Coronavírus: Ministério Público do Trabalho vai investigar distribuição de 'kit covid' por empresas revelada pela BBC
Reportagem da BBC News Brasil mostrou que empresas estão distribuindo medicamentos ineficazes ou sem eficácia comprovada para a covid-19; diretores dizem que empregados podem escolher tomar ou não.
O Ministério Público do Trabalho vai investigar a distribuição do "kit covid" por empresas brasileiras revelada por uma reportagem da BBC News Brasil.
O órgão vai instaurar um procedimento para apurar as denúncias.
Ao menos quatro empresas em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina estão bancando o "tratamento precoce" ou distribuindo o "kit covid", como ficou conhecido um conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada ou já comprovadamente ineficazes para a covid-19.
O representante de uma das empresas disse à BBC News Brasil que os funcionários têm autonomia para recusar o "tratamento".
O suposto tratamento precoce, ou "kit covid", costuma se referir a uma combinação que inclui medicamentos ineficazes ou ainda em estudos contra a covid-19, como hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, vitamina D, vitamina C, entre outros, que podem trazer efeitos colaterais.
Nesta quarta-feira (31/3), a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a ivermectina não seja usada em pacientes com covid-19, exceto em ensaios clínicos.
Segundo chefes de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de referência no Brasil, o uso do "kit covid" tem contribuído de diferentes maneiras para aumentar as mortes no país, como mostrou a BBC News Brasil.
Os números da pandemia em todo mundo indicam que a maior parte das pessoas que contrai covid-19 se recupera. Por isso, segundo especialistas, remédios apresentados como "cura" acabam "roubando o crédito" do que foi apenas uma melhora natural.
Para o advogado trabalhista Sergio Batalha, empresas distribuírem o "kit covid" aos funcionários ou bancarem o chamado "tratamento precoce" é imprudente e ilegal, uma vez que o empregador não pode fazer nada que coloque a saúde do empregado em risco.
Mais de 321 mil pessoas já morreram no Brasil vítimas da covid-19. Nesta quarta-feira (31/3), um novo recorde de mortes foi registrado, segundo boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass): 3.869 vidas perdidas em um dia.