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Comissão da Verdade quer esclarecer morte de Stuart Angel

30 mai 2014 - 17h51
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV) deve lançar novo relatório sobre a morte do ativista político Stuart Angel Jones. O objetivo é esclarecer as circunstâncias da morte do jovem, desparecido aos 25 anos, e o destino dado ao corpo dele, depois de uma série de torturas. A informação foi divulgada nesta sexta-feira pelo presidente da comissão, Pedro Dallari, que fez uma diligência pericial na Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Ele espera que o novo relatório sirva de referência para abertura de inquérito criminal pelo Ministério Público.

“Aqui foi um centro de tortura e, possivelmente, de morte. O caso de Stuart Angel, por exemplo, é um caso em que a comissão está com muita convicção que ele morreu aqui. E isso é um indicativo da relevância dese lugar do ponto de vista da repressão”, disse Dallari. Ele esteve no local para identificar quatro pontos de tortura e prisão ilegal na base, ao lado de José Carlos Dias, Maria Rita Kehl e Rosa Cardoso, que também integram a comissão, além de peritos, ex-presos políticos e testemunhas de tortura. 

Integrante da luta armada, Staurt Angel, filho da estilista Zuzu Angel, foi preso e levado para as dependências da base área, onde foi "terrivelmente torturado", segundo relataram outros presos políticos da unidade, citados em relatório preliminar da CNV, de fevereiro de 2014. Em carta à Zuzu na epoca da morte do jovem, Alex Polari de Alvarenga, preso no mesmo local, contou que viu Stuart depois de sair do pau-de-arara, “com a pele já esfolada”, amarrado e obrigado a inalar gás de escapamento de uma viatura.

Convidado a participar da diligência, o ex-cabo da Aeronáutica José Bezerra da Silva, uma das testemunhas de que Stuart foi torturado na unidade, reafirmou ter visto o ativista ainda vivo "entrar em uma ambulância". Ele indicou aos peritos da comissão o local exato onde o jovem foi colocado na viatura. “Foram torturando ele pelo caminho, da ambulância até o dentista (torturador). Lá tiraram o capuz da cabeça dele, ele estava apavorado, e vi que tinha grandes hematomas no rosto. Daí, me tiraram de lá e não vi mais”, contou.

Silva também confirmou a versão de que Stuart foi arrastado e colocado para respirar no escapamento de uma viatura. “Eu não vi, mas ouvi os comentários na manhã seguinte, porque o rapaz morreu de madrugada. Os colegas e o motorista do jipe comentaram que os torturadores mandavam acelerar e ele (o motorista) acelerava”, afirmou. Na ocasião, o ex-cabo criticou a brutalidade da prática com os colegas e acabou sendo retaliado e submetido a uma sessão de tortura na unidade.

Para complementar o relatório sobre a morte de Stuart Angel, a CNV também espera receber da Aeronáutica, até agosto, o resultado de uma sindicância. Conhecido como “República do Galeão”, nos testemunhos prestados por uma série de ex-presos políticos, a estimativa é que centenas de ativistas contrários ao regime militar tenham sido torturados no local. “Mesmo a época, a tortura era ilícita, essa é uma prática que nunca foi legalizada”, destacou o presidente da CNV. 

A partir do novo relatório sobre a morte de Stuart, Dallari espera que o Ministério Público Federal possa abrir inquérito para responsabilizar criminalmente militares da Aeronáutica envolvidos no caso. O mesmo procedimento foi usado para processar os envolvidos no atentado do Riocentro e na morte deputado Rubens Paiva – também torturado na unidade e sobre o qual a CNV também produziu um relatório específico.

A Base Aérea do Galeão é uma das sete unidades militares onde a tortura era uma prática institucionalizada, segundo a CNV. Para investigar a prática, o Ministério da Defesa ordenou a abertura de sindicâncias administrativas. A Aeronáutica não comentou a tortura na base do Galeão e a morte de presos políticos. Em nota, informou que mantém relação colaborativa com a CNV.

Agência Brasil Agência Brasil
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