Vila Cruzeiro: 11 dos 23 mortos não tinham processos criminais na Justiça
Levantamento do 'Estadão' em sites da Justiça acha ações penais contra 12 das vítimas fatais da operação policial; pesquisa recuou até 2000
Após a operação policial que causou a morte de 23 pessoas na Vila Cruzeiro (zona norte do Rio), na terça, 24, autoridades do Rio afirmaram que quase todos os mortos eram criminosos. Eles teriam morrido porque confrontaram os agentes de segurança, conforme a versão oficial das autoridades. A exceção era uma mulher atingida por uma bala perdida dentro da própria casa. Mas onze das 23 vítimas não respondiam a processos criminais, segundo pesquisa feita pelo Estadão em sites do Poder Judiciário estadual.
Dos doze que eram ou já foram processados na esfera penal, nove eram acusados de crimes no Estado do Rio. Dois respondiam a processos criminais no Pará. Um era processado no Amazonas. A pesquisa não teve como detectar eventuais investigados em inquéritos. Nessa fase, as investigações ainda não viraram processos na Justiça.
A cabeleireira Gabriella Ferreira da Cunha, de 41 anos, não participou de nenhum confronto com policiais, nem era processada criminalmente. Morreu após ser atingida por uma bala perdida. Estava dentro da própria casa, na favela da Chatuba, vizinha à Vila Cruzeiro.
Os demais, segundo a Polícia, morreram em confrontos. Mas Leonardo dos Santos Mendonça, Emerson Stelman da Silva, Carlos Henrique Pacheco da Silva, Douglas Costa Donato, João Carlos Arruda Ferreira, Ricardo José Cruz Zacarias Junior, Nathan Werneck Borges Lopes, Everton Nunes Pires, João Victor Moraes da Rocha e Luiz Carlos Gonçalves Cordeiro não respondiam a processos criminais. A pesquisa realizada pela reportagem foi até o ano 2000.
Anderson de Souza Lopes, Diego Leal de Souza, Maycon Douglas Alves Ferreira da Silva, Tiugo dos Santos Bruno, Edmilson Felix Herculano, Izaias Vitor Marques Nobrega, Patrick de Andrade da Silva, Denis Fernandes Rodrigues e Carlos Alexandre de Oliveira Rua tinham ações penais encerradas ou em curso na Justiça do Rio. Roque de Castro Pinto Junior respondia a três processos no Judiciário amazonense. Mauri Edson Vulcão Costa e Eraldo de Novaes Ribeiro eram processados criminalmente no Pará - cada um duas vezes.
Embora a pesquisa tenha usado refinamento na tentativa de excluir homônimos, não é impossível que tenham sido encontradas pessoas com nome idêntico às vítimas. Isso aumentaria o número de mortos sem processos criminais na Justiça do Rio.