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Cientistas mostram teste de câncer que dá resultado em 90 minutos

11 out 2014 - 18h11
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Camilla Costa

Enviada especial da BBC Brasil ao Rio de Janeiro

Do encontro de jovens cientistas com familiares a amigos afetados pelo câncer, nasceu uma pesquisa que pode tornar o diagnóstico da doença mais rápido e acessível em cerca de cinco anos.

O primeiro protótipo do teste foi apresentado pela primeira vez ao público no evento de conferências TEDGlobal, no Rio, pelo engenheiro eletricista mexicano Jorge Soto, de 29 anos.

Soto fundou a empresa mirOculus com um grupo de colegas da Singularity University – uma instituição privada no Vale do Silício, na Califórnia - para desenvolver um teste que analisa padrões de microRNA nas células do sangue.

Dias antes de sua palestra no evento – famoso pelo foco em tecnologia e ideias inovadoras – Soto foi apresentado por amigos à BBC Brasil como "um cara que vai salvar a humanidade". Após sua apresentação, foi ovacionado, de pé, pela plateia internacional.

Um ano e meio atrás, o mexicano deu início a uma parceria com a bióloga molecular grega Fay Christodoulou, de 31 anos, para uma tentativa ambiciosa de democratizar o acesso ao diagnóstico de câncer nas fases iniciais e diminuir a espera de possíveis doentes por um tratamento que possa curá-los.

Eles foram motivados por experiências pessoais: Christodoulou tem um grande amigo em tratamento contra o câncer. A tia de Soto, por sua vez, está também em tratamento. E outro dos fundadores da empresa, um médico, perdeu ambos os pais para a doença há cerca de um ano.

"Temos processos do século 21 para tratar o câncer e processos do século 20 para diagnosticá-lo. Isso precisa mudar", disse Soto em sua fala no TEDGlobal. O dispositivo já pode detectar ao menos quatro tipos de câncer: na mama, no pulmão, no pâncreas e no fígado.

Método inovador

Fay Christodoulou investigava os microRNAs – moléculas de RNA envolvidas na regulação dos genes e na regulação de proteínas no organismo – desde 2005. "Recentemente, os microRNAs têm sido considerados os biomarcadores do futuro, que podem revelar a existência de diversas doenças no organismo", disse a bióloga à BBC Brasil.

Segundo Christodoulou, eles são mais confiáveis como marcadores do que outras proteínas – eles se diferenciam dependendo do tecido em que estão no corpo. "Quando os encontramos no sangue, eles contam uma história, podem nos dizer onde no corpo o tumor está."

"Atualmente, você precisa procurar por cada tipo de câncer separadamente. Com essa ideia, estamos oferecendo uma plataforma agnóstica. Detectamos os microRNAs e cruzamos essa informação com a literatura existente para definir qual é o câncer", explica.

Barateando o processo

"Até hoje precisamos de máquinas caras para trabalhar com microRNAs", disse Jorge Soto à BBC Brasil. "O tipo de máquinas que Fay usa em seu laboratório na Alemanha custa de US$ 25 mil a quase US$ 1 milhão."

"Então precisávamos tentar detectar o câncer de forma mais acessível, usando ferramentas já existentes: temos impressoras 3D, temos a ciência dos dados, temos smartphones. O que podemos fazer com essas ferramentas?"

A combinação do trabalho de ambos resultou no produto, que eles definem como uma "armadilha bioquímica" para diferentes tipos de microRNA.

O processo de diagnóstico precisa apenas de 2 ml de sangue para funcionar. Com essa amostra, o laboratório pode extrair o RNA sanguíneo com kits já disponíveis comercialmente, que custam cerca de US$ 5, segundo Fay Christodoulou.

A novidade criada por Fay e Jorge Soto é um kit químico de plástico, que tem diferentes substâncias em cada receptáculo e deve receber o RNA do sangue do paciente.

Ele então é colocado em um recipiente cilíndrico feito em uma impressora 3D, que criará as condições de temperatura ideais para que as reações químicas aconteçam em cada tubo do kit.

Essas reações fazem com que o microRNA sanguíneo "brilhe" de formas diferentes, o que pode indicar se há câncer, onde ele está e em que estágio provavelmente se encontra.

O protótipo da máquina tem uma abertura para um smartphone, cuja câmera pode fotografar o ambiente onde acontecem as reações químicas. "Nossa inovação é criar uma maneira de tornar essas reações visíveis sem que seja necessário um dispositivo especial", diz Christodoulou.

O telefone funciona como o computador desse dispositivo. Ele tira fotos das reações, que levam cerca de 90 minutos para ocorrer, e as envia por um aplicativo aos servidores da empresa, onde elas serão processadas e comparadas com uma base de dados.

"Se você faz tudo continuamente, desde a hora em que tira o sangue até o resultado final seriam cerca de duas horas", assegura Christodoulou.

Eles agora estão trabalhando em uma nova versão do produto que pode prescindir do telefone. A própria máquina poderá fotografar as reações e enviá-las para a base de dados dos cientistas.

"Já estamos fazendo testes clínicos neste momento e continuaremos fazendo outros durante o próximo ano. Para ter isso disponível em consultórios médicos precisamos passar pelo processo de regulação, que dura cerca de três anos", afirma Soto.

O dispositivo deverá custar US$ 500 e o teste custará até US$ 150 – no total, cerca de 50 vezes menos do que os métodos disponíveis de diagnóstico atualmente, de acordo com o engenheiro mexicano.

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