Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Tragédia em Santa Maria

MP-RS responsabiliza 4 bombeiros e livra prefeitura em inquérito da Kiss

15 jul 2013 - 19h01
(atualizado às 19h37)
Compartilhar
Exibir comentários
Quatro oficiais do Corpo de Bombeiros foram apontados na Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público
Quatro oficiais do Corpo de Bombeiros foram apontados na Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) apontou nesta segunda-feira quatro oficiais do Corpo de Bombeiros do Estado por improbidade administrativa no inquérito civil instaurado após o incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), que deixou 242 mortos. Nenhum servidor da prefeitura foi responsabilizado na Ação Civil Pública.

A tragédia da Boate Kiss em números
Veja como a inalação de fumaça pode levar à morte 
Veja relatos de sobreviventes e familiares após incêndio no RS
Veja a lista com os nomes das vítimas do incêndio da Boate Kiss

Dois ex-comandantes - o coronel Altair de Freitas Cunha e o tenente-coronel Moisés da Silva Fuchs - e dois ex-chefes da seção de Prevenção a Incêndio do Comando Regional dos Bombeiros de Santa Maria - o coronel da reserva Daniel da Silva Adriano e o capitão Alex da Rocha Camillo -, que exerceram funções de chefia entre os anos de 2008 e 2013, foram incluídos na ação. Segundo o MP, os quatro tinham poder de decisão para que se implantasse em Santa Maria o software Sistema Integrado de Gestão de Prevenção de Incêndios (SIGPI), mas “deturparam” o uso desse sistema.

De acordo com os promotores responsáveis pelo caso, os quatro oficiais tiveram condutas que atentaram contra os princípios basilares da administração pública, como legalidade, moralidade e honestidade.

Com relação aos servidores da prefeitura que a Polícia Civil sugeriu incluir na ação, o MP entendeu que eles não praticaram crime de improbidade administrativa. Segundo os promotores, os funcionários do Executivo cumpriram a lei “de forma estanque”.

Apesar de não terem apontado servidores municipais por improbidade, os promotores entenderam que houve falhas administrativas em procedimentos internos de dois diferentes setores da prefeitura e, por isso, fizeram recomendações ao Executivo municipal. O Corpo de Bombeiros também foi notificado. Os dois órgãos têm 30 dias para fazer as adequações; caso não façam, o MP pode entrar com uma ação.

Antes das conclusões, familiares se reuniram com o MP para que os promotores do caso explicassem o que ia ser apresentado. Depois, alguns ficaram assistindo a entrevista coletiva. No fim, houve muita revolta por parte de parentes e vítimas pelo fato de ninguém da prefeitura ter sido apontado na ação. 

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade