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Com tuítes apagados, Bolsonaro se junta a Maduro e aiatolá

Por violação de regras de uso, presidente do Brasil está em pequeno grupo de chefes de Estado que já tiveram mensagens removidas do Twitter

30 mar 2020 - 12h13
(atualizado às 12h53)
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Normalmente reticente em remover mensagens de chefes de Estado, Twitter só havia agido em duas ocasiões: contra mensagem de Maduro sobre cura caseira para covid-19 e pedido de assassinato feito por Ali Khamenei.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, fala à imprensa ao sair do Palácio da Alvorada, em Brasília, na manhã desta segunda-feira, 30 de março de 2020
O presidente da República, Jair Bolsonaro, fala à imprensa ao sair do Palácio da Alvorada, em Brasília, na manhã desta segunda-feira, 30 de março de 2020
Foto: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo

O presidente Jair Bolsonaro se juntou a um pequeno grupo de chefes de Estado que já tiveram mensagens removidas pelo Twitter por violação das regras de uso. Em mais de uma década de existência, a plataforma só havia agido contra publicações de contas do venezuelano Nicolás Maduro e do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. No domingo (29/03), o presidente brasileiro teve dois tuítes que envolviam a pandemia de coronavírus deletados pela empresa.

No dia 25 de março, o Twitter já havia agido contra uma publicação de Maduro que também envolvia a pandemia. No tuíte, o líder chavista recomendava, entre outras coisas, uma suposta cura caseira contra a covid-19: uma mistura contendo capim-santo, gengibre, pimenta-do-reino, limão e mel.

Na ocasião, Maduro foi enquadrado numa nova regra do Twitter, que prevê a remoção de conteúdos que "forem eventualmente contra informações de saúde pública orientadas por fontes oficiais e possam colocar as pessoas em maior risco de transmitir covid-19".

Antes de Maduro e Bolsonaro, uma sanção do gênero contra um chefe de Estado só havia ocorrido com uma conta vinculada ao líder iraniano Ali Khamenei.

Em fevereiro 2018, a plataforma agiu para forçar a remoção de uma mensagem de Khamenei que afirmava que uma fatwa (sentença religiosa) conclamando o assassinato do escritor anglo-indiano Salman Rushdie ainda continuava em vigor. A fatwa foi proferida pelo antecessor de Khamenei em 1989, o aiatolá Khomeini, que considerou que Rushdie havia cometido blasfêmia contra o profeta Maomé ao publicar o romance Os Versos Satânicos.

Na ocasião, o Twitter afirmou que a mensagem violava as regras da plataforma ao promover ameaças específicas de violência ou assassinato contra um indivíduo ou grupo. O tuíte em questão ficou indisponível para leitura por outros usuários, e a conta de Khamenei foi congelada, impedindo a publicação de novas mensagens, até que a publicação sobre Rushdie fosse efetivamente deletada.

Até 2018, o Twitter adotava uma política de não deletar mensagens de chefes de Estado, mesmo aquelas com conteúdo em conflito com as regras da plataforma. Em janeiro daquele ano, a empresa admitiu que líderes mundiais tinham um tratamento especial, argumentando que eles desempenham um "grande impacto na sociedade".

"Bloquear um líder mundial no Twitter ou remover seus tuítes controversos esconderia informações importantes que as pessoas deveriam poder ver e debater", disse a empresa. À época. o Twitter vinha sofrendo críticas por permitir que políticos como o presidente americano, Donald Trump, usassem a rede sem se preocupar em seguir as regras.

No entanto, a empresa começou a mudar sua visão lentamente. A reação contra a publicação do aiatolá permaneceu isolada por mais de um ano, mas em junho de 2019 o Twitter anunciou que colocaria alertas em publicações de políticos que violassem as regras e que limitaria seu alcance.

Em outubro, a plataforma foi mais explícita e anunciou que passaria a remover as mensagens de líderes mundiais que violassem suas normas. "Queremos deixar claro que as contas de líderes mundiais não estão acima de nossas políticas", anunciou o Twitter em comunicado.

Passeio de Bolsonaro

Os tuítes de Bolsonaro removidos pela plataforma foram enquadrados na mesma regra sobre a divulgação de informações prejudiciais sobre a covid-19 que já havia atingido Maduro na semana passada.

As mensagens continham vídeos nos quais o presidente brasileiro aparecia passeando por diversos comércios do Distrito Federal, provocando aglomerações e contrariando as recomendações do seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que pediu para que a população fique "em casa", com o objetivo de frear a expansão da pandemia.

Bolsonaro ainda aparecia nos vídeos defendendo que a população "volte ao trabalho" e propagandeando uma suposta eficácia da cloroquina no tratamento da covid-19, apesar de ainda faltarem estudos amplos que atestem isso.

O Twitter não informou que pontos específicos dos vídeos violaram as regras. Outro vídeo com imagens do giro de Bolsonaro por Brasília e declarações do presidente sobre a própria atitude ainda continuam no ar.

Antes dos acontecimentos de domingo, o Twitter havia praticamente dado carta branca para Bolsonaro na rede, evitando agir até mesmo quando o presidente publicou o infame vídeo do "golden shower" no Carnaval de 2019. O vídeo só foi apagado por iniciativa de Bolsonaro mais de duas semanas depois, quando os advogados da dupla que aparecia no vídeo apresentarem um pedido na Justiça pela remoção.

Mais recentemente, membros do círculo do presidente já vinham sentindo os efeitos das novas regras do Twitter em tempos de covid-19. No dia 23 de março, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o senador Flávio Bolsonaro, tiveram mensagens removidas pela plataforma. As publicações reproduziam um vídeo antigo do médico Drauzio Varella como se fosse recente. Nas imagens, o médico afirmava que os brasileiros poderiam levar sua vida normalmente apesar do coronavírus. No entanto, o vídeo havia sido gravado em janeiro, quando a presença do vírus estava praticamente restrita à China.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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