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Tragédia em Santa Maria

Kiss: abraços, doações e minuto de barulho marcam 8 meses da tragédia

Familiares de vítimas também ganharam mudas. Parte delas vai ser plantada no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

27 set 2013 - 21h57
(atualizado às 21h57)
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Grupo de adolescentes distribuiu abraços pelo centro de Santa Maria em homenagem às vítimas da Boate Kiss
Grupo de adolescentes distribuiu abraços pelo centro de Santa Maria em homenagem às vítimas da Boate Kiss
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

A sexta-feira foi mais um dia de pensar com muita saudade nas 242 pessoas que morreram na tragédia da Boate Kiss, em função do incêndio ocorrido na casa noturna no dia 27 de janeiro. No dia em que se completam oito meses da tragédia, várias atividades foram realizadas em Santa Maria (RS) para lembrar o acontecimento e homenagear as vítimas.

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A programação começou pela manhã, na praça Saldanha Marinho, no centro da cidade. Integrantes do Movimento Santa Maria do Luto à Luta e da ONG Para Sempre Cinderelas receberam doações de alimentos na barraca da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).

A cadeirante Vera Belony Comassetto foi surpreendida pelos abraços
A cadeirante Vera Belony Comassetto foi surpreendida pelos abraços
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

As doações serão entregues nesta segunda-feira à Creche Criança Feliz, o primeiro local que foi ajudado pela ONG criada por cinco mães de vítimas para dar continuidade ao trabalho voluntário desenvolvido pelas jovens que morreram. Na tragédia, Flávia Torres comemorava o aniversário de 22 anos ao lado das amigas Andrielle Righi da Silva, 22 anos, Vitória Dacorso Saccol, 22 anos, Gilmara Quintanilha, 21 anos, e Mirela Rosa da Cruz, 21 anos.

Juntos, os familiares das meninas arrecadam doações de roupas, alimentos e objetos de higiene para entidades carentes. A decisão de chamar a ONG de "Para Sempre Cinderelas" veio pelo "lado princesa" que todas as meninas tinham. Quatro sapatos de salto 9 centímetros e um tênis All Star são a marca registrada da organização.

Nesta sexta-feira, as mães de três delas ficaram de plantão na barraca da AVTSM à espera das doações: Ligiane Righi da Silva, mãe de Andrielle, Fani Villanova Torres, mãe de Flávia, e Gilzélia Quintanilha Oliveira, mãe de Gilmara. 

Tradicional "minuto de barulho" em homenagem às vítimas teve salva de palmas
Tradicional "minuto de barulho" em homenagem às vítimas teve salva de palmas
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

À tarde, quem passava pelo Calçadão e pela praça Saldanha Marinho foi surpreendido por estudantes, que distribuíram abraços. "Nesse dia em que a tragédia completa oito meses, nós queríamos passar uma mensagem que, se nos unirmos e nos abraçarmos, Santa Maria ficará mais feliz", contou Gabriela Moreira, 14 anos.

A iniciativa foi moldada a partir de contatos feitos entre colegas de escola e pelas redes sociais. Cerca de 20 adolescentes distribuíram abraços no centro. Quase todos eram moradores do bairro Camobi, na zona leste de Santa Maria. Uma das pessoas que foram surpreendidas pela iniciativa foi a cadeirante Vera Belony Comassetto, 57 anos, que foi abraçada por vários adolescentes. "Ganhar abraços é muito bom. Isso tinha que acontecer todos os dias. É do ser humano querer um abraço. Às vezes, você está triste, deprimido, e basta um abraço para a situação melhorar", comentou Vera.

No início da noite, familiares e amigos de vítimas se reuniram na praça dos Bombeiros, onde participaram do já tradicional "minuto do barulho", com palmas. Motoristas que passavam pelo local participaram buzinando. A senha para o começo da manifestação foi o badalar dos sinos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, em frente à praça.

À noite, familiares das vítimas participaram de culto ecumênico
À noite, familiares das vítimas participaram de culto ecumênico
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Os familiares entraram na igreja para um culto ecumênico ainda batendo palmas. A celebração foi comandada por representantes de diferentes religiões. Entre eles, o arcebispo metropolitano de Santa Maria, dom Hélio Adelar Rubert. Em sua manifestação, ele lembrou do encontro que teve com o papa Francisco em julho, no Rio de Janeiro, durante a Jornada Mundial da Juventude, quando conversou com o pontífice sobre a tragédia de Santa Maria.

Durante o culto ecumênico, houve um momento em que as cerca de 200 pessoas que assistiam à celebração foram convidadas a se abraçar. Após a cerimônia, familiares de vítimas receberam mudas, para simbolizar a vida. “Estamos agora em uma escada da vida. Eu não diria que vamos continuar vivendo, porque falta um pedaço. Mas temos que aprender a recomeçar. Essas mudas simbolizam esse recomeço", disse o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira.

De acordo com Adherbal, as mudas que sobrarem serão plantadas em um jardim que será feito no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em novembro.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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