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Coronavírus: Escolas sem banheiro dificultam proteção de crianças no Brasil, diz Unicef

Guia da ONU orienta como ensinar crianças sobre coronavírus para evitar transmissão e reduzir medos e ansiedade

17 mar 2020 - 08h02
(atualizado às 12h26)
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Unicef orienta as escolas a promover e demonstrar a importância de lavar as mãos e de manter comportamentos de higiene positivos
Unicef orienta as escolas a promover e demonstrar a importância de lavar as mãos e de manter comportamentos de higiene positivos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou nesta segunda-feira um guia sobre como proteger crianças e escolas contra a transmissão do coronavírus. O documento traz orientações de como o tema deve ser abordado com crianças por pais e professores para reduzir o contágio e evitar o estresse entre os menores.

As aulas estão suspensas em algumas cidades e Estados do país onde o novo vírus já circula — como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Minas Gerais — e mesmo em localidades onde ainda não foram registrados casos da doença, como Rondônia.

Onde as aulas ainda estiverem ocorrendo, o Unicef orienta as escolas a promover e demonstrar a importância de lavar as mãos e de manter comportamentos de higiene positivos, disponibilizando água e sabão de forma adequada a cada idade. Além disso, recomenda ao menos uma vez ao dia limpar e desinfetar as instalações da escola, "principalmente as unidades de água e saneamento, em especial as superfícies que são tocadas por muitas pessoas (corrimãos, mesas de refeição, equipamentos esportivos, maçanetas e puxadores de portas e janelas, brinquedos e materiais escolares)".

O documento, originalmente produzido conjuntamente pelo Unicef e outras organizações em Nova York, foi adaptado para o Brasil. Questionado sobre os desafios de implementar as orientações no país, o chefe de Educação do Unicef no Brasil, Ítalo Dutra, destacou a existência de escolas sem banheiro, principalmente em regiões mais isoladas do país, mas também na periferia de grandes cidades.

Segundo o Censo Escolar mais recente, de 2018, não há banheiro em 4,9% das escolas da rede pública de Ensino Fundamental e em 3,6% da rede pública de Ensino Médio.

"Temos problemas estruturais nas nossas escolas e há também desafios culturais. Temos no Brasil o hábito de beijar, abraçar, dar as mãos. É algo que faz parte da nossa cultura, mas que no momento precisa ser evitado", ressaltou.

A organização manifesta preocupação com a perda de aulas nas regiões onde o funcionamento das escolas está suspenso e orienta os governos estaduais e municipais a programarem como o conteúdo será reposto. O Unicef recomenda ainda que as escolas pensem em atividades de leitura e exercícios para estudos em casa.

Por outro lado, a organização considera que a crise é "uma oportunidade de aprendizagem e pode ajudá-los a cultivar compaixão, aumentando sua resiliência enquanto desenvolvem uma comunidade mais segura e cuidadosa".

Nesse sentido, o guia sugere formas de incluir o ensino sobre coronavírus por meio de atividades lúdicas, adaptadas a cada idade, que ensinem como lavar as mãos e manter certa distância social.

A organização manifesta preocupação com a perda de aulas nas regiões onde o funcionamento das escolas está suspenso
A organização manifesta preocupação com a perda de aulas nas regiões onde o funcionamento das escolas está suspenso
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Cante uma música enquanto lavam as mãos, para 'contar' os 20 segundos de duração", recomenda o documento, para as crianças da Educação Infantil. "Faça com que as crianças se sentem mais afastadas umas das outras, sugira que elas façam alongamento, 'abram as asas', sempre mantendo espaço para que não encostem nos colegas", diz também o documento para essa faixa etária.

Já a orientação do guia para alunos dos primeiros anos do Ensino Fundamental estimula que as crianças executem tarefas que façam com que aprendam sobre o vírus.

"Faça exercícios que demonstrem como os germes podem se propagar. Por exemplo, usando água colorida para borrifar um pedaço de papel, observando como as gotículas se espalham".

"Coloque uma pequena quantidade de tinta guache nas mãos dos estudantes e peça que lavem as mãos apenas com água e que percebam quanta tinta restou. E peça que repitam a lavagem por 20 segundos, agora com água e sabão", continua o documento.

No caso de séries mais avançadas, o tema também pode ser abordado na disciplina de Ciências, abrangendo o estudo de transmissão de doenças e a importância das vacinas, e na de Estudos Sociais, apresentando a história e evolução das políticas de saúde pública.

O documento foi disponibilizado nesta segunda-feira para o Ministério de Educação, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

Preocupação com a saúde mental e estigamatização

O Unicef também destaca a necessidade de separar estudantes e funcionários doentes daqueles que não manifestam sintomas. O documento, porém enfatiza a importância de fazer isso de uma forma que não estigmatize as pessoas que estão contaminadas.

"É importante lembrar que a covid-19 (nome da doença causada pelo coronavírus) não faz distinção de território, etnia, deficiência, idade ou gênero. Espaços escolares devem continuar a ser receptivos, respeitosos, inclusivos, e ambientes de apoio para todos", destaca a organização.

O documento orienta também a como tentar minimizar sentimentos de estresse, medo e ansiedade gerados pela crise do coronavírus. Segundo o Unicef, crianças podem reagir a essa situação nova manifestando dificuldades para dormir, enurese (xixi na cama), dores de estômago ou de cabeça, ansiedade, isolamento, raiva, carência ou medo de ser deixados sozinhos.

Segundo o Censo Escolar mais recente, de 2018, não há banheiro em 4,9% das escolas da rede pública de Ensino Fundamental e em 3,6% da rede pública de Ensino Médio
Segundo o Censo Escolar mais recente, de 2018, não há banheiro em 4,9% das escolas da rede pública de Ensino Fundamental e em 3,6% da rede pública de Ensino Médio
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Responda aos comportamentos de maneira receptiva e ofereça apoio, explicando que essas reações são normais em situações excepcionais. Ouça suas preocupações e ofereça conforto e afeto, elogie sua conduta e assegure-lhes que estão seguras. Se possível, crie oportunidades para que a criança brinque e relaxe", aconselha o guia.

"Na medida do possível, mantenha rotinas e programações regulares, especialmente antes da hora de dormir. Se estiver em um ambiente novo, ajude a criar novas rotinas. Explique a situação, de forma adequada à faixa etária, e dê exemplos do que pode ser feito para proteger da infecção a si mesmo e aos outros", continua o documento.

O documento destaca ainda a importância de manter as crianças informadas, mas sem gerar pânico.

"Explique de maneira tranquila quais podem ser as consequências. Por exemplo, se a criança estiver doente em casa ou no hospital, você pode dizer: 'Você precisa ficar em casa/no hospital porque é mais seguro para você e para seus amigos. Eu sei que é difícil (por vezes é assustador ou é chato), mas nós precisamos seguir as regras para que nós e as outras pessoas fiquem seguras. Logo as coisas voltarão ao normal'", sugere o guia.

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