnico de enfermagem a respeito do item. Inicialmente, ele aborda um homem de camiseta cinza, dentro do estabelecimento, que afirma ter recebido a corrente de um funcionário do hospital e o leva até o suspeito. Esse homem é socorrista de ambulância.
Na mesa em que o técnico está sentado, o familiar diz que a corrente é dele. “Mas essa corrente eu tenho faz tempo”, alega o funcionário do PS. “Não, não tem não. Foi sumiço meu, ontem. É essa daí. Eu tenho registro. Você tem a nota dela?”, questiona o filho do paciente. Depois, o técnico diz que achou a corrente na rua.
Mudança de versão
A Polícia Militar foi acionada, e o caso foi encaminhado para a Central de Polícia Judiciária de Praia Grande, onde o suspeito foi preso. Ele alegou na delegacia que comprou a joia de uma pessoa em situação de rua, durante a madrugada, por R$ 70. Segundo ele, o vendedor ainda teria pedido um cigarro e foi embora.
Depois, ele teria ido à padaria para tomar café e ofereceu o acessório para quem estava lá, pedindo a quantia de R$ 500. Até que disse ao socorrista – que foi encontrado com a corrente – que poderia ficar com ela, pois não usa corrente, mas “nada sério”, pois estava “brincando”, já que achou que “não valia nada”.
Ele ainda alegou que não teve contato com o paciente. Após o registro, foi estipulada a fiança de R$ 5 mil. O técnico pagou e foi liberado para responder ao caso em liberdade.
Defesa da vítima diz que foi furto
Em entrevista ao Terra, o advogado Matheus Tamada, que representa a família do paciente, explicou que a referida corrente foi um presente dado pela falecida esposa e mãe dos filhos do paciente. “Foi um presente de casamento. Era algo sentimental, tanto no aspecto material quanto sentimental”, destaca.
Para a defesa, o caso se trata de um furto qualificado e não de receptação, que é quando a pessoa adquire um bem ou produto proveniente de um crime.
“No crime de receptação a pena é muito mais branda, que é inclusive sujeito à fiança, mas a gente entende que houve um crime de furto qualificado. A pena é o dobro e, em tese, não faria jus à fiança. Se o delegado de polícia tivesse se atentado a isso, na oportunidade, ele ficaria preso em flagrante delito, não poderia ter sido liberado mediante pagamento de fiança”, explica Tamada.
O advogado também aponta que, neste caso, quem se enquadraria no crime de receptação seria o socorrista, encontrado inicialmente com a corrente de ouro. “Nós também vamos fazer denúncias ao Conselho Regional de Enfermagem aqui da região, para que eventualmente a conduta desse profissional de saúde seja investigada”, reforça.
Além disso, Tamata esclarece que pedirá uma indenização moral cabível mais à frente, contra o município e a gestora do hospital, que é a SPDM.
Outro lado
Em nota, a defesa do técnico de enfermagem, representada pelos advogados Maetê Bécker, André Vostoupal e Pedro Grobman, esclarece que a ocorrência foi registrada como receptação e não como furto.
“Qualquer julgamento antes do devido processo legal, inclusive antes mesmo da conclusão das investigações e até da eventual denúncia (acusação pelo Ministério Público) se torna prematuro e injusto com o averiguado, uma vez que ao longo do processo os fatos serão esclarecidos e eventualmente se houver algum culpado, este será responsabilizado”, diz.
Além disso, os advogados também apontam que o investigado é réu primário, com bons antecedentes e que exerce a profissão há mais de 15 anos, sendo dez no hospital onde o caso ocorreu, “nunca tendo se envolvido em qualquer ocorrência", o que demonstraria sua idoneidade e comprometimento com atividade lícita.
Já a SPDM, que administra a unidade, afirmou que a denúncia está sendo apurada e que a unidade contribuirá com as investigações policiais.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou o registro da ocorrência e afirmou que testemunhas foram ouvidas. O objeto foi recuperado e entregue aos familiares da vítima. O caso continua sendo investigado.