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Tragédia em Santa Maria

Vocalista diz que dono da Kiss mentiu sobre fogos: 'não foi a 1ª vez'

19 mai 2013 - 22h34
(atualizado às 22h40)
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O vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, acusado de provocar o incêndio que matou 242 pessoas na madrugada do dia 27 janeiro na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), disse que Elissandro Spohr, o Kiko, um dos donos da casa noturna, mentiu ao afirmar que não sabia que a banda faria um show pirotécnico no local. Ambos estão presos na Penitenciária Estadual de Santa Maria. "Ele (Kiko) está mentindo, ele sabia. Ele sabia, porque a gente toca na boate dele desde 2010", disse Marcelo. O vocalista afirmou ainda que não foi o fogo de artifício preso em sua luva que deu início às chamas dentro da boate - testemunhas afirmaram que Marcelo ergueu a mão, fazendo com que o artefato encostasse no teto. "O Luciano (Bonilha, produtor da banda, também preso) botou na minha mão. E eu simplesmente só fiz esse movimento da esquerda para direita", explicou. Marcelo disse não saber o que deu início ao incêndio. "Essa é a pergunta que a gente faz, até agora eu não sei porque eu não vi como começou." As informações são do Fantástico.

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“Eu toquei, fiz o show pirotécnico que tinha que fazer. O Luciano tirou a luva da minha mão, continuei tocando, terminei de cantar. Quando eu fui puxar a outra música, já tinha passado uns três minutos, no máximo uns três minutos, meu irmão me chamou e apontou pra cima. Eu olhei e era um fogo”, disse o vocalista. Marcelo também afirmou que gritou após perceber o início do incêndio - no relatório da tragédia, a Polícia Civil afirmou que ele “não se preocupou” em avisar sobre o fogo no microfone. "Eu não sei se eu avisei no microfone porque eu já estava com o extintor na mão. Eu larguei o microfone no chão e comecei a gritar: ‘fogo, fogo’", disse Marcelo. Um dos vídeos gravados na noite da tragédia mostra que, depois de largar o extintor, o vocalista esteve com um microfone nas mãos. A gravação não mostra Marcelo gritando. O vocalista disse ainda que “não entende nada” de artefato pirotécnico e que os fogos foram comprados por Luciano, depois que o dono da loja deu “total garantia” de que não haveria perigo em utilizar o artefato em local fechado.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Terra
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