Com colapso de oxigênio, AM manda pacientes a outros Estados
Estado está enfrentando seu pior momento na pandemia de covid-19, com dificuldades especialmente para a aquisição de oxigênio
O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), afirmou nesta quinta-feira que o Estado está enfrentando seu pior momento na pandemia de covid-19, com dificuldades especialmente para a aquisição de oxigênio, em meio a uma nova disparada na contagem de casos e óbitos em decorrência da doença.
Segundo a Secretaria de Saúde amazonense, o Estado foi comunicado na noite de quarta-feira, pela empresa responsável, do colapso do plano logístico para algumas entregas de oxigênio, o que causará a interrupção da programação por "algumas horas".
"Os casos de covid aumentaram significativamente aqui no Amazonas, sobretudo em Manaus, e hoje nós estamos no momento mais crítico da pandemia, algo sem precedentes no Estado do Amazonas, em que enfrentamos muitas dificuldades para conseguir insumos", disse Lima em pronunciamento.
Ao lado do governador, o secretário de Saúde amazonense, Marcellus Campêlo, afirmou que neste momento os níveis de consumo de oxigênio são 2,5 vezes superiores aos vistos no auge da primeira onda da pandemia, entre abril e maio de 2020.
Ele descreveu o aumento como um movimento súbito e inesperado ocorrido em menos de dez dias, afirmando que até mesmo leitos abertos com apoio do Ministério da Saúde, prontos para utilização, não puderam ser ativados em função do colapso no fornecimento de oxigênio.
"Nós tivemos aqui um aumento da demanda acima do esperado. A empresa nos apresentou a dificuldade em relação à logística, e a cada dia o aumento do consumo", disse Campêlo.
Representante do Ministério da Saúde no pronunciamento, o secretário de Atenção Especializada à Saúde da pasta, coronel Franco Duarte, disse que "a matemática mostra" o déficit de oxigênio local: enquanto o consumo diário atinge 76,5 mil metros cúbicos, a produção da Manaus White Martins é de 28,2 mil metros cúbicos por dia.
Duarte acrescentou que, diante do alto consumo e da dificuldade logística para reposição da oferta, será implantado um "plano de cooperação" para o transporte aéreo de pacientes do Amazonas em fase moderada da doença para outros Estados.
Pacientes serão encaminhadas, segundo Wilson Lima, para Goiás, Piauí, Maranhão, Brasília, Paraíba e Rio Grande do Norte, no que chamou de "gesto humanitário" dos governadores dessas unidades federativas.
O Amazonas possui, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o terceiro maior índice estadual de mortes por covid-19 a cada 100 mil habitantes, abaixo somente de Rio de Janeiro e Distrito Federal. No Estado, foi descoberta uma nova variante do coronavírus que, segundo pesquisadores, pode estar contribuindo para uma explosão de casos no Estado.
Conforme boletim publicado na quarta-feira, a ocupação dos leitos de UTI destinados a pacientes de covid-19 no Amazonas atingia 90,33% do total, enquanto os leitos clínicos para coronavírus estavam além do limite de ocupação. As salas vermelhas, que recebem pacientes graves que serão posteriormente transferidos, apuravam ocupação de 93,33% do total.
A Reuters noticiou na terça-feira um crescimento no índice de remoção de corpos de pessoas que morreram em casa no Amazonas, diante da taxa elevada de ocupação dos hospitais locais.
Medidas restritivas
Em um tentativa de conter a disseminação da covid-19 no Estado, o governador Wilson Lima também anunciou nesta quinta-feira a publicação de decretos com novas medidas restritivas para o Amazonas.
Uma das ações é um "toque de recolher" entre 19h e 6h, com o fechamento de todas as atividades e circulação de pessoas, exceto para atividades e transporte de produtos essenciais.
O governador também determinou a suspensão do transporte coletivo de passageiros entre rodovias e rios no Estado, com exceção dos transportes de cargas. O Estado do Pará publicou nesta quinta decreto que proíbe a entrada no Estado de embarcações vindas do Amazonas.
"São medidas que são necessárias neste momento. São medidas que para alguns podem parecer duras, mas elas são necessárias, visando, acima de tudo, a proteção da vida das pessoas", disse Lima.
Na quarta-feira, a Justiça Federal decidiu suspender a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Amazonas, indicando que as provas não poderão ocorrer enquanto durar o estado de calamidade pública decretado pelo governo estadual por causa da pandemia. O exame está marcado para os dias 17 e 24 de janeiro.
Em entrevista à CNN Brasil, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que a pasta vai recorrer da decisão. Segundo o canal, o ministro disse que os pedidos para adiamento do exame são feitos por uma "minoria barulhenta".