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Veja como ficará o centro histórico de SP sem o piso de pedras portuguesas

Região passará por reforma no segundo semestre, com troca da pavimentação, iluminação e sinalização para turistas

11 mai 2022 - 05h10
(atualizado às 07h45)
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ANTES E DEPOIS: Praça Antônio Prado terá novo visual sem o tradicional mosaico português
ANTES E DEPOIS: Praça Antônio Prado terá novo visual sem o tradicional mosaico português
Foto: Reprodução e SPObras

O centro histórico de São Paulo passará por reformas no segundo semestre deste ano e a principal mudança será a troca do pavimento das calçadas e calçadões, incluindo as áreas com o "mosaico português", datado dos anos 1970. O projeto abrange uma área de cerca de 63 mil m² de 22 ruas do chamado "centro velho".

"As pedras portuguesas serão trocadas por piso de concreto similar ao que há no (Vale do) Anhangabaú", afirma o secretário de Infraestrutura Urbana e Obras e presidente da SPObras, Marcos Monteiro. A proposta é discutida há mais de uma década, a fim de melhorar a acessibilidade e facilitar a manutenção das vias na região central. Em 2019, por exemplo, um projeto piloto fez a troca do piso para opções em concreto em um trecho da Rua Dr. Miguel Couto.

A medida divide opiniões. Críticos consideram a troca das pedras portuguesas por piso de concreto o apagamento de um elemento característico do centro paulistano e que maior investimento em zeladoria seria suficiente. Já defensores ressaltam que a configuração atual é uma barreira para deslocamentos de pessoas com deficiência, por ter desníveis e um possível maior risco de quedas.

O projeto municipal ainda prevê a implementação de acessibilidade universal, de uma nova sinalização turística e da iluminação funcional e cênica, além da instalação da infraestrutura subterrânea de drenagem e implantação de valas técnicas para melhor ordenamento das redes de telecomunicações. O investimento previsto é de R$ 80 milhões.

Segundo Monteiro, também há um projeto em fase finalização para a reforma do quadrilátero da República, o chamado "centro novo" - região entre o Vale do Anhangabaú e a Praça da República. "A requalificação do centro histórico faz parte de uma requalificação maior do centro, com a intervenção no Largo do Paiçandu, no cruzamento das avenidas Ipiranga e São João, o retrofit dos edifícios e ações sociais para minimizar população de rua no centro da cidade", diz o secretário. Paralelamente às melhoras de infraestrutura, o secretário diz que espera um incremento das condições para o comércio e para os frequentadores da região.

ANTES E DEPOIS: Comparativo do calçadão da Rua Três de Dezembro atualmente e como ficará após as obras de substituição do piso
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Foto: Reprodução e SPObras

O projeto está em fase de licitação - no próximo dia 20, a Prefeitura realizará a abertura das propostas na concorrência para definir a empresa que realizará as obras. A previsão é de que as obras terão duração de 22 meses, sendo metade do tempo destinado à restauração dos calçadões das ruas internas, e a segunda metade destinada às ruas periféricas.

"Não fecharemos todos os acessos às ruas. As obras serão feitas em trechos alternados para que não haja interrupção total da passagem de pessoas e veículos por essas vias", afirma o secretário de Infraestrutura Urbana e Obras. "Nessa primeira fase (primeiros 11 meses), não devemos ter praticamente reflexo nenhum nas ruas, porque estaremos mexendo nas vias onde não há trânsito, exceto pela circulação de caminhões e descarga de material, que faz parte da obra", completa.

Padrão de urbanização da cidade

Para Fernando Atique professor de História, Espaço e Patrimônio Edificado da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), historicamente, as calçadas e os calçadões de São Paulo são elementos emblemáticos usados como representação de força política pelos representantes da cidade.

Ele diz que as pedras portuguesas - pavimentação utilizada atualmente no centro histórico - têm um valor importante por serem duráveis e permitirem a infiltração de água. "Mas, por causa do peso de transporte e obras, elas acabaram se deteriorando, até porque é um piso muito difícil de ser reassentado, precisa de uma tecnologia ancestral", explica. "Quando são feitas obras que precisam retirar o piso daquela área, acabam reassentando de forma incorreta, porque dá muito trabalha para refazer o desenho das pedras portuguesas". E sem a manutenção correta e frequente, esse tipo de piso perde a assessibilidade, afirma.

Atique diz que, por outro lado, a proposta de pavimentação de concreto proposta pela Prefeitura "joga fora" o desenho convidativo das calçadas antigas. "A proposta é eficiente quando pensamos em acessibilidade, mas destrói a beleza e arborização da área, porque muitas árvores terão de ser retiradas para as obras e, mesmo reaborizando, as condições não serão as mais adequadas, pois o piso de concreto não permite absorção da água como os outros, tem menos infiltração", opina.

Prefeitura de São Paulo vai trocar calçamento de pedra portuguesa por concreto no centro histórico
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Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Ele questiona a real necessidade de se reformar a região e diz que as pedras portuguesas poderiam ser mantidas com reparação constante. "Qual o custo social de reparar essas áreas que há dois séculos vêm sendo reconstruídas e deixar de lado outras áreas que nem calçadas tem?", indaga.

"Uma alternativa seria ensinar a técnica do mosaico português como profissão para uma manutenção constante e adaptação ao modelo de acessibilidade universal, o que beneficiaria também a população desempregada, uma questão pertinente à Prefeitura, e não perderíamos um desenho histórico e consagrado do centro histórico de São Paulo", afirma. "A troca por concreto é mais imediata e elimina manutenção, mas joga fora histórico de padrão de urbanização da cidade", completa.

Calçadões do centro velho de São Paulo enfrentam problemas de manutenção
Calçadões do centro velho de São Paulo enfrentam problemas de manutenção
Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Acessibilidade no centro

Para Lina Santos, coordenadora de Terapia Ocupacional da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e especialista em acessibilidade, a obra é necessária para garantir o direitos de circulação das pessoas com deficiência. "Vimos outras regiões de São Paulo sendo revitalizadas com foco em acessibilidade, mas não o centro, que realmente precisa dessa reforma, pois permite o acesso à história da cidade com segurança", diz.

"O número de pessoas que frequenta é muito grande, inclusive de pessoas com deficiência. Então, a troca do piso tem uma importância significativa, porque o concreto é um piso liso, de manutenção mais fácil do que o piso português, além da instação do piso tátil - questões fundamentais para pessoas cadeirantes e com deficiência visual", reforça.

Estadão
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