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Voluntária de projeto social está entre as vítimas de Petrópolis; imóvel foi soterrado

Conhecida como 'Dona Fia', Maria das Graças de Paiva Destro, 73 anos, está entre as vítimas da tragédia desta terça-feira, 15. Projeto do Morro atende mais de 500 crianças e adolescentes de maneira voluntária há 13 anos

17 fev 2022 - 01h24
(atualizado às 07h09)
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Uma integrante da diretoria do Projeto do Morro, que atende voluntariamente cerca de 500 crianças e adolescentes em Petrópolis, está entre as vítimas que os desabamentos de terra na cidade causados pela chuva, nesta terça-feira, 15. Maria das Graças de Paiva Destro, 73 anos, mais conhecida como 'Dona Fia', morava ao lado da sede do projeto e estava em casa no instante em que o deslizamento destruiu todos os imóveis do entorno.

O corpo de Dona Fia estava soterrado e foi encontrado na tarde desta quarta-feira, 16, na área conhecida como Servidão Frei Leão. Ela era conselheira voluntária do Projeto do Morro há cerca de 10 anos, desde que a sede foi instalada no local. Foi uma das primeiras a acolher e a ajudar o trabalho de Bruno Gonçalves, idealizador do projeto. "Era uma pessoa muito acolhedora e que nos ajudava sempre que era preciso", contou.

Dona Fia costumava cozinhar para os participantes e colaboradores do projeto em eventos e comemorações da organização. Segundo conta Bruno, ela acreditava no projeto e nunca se negava a ajudar por saber que o trabalho desenvolvido poderia mudar a vida de centenas de jovens vulneráveis socialmente. "Era uma pessoa de um calor muito bom, que nunca nos negou ajuda, e a perda é muito triste, dela e de muitos vizinhos", disse o idealizador.

Dona Fia, de 74 anos, está entre as vítimas da tragédia de Petrópolis nesta terça-feira, 15. Ela fazia parte da diretoria do Projeto do Morro, que atende mais de 500 crianças e adolescentes na cidade
Dona Fia, de 74 anos, está entre as vítimas da tragédia de Petrópolis nesta terça-feira, 15. Ela fazia parte da diretoria do Projeto do Morro, que atende mais de 500 crianças e adolescentes na cidade
Foto: Reprodução/Redes sociais / Estadão

Outros vizinhos que se relacionavam com o Projeto do Morro também morreram. Na estimativa de Bruno Gonçalves, a área - que faz parte do Morro da Oficina - tinha cerca de 50 imóveis. Nas fotos e vídeos desta quarta, nenhum deles está visível. Só é possível ver terra no local. "Perdemos muitos moradores queridos. A Helena, o Eli, o Gilberto. Nós víamos todos diariamente, porque eram da vizinhança", continuou. "A Servidão Frei Leão não existe mais. Não existe mais casa, endereço."

Dona Fia deixa seis filhos e mais de 10 netos. Um dos netos dela, adolescente de cerca de 16 anos, chegou a ser atingido pelas enchentes, mas sobreviveu.

Projeto do Morro

A sede do Projeto do Morro também foi soterrada. Era um imóvel comprado por Bruno Gonçalves há cerca de uma década e reformado ao longo dos anos, com o crescimento do projeto. Com a ajuda da comunidade, ele construiu 4 andares, reformou cozinha, ampliou áreas para dar aulas de judô e dança e ofertar cursos de gastronomia, cabeleireiro, manicure, desenho, empreendedorismo digital e outros. Tudo foi perdido.

Bruno, professor de dança, chegou a morar no imóvel, mas saiu há cerca de 5 anos com a esposa e três filhos para morar numa área distante cerca de 40 minutos - não atingida pelos deslizamentos. Nesta terça-feira, ele estava na sede durante a tarde para realizar manutenções na estrutura e precisou sair para pegar os filhos na escola duas horas antes do soterramento. Ele afirma que, se não fossem os filhos, teria decidido ficar no local para esperar a chuva passar.

A tragédia também aconteceu em um dia em que não há atividades do projeto. Ninguém estava no imóvel na hora do deslizamento. "Foi um livramento porque no dia anterior tínhamos uma turma de judô tendo aula na mesma hora em que aconteceu o deslizamento. Também foi um livramento para mim, que saí pouco antes da tragédia para pegar meus filhos", contou Bruno.

Para ele, a tragédia ainda não foi assimilada. Além da perda de Dona Fia e dos vizinhos, a perda do projeto que criou 13 anos atrás com a intenção de dar oportunidade a crianças e jovens é inacreditável. "Eu me sinto muito confuso, às vezes eu choro muito. Minha vontade é não estar lá, não ver, mas nessa última noite eu não consegui dormir e fui lá hoje para ajudar as pessoas que eu via diariamente", disse.

Ajuda financeira

As perdas com o soterramento da sede do Projeto do Morro chegam a R$ 700 mil, segundo Bruno. A organização havia investido recentemente para ampliar a cozinha do local e ofertar o curso de gastronomia. Na próxima semana, teriam início novas turmas dos cursos profissionalizantes do local.

Além disso, a sede tinha sofrido prejuízo no ano passado, quando uma tempestade destruiu o telhado. Neste mês, Bruno ainda tentava arrecadar a quantia necessária para a reforma, mas não interrompeu as aulas com a ajuda de voluntários e doadores.

Entretanto, com a tragédia desta terça-feira, a organização iniciou uma campanha de doação para tentar se reerguer. "Qualquer valor é bem vindo. Petrópolis tem 300 mil habitantes. Se cada um doar 50 centavos que seja, já conseguimos arrecadar uma boa quantia para nos reerguer", afirma.

Saiba como ajudar

O Projeto do Morro está recebendo doações pelo Pix. Para mais informações, acesse o perfil da organização no Facebook através deste link ou no Instagram através do @projetodomorro.

Associação Projeto Do Morro

Chave Pix - CNPJ:

25.092.829/0001-92

Estadão
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