Universidades de SP cogitam suspender aulas por falta d’água
Maior preocupação é com hospitais, que deverão ter prioridade em caso de rodízio; reitores cobram informações “detalhadas” sobre a crise para criar planos de contingência
Em meio à pior crise de abastecimento de água da história do Estado de São Paulo, reitores de universidades públicas já se organizam para cobrar informações detalhadas do governo Geraldo Alckmin (PSDB) a respeito da situação dos reservatórios e, assim, ter condições de preparar planos de contingência. Diante de um cenário pessimista, com rodízio “drástico”, as instituições não descartam a suspensão de aulas e pesquisas, mas afirmam que os hospitais universitários teriam prioridade para continuar funcionando.
“Como qualquer plano de contingência, ele deve prever alguns cenários, desde os mais otimistas até os mais pessimistas, com suspensão de alguns tipos de atividade para que o nosso dia a dia seja compatível com o fornecimento de recursos hídricos”, disse o vice-reitor da Universidade de Campinas (Unicamp), Álvaro Crósta.
A declaração foi dada em entrevista coletiva concedida por reitores e vice-reitores de seis universidades públicas do Estado (USP, Unesp, UFABC, UFSCar, Unicamp e Unifesp), além do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e da ONG Rede Nossa São Paulo.
De acordo com Soraya Smaili, reitora da Unifesp, ainda não há previsão de suspensão das atividades. Segundo ela, as universidades aguardam respostas para os questionamentos enviados aos órgãos competentes antes de definir qualquer mudança no calendário. “Por enquanto está mantido (o calendário), não há suspensão de aula alguma. A ‘calourada’ está chegando aí semana que vem”, disse Soraya. “Precisamos saber de quanto tempo será (o eventual rodízio), quando vai começar, qual é a capacidade dos nossos reservatórios. Precisamos fazer esse cálculo. E esse cálculo só é possível quando você tem a informação completa”, disse.
"Nós fizemos esse movimento de nos juntarmos agora. Não é possível dizer se (as respostas) foram satisfatórias ou insatisfatórias. Eu diria que nem uma coisa, nem outra”, completou.
Hospitais
Atualmente, a maior preocupação da Unifesp é com o Hospital São Paulo, o segundo maior do Estado e responsável por 3,5 milhões de atendimentos de consultas ambulatoriais por ano, de acordo com Soraya. “Na questão da água, nosso foco no momento é o Hospital São Paulo. Já estamos traçando todos os diagnósticos possíveis para podermos continuar atendendo a população sem interrupção”, afirmou.
A reitora da Unifesp afirma que, recentemente, a direção do Hospital São Paulo foi informada de que está em uma lista de instituições que teriam prioridade de abastecimento em um eventual rodízio ou racionamento de água. Em nota, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado esclareceu que não existe uma lista. "Em caso de necessidade de medidas mais drásticas, o que ainda não foi definido, escolas e hospitais terão atendimento prioritário para assegurar que não fiquem sem fornecimento de água", diz a nota.
A reitora, contudo, afirma que é preciso saber de que forma se dará o abastecimento. “Não sabemos ainda qual vai ser o esquema desse abastecimento em caso de rodízio. Nós queremos muito essa informação e por isso também estamos nos colocando à disposição do governo do Estado para pensar essa questão dos hospitais, porque nós temos conhecimento e experiência nessa área”, afirmou Soraya.
Os representantes das universidades definiram ainda a criação de um “fórum de reitores” para tratar diversas questões, começando pela crise hídrica, e ainda o desenvolvimento de um painel técnico-acadêmico com pesquisadores que poderão auxiliar os governos federal, estaduais e municipais a lidar com a crise, propondo medidas de curto, médio e longo prazo.