A ex-relações públicas da boate Kiss Vanessa Vasconcellos, 23 anos, disse que as reformas na casa eram constantes e feitas sem o mínimo auxílio técnico. “A gente falava para ele não fazer, todo mês tinha reforma, ele ria e dizia que não precisava de faculdade para fazer as reformas”, afirmou a jovem, que perdeu a irmã no dia da tragédia.
Segundo ela, as reformas eram feitas por um primo de Kiko Spohr, dono da Kiss, sem o mínimo de aconselhamento técnico. “A colocação da espuma ele decidiu fazer depois que a casa foi multada várias vezes por causa do barulho”, afirmou. Ainda de acordo com ela, Kiko era muito instável e constantemente mudava de ideia. “Às vezes estava tudo pronto, mas de repente ele mudava de opinião e trocava tudo”, disse.
Segundo Vanessa, os extintores ficavam no palco, já que Kiko não gostava da aparência dos equipamentos. “Era uma casa que quase não tinha equipamentos”, afirmou. Ela contou que deixou de trabalhar no local por conta dos inúmeros problemas que teve com Kiko. “Ele me deu aviso prévio e parei de trabalhar. Depois o Kiko disse para meu pai que era só um susto, mas ele nunca concluiu minha demissão. Até hoje sou funcionária da casa, já entrei até na Justiça por causa disso”, revelou.
A ex-funcionária contou que conhece o proprietário da Kiss há muito tempo. "O Kiko foi pobre até os 13 anos de idade porque não sabia quem era seu pai, depois veio a saber que era o dono da GP Pneus", disse. Segundo ela, Kiko colocou a boate no nome da mãe e da irmã porque “era muito mulherengo e tinha medo de levar um golpe”.
"Inimiga pessoal"
O advogado Jader Marques, que defende Kiko Spohr, disse, em entrevista ao Terra, que Vanessa é "inimiga pessoal" de seu cliente. "Ela é inimiga pessoal dele há algum tempo, teve uma discussão forte com ele. Como a irmã faleceu no incêndio, consideramos que isso tudo é produto da raiva dela."
Segundo o defensor, por causa da desavença pessoal, a ex-funcionária "vai fazer o que puder contra ele (Kiko)". "Ela já estava fazendo antes, com a ação trabalhista. Só posso classificar isso tudo como fruto da desavença ligada à ação", disse.
Jader afirmou que não pretende acionar a Justiça contra Vanessa. "De maneira nenhuma faremos isso, porque existe uma compreensão em relação a dor que as pessoas estão sentindo, é normal que aconteça esse tipo de coisa. Com essa questão da perda da irmã, ela está 'dentro do direito' dela. Não podemos exigir uma postura mais racional, mais ponderada", disse o advogado.
Um incêndio de grandes proporções deixou mais de 230 mortos na madrugada deste domingo em Santa Maria (RS). O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo iniciou com um sinalizador lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária.
Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pessoas foram pisoteadas. "Na hora que o fogo começou foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair", contou. O local foi interditado e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.
A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e parentes dos mortos.
Em novembro de 2001, um incêndio na casa de shows Canecão Mineiro, deixou sete pessoas mortas e 197 feridas. Hoje, no lugar onde funcionava o estabelecimento, outra boate foi aberta
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
No local, cinco saídas de emergência levam direto para a rua. As portas abrem com facilidade
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
As saídas de emergência são de fácil visualização e vazão
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Placa informa limite para segurança da casa de show
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Video informativo mostra o procedimento de segurança da boate
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Vítima do incêndio de 2001, Giselle teve que fazer seis cirurgias no joelho e ficou dois anos em tratamento
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução
Para fazer a cirurgia, ela ficou 20 dias internada para desintoxicação
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução
Reprodução de vídeo mostra como o incêndio começou