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Coronavírus avança no Brasil e lockdown pode ser inevitável em cidades com situação crítica

7 mai 2020 - 16h06
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Os sinais contraditórios de autoridades sobre isolamento social contribuíram para o Brasil perder os avanços iniciais conseguidos no combate à pandemia de Covid-19, uma vez que a população pode ter subestimado a gravidade do problema, e agora o país caminha para um lockdown inevitável em locais mais afetados pela doença.

Hospital de campanha para vítima de Covid-19 em Santo André, São Paulo
06/05/2020
REUTERS/Amanda Perobelli
Hospital de campanha para vítima de Covid-19 em Santo André, São Paulo 06/05/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

A avaliação é do pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcelo Gomes, coordenador do sistema InfoGripe, ferramenta que acompanha os casos de síndromes respiratórias agudas no país, incluindo a Covid-19, e aponta para uma retomada da aceleração da epidemia após algumas semanas de relativo controle.

Com o presidente Jair Bolsonaro insistindo na reabertura e reclamando das medidas de isolamento estabelecidas por governadores --como voltou a fazer nesta quinta-feira em reunião no Supremo Tribunal Federal (STF) acompanhado de empresários-- e alguns Estados antecipando anúncios de reabertura ante a pressão econômica e o desemprego, a população se sentiu encorajada a ir às ruas. A conta chegou em forma de avanço da epidemia.

"A gente tem notado que tem tido uma diminuição da adesão da população ao isolamento, e quando a gente avalia o número de registros está tendo uma retomada do crescimento acelerado. É bastante provável que as duas coisas estejam associadas", disse Gomes em entrevista à Reuters por telefone.

Com o avanço recente da Covid-19 no país, que contabilizou na quarta-feira mais de 125 mil casos confirmados, com recorde diário de mais de 10,5 mil, a única ferramenta disponível para evitar uma aceleração ainda maior nos locais mais atingidos é o chamado lockdown (confinamento radical), quando todas as atividades de uma localidade são fechadas, com exceção dos serviços essenciais, segundo o pesquisador.

"É a ferramenta que a gente tem, infelizmente. Com lockdown a gente ganha tempo, consegue reduzir a velocidade de avanço para a preparação de hospitais de apoio, compra de equipamentos e disponibilização de profissionais", acrescentou.

Nesta semana, o Estado do Maranhão decretou o primeiro lockdown do país para a região da capital São Luís, após uma determinação judicial que foi comemorada pelo governo, sendo seguido pelos governos do Ceará e do Pará, que também impuseram confinamento em determinadas regiões.

Um estudo da Fiocruz enviado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro recomendou a adoção de medida semelhante na região metropolitana do Rio de Janeiro, e outros Estados e cidades estudam seguir o mesmo caminho, como o município de Niterói, na Grande Rio.

"AÇÃO EXTREMA"

Apesar das insistentes declarações de Bolsonaro contra as medidas de isolamento social, que são defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para enfrentar a Covid-19, até mesmo o ministro da Saúde, Nelson Teich, reconheceu que lockdowns serão necessários.

"O lockdown vai ser importante nos lugares onde estiver muito difícil, com alta incidência, alta ocupação de leitos, muitos pacientes chegando, infraestrutura que não conseguiu se adaptar. Aí você vai ter uma situação que realmente vai ter que proteger as pessoas", disse o ministro em entrevista coletiva na quarta-feira, na primeira menção feita por ele ao confinamento radical.

Gomes, da Fiocruz, disse que "informações desencontradas" das autoridades podem ter gerado uma dificuldade de interpretação por parte da população sobre a gravidade da situação, contribuindo para uma queda da adesão ao isolamento e consequente aumento de casos, levando agora à necessidade de medidas mais rígidas.

"Não é algo que a gente faça com tranquilidade. É bastante doloroso chegar ao ponto de ter que tomar essa decisão. É uma ação extrema, mas, infelizmente, é uma ação necessária para agir na situação que a gente se encontra hoje", afirmou.

"Se a gente tivesse conseguido manter adesão mais alta e constante do isolamento talvez hoje não precisasse dessa medida, mas infelizmente não foi esse o caminho que foi seguido", acrescentou.

Diante da postura contra o isolamento de Bolsonaro, e com a pressão devido à paralisação da economia, governadores anteciparam as discussões sobre a reabertura mesmo antes da chegada do pico histórico de casos de síndromes respiratórias, que ocorre nos meses de maio e junho.

Em São Paulo, o governador João Doria anunciou em 22 de abril uma reabertura gradual e regionalizada a partir de 10 de maio, mas já anunciou que a medida não será possível na região metropolitana devido à baixa adesão da população ao isolamento.

O Estado de Santa Catarina, que decidiu pela reabertura ainda no mês passado, registrou um salto no número de casos após a volta das pessoas às ruas, incluindo shoppings e academias.

Dados do InfoGripe apontam que todas as Regiões do país seguem na zona de risco e com atividade semanal muito alta para síndromes respiratórias graves, com predominância de 82,7% do novo coronavírus entre os casos que já tiveram um resultado laboratorial positivo.

Desde o final de fevereiro, quando foi registrado o primeiro caso de Covid-19 no país, o país soma 69.359 internações por SRAG neste ano até 25 de abril, em comparação com 11.284 no mesmo período no ano passado.

"A gente começou bem, relativamente cedo a discutir isolamento, antes mesmo da confirmação de circulação comunitária, mas nossa estratégia de comunicação, como cientista me incluo, a gente talvez não tenha conseguido se comunicar com a população da melhor maneira possível para mostrar que era um problema muito sério, como continua sendo", afirmou.

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