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Tragédia em Santa Maria

RS: famílias de vítimas ficam mais próximas após tragédia da Boate Kiss

24 ago 2013 - 17h13
(atualizado às 17h21)
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<p>Familiares de vítimas da tragédia da Boate Kiss se reúnem em Santa Maria</p>
Familiares de vítimas da tragédia da Boate Kiss se reúnem em Santa Maria
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Kelli Anne Santos Azzolin, 24 anos, de São Luiz Gonzaga, Francieli Araujo Vieira, 22 anos, de Itaqui, Rafael Dias Ferreira, 21 anos, de Santa Maria (as três cidades no RS), e Bruna Caroline Occai, 22 anos, de Belmonte (SC), vieram de lugares diferentes, mas descobriram a amizade entre eles no mesmo local em que estudavam. Eles faziam parte de uma turma que tinha atividades no mesmo laboratório da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e saía reunida. Até tiraram a última foto reunidos na Boate Kiss na madrugada do dia 27 de janeiro, cerca de 20 minutos antes de o incêndio começar e causar a morte de 242 pessoas. A imagem foi descoberta por familiares cerca de dois meses após a tragédia, quando a máquina fotográfica de Bruna foi devolvida pela Polícia Civil a familiares dela.

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Kelli, Francieli, Rafael e Bruna partiram juntos na tragédia. Todos eram muito apegados. Porém, suas famílias não tinham qualquer contato entre si. Com a morte dos jovens, aqueles que perderam seus entes queridos se aproximaram e passaram a dividir a saudade e a tristeza, criando um forte laço de amizade que não existia antes da tragédia. Neste sábado, as quatro famílias se reuniram em uma vigília na praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, com direito a um carreteiro de charque preparado no local.

Flavio Azzolin, pai de Kelli, viajou de São Luiz Gonzaga para encontrar os familiares dos amigos da filha. “Assim a gente acaba se aproximando mais, já que nossos filhos eram tão ligados”, comenta Flavio. Já os parentes de Bruna percorreram mais de 400 quilômetros para prestar uma homenagem à jovem que morreu na tragédia. “A gente já pensou em ir a Santa Maria outras vezes, mas ficava pensando que era longe, se ia servir para alguma coisa (...) Mas acabamos vindo para a vigília, por homenagem à única irmã que eu tinha”, diz Carina Occai, que enfrentou seis horas de viagem, com outros 15 familiares e amigos de Kelli, para chegar à cidade da tragédia.

<p>Os amigos Kelli Anne Santos Azzolin, 24 anos, de São Luiz Gonzaga, Francieli Araujo Vieira, 22 anos, de Itaqui, Rafael Dias Ferreira, 21 anos, de Santa Maria (as três cidades no RS), e Bruna Caroline Occai, 22 anos, de Belmonte (SC), morreram no incêndio</p>
Os amigos Kelli Anne Santos Azzolin, 24 anos, de São Luiz Gonzaga, Francieli Araujo Vieira, 22 anos, de Itaqui, Rafael Dias Ferreira, 21 anos, de Santa Maria (as três cidades no RS), e Bruna Caroline Occai, 22 anos, de Belmonte (SC), morreram no incêndio
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Para aproximar mais ainda as famílias, foi feito um carreteiro em plena praça, com direito a charque trazido de Itaqui pela mãe de Francieli, Lisette Araújo Vieira. Diretora de uma escola na cidade natal da jovem que morreu na tragédia, ela contou com a ajuda de colegas no preparo da refeição. Fogareiro e panelas também vieram de Itaqui para garantir. O grupo todo lotou dois micro-ônibus. "Minha filha, às vezes, quando ia para Itaqui, queria me falar sobre os colegas, contar mais sobre eles. Mas eu não queria nem ouvir, era muito egoísta, queria ela toda pra mim. Isso serve de lição para a gente, para conhecermos mais a vida dos filhos, seus amigos (...) Que pena que tenha que ter acontecido isso para nos aproximarmos. Estou sempre em contato por telefone com as outras famílias."

Via de regra, a vigília dos familiares das vítimas da tragédia ocorre em uma pequena tenda, perto do Viaduto Evandro Behr. Neste sábado, como havia cerca de 70 pessoas participando e a chuva não deu trégua, todos se abrigaram sob um lonão colocada para eventos da prefeitura. Sobre o palco que fica no local, havia banners com as fotos dos jovens que morreram na tragédia. Um deles, inclusive, trazia a última imagem dos amigos reunidos.

<p>Com a morte dos jovens, aqueles que perderam seus entes queridos se aproximaram e passaram a dividir a saudade e a tristeza, criando um forte laço de amizade que não existia antes da tragédia</p>
Com a morte dos jovens, aqueles que perderam seus entes queridos se aproximaram e passaram a dividir a saudade e a tristeza, criando um forte laço de amizade que não existia antes da tragédia
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Atividades vão marcar os sete meses da tragédia

Na terça-feira, várias atividades estão marcadas em Santa Maria para a data que marca os sete meses da tragédia. A programação se inicia às 10h com a Caminhada da Saúde, com estudantes. Todos vão se concentrar em frente à Kiss, aguardando a chegada de uma cavalgada que partiu de São Gabriel (RS) na sexta-feira e terá percorrido mais de 140 quilômetros para homenagear as vítimas. A chegada dos cavaleiros está marcada para 11h.

Às 13h, haverá uma missa crioula no Altar-Monumento do Parque da Medianeira, organizada pelos tradicionalistas. O ato ecumênico oficial, organizado pela Associação dos Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) está marcado para as 19h, na Igreja Episcopal Anglicana, na avenida Rio Branco, no Centro. Antes da celebração, será feito o já tradicional “minuto de barulho”, com palmas para as vítimas.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial Especial 
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