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Tragédia em Santa Maria

RS: mães que perderam filhos na tragédia de Santa Maria ganharão anjos

Iniciativa partiu de uma moradora de Santos (SP) que viajará a Santa Maria para entregar os adereços

18 abr 2013 - 07h58
(atualizado às 07h58)
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Hagar Fernandes, a moradora de Santos que se sensibilizou com as mães das vítimas de Santa Maria
Hagar Fernandes, a moradora de Santos que se sensibilizou com as mães das vítimas de Santa Maria
Foto: Facebook / Reprodução

No próximo Dia das Mães, a iniciativa de uma moradora de Santos (SP), cidade que está a 1.331 quilômetros de Santa Maria (RS), pretende levar um pouco de conforto às famílias que perderam parentes na tragédia da boate Kiss. Sensibilizada com o que aconteceu, uma depiladora vai entregar um anjo personalizado, feito de porcelana, para cada mãe que perdeu um filho ou uma filha no incêndio da casa noturna.

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A ideia partiu de Hagar Fernandes. Inicialmente, ela pensou em mandar corações para as famílias. Depois, ao ver uma mãe dizer na TV que “o filho tinha virado um anjo”, o projeto mudou. Como sua sogra, a artista plástica Tereza Marchi, sempre faz anjos de porcelana para o Natal, as duas conversaram, e nasceu o projeto Meu Filho, Meu Anjo. “Eu nem sei onde fica Santa Maria, mas fiquei muito sensibilizada, muito emocionada com a tragédia, e resolvi fazer algo”, diz Hagar, que ganhou a adesão de amigas e de empresas de Santos.

Tereza faz os anjos em sua casa, sozinha. Cada um demora aproximadamente três horas para ser feito. O resultado da produção poderá ser conhecido no Dia das Mães, 12 de maio, em Santa Maria, quando Hagar, seu marido e duas amigas irão à cidade para participar de um evento promovido pela Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).

Cada mãe que perdeu um rapaz vai receber um anjo com traços masculinos, de cabelo encaracolado. Cada mãe que perdeu uma garota ganhará um anjo com traços femininos, de franjinha. No total, serão entregues 241 anjos (116 meninas e 125 meninos), cada um levando, no meio das mãos, um terço e a oração de Santo Agostinho.

"Não sabia o que dizer"

O impulso final para a ação dos anjos foi o fato de Hagar ter conhecido Ogier Rosado, membro da diretoria da AVTSM e pai de Vinicius Rosado, que salvou 14 pessoas do incêndio na Kiss e acabou morrendo. Ogier esteve em Santos para conhecer a iniciativa Ação do Coração, que espalha pela cidade litorânea corações de pano confeccionados por voluntários.

Ao encontrar Ogier pela primeira vez, Hagar não sabia o que dizer: “Quando encontrei com ele, comecei a chorar. Não sabia o que dizer. O que a gente fala para um pai que o filho salvou 14 pessoas e morreu? Então, nos abraçamos”. Depois os dois conversaram, e Ogier prometeu apoio à ideia. Como o voo dos quatro santistas pousará em Porto Alegre, uma van deve buscar o grupo e levá-lo a Santa Maria. Helga, o marido e duas amigas chegarão na véspera do Dia das Mães.

<p>'Eu nem sei onde fica Santa Maria, mas fiquei muito sensibilizada, muito emocionada com a tragédia, e resolvi fazer algo'</p>
'Eu nem sei onde fica Santa Maria, mas fiquei muito sensibilizada, muito emocionada com a tragédia, e resolvi fazer algo'
Foto: Facebook / Reprodução

A campanha é realizada por meio de doações. Entre as despesas com materiais e a viagem de Santos para Porto Alegre,  os custos chegam a R$ 12 mil. Para quem quiser ajudar, doações podem ser feitas no Banco Itaú, agência 8640, conta 09373-1. Hagar também coloca o seu telefone à disposição para quem quiser mais informações: (13) 9779-8922.

No dia 12 de maio, são esperadas também para fazer homenagens a familiares de vítimas em Santa Maria grupos de mães de Santana do Livramento (RS), Caxias do Sul (RS) e São Gabriel (RS).

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 241 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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