CPI da Covid retoma depoimentos com foco em irregularidades nas negociações de vacinas
Depois de duas semanas de recesso parlamentar, a CPI da Covid retoma os trabalhos esta semana com o foco em aprofundar a investigação sobre as suspeitas de irregularidades nas negociações de vacinas, e deve abrir novas linhas com a inclusão dos contratos de uma empresa de logística que presta serviços ao Ministério da Saúde.
"Vamos ter a continuidade dessas investigações todas e num patamar que a comissão está tendo acesso a muitas informações", disse o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), à Reuters.
Durante o recesso parlamentar, senadores e técnicos da CPI criaram núcleos de investigação para se aprofundar na análise de documentos. A comissão avançou sobretudo nas investigações a respeito das tratativas para a compra da vacina indiana Covaxin, segundo Renan.
A Covaxin entrou no centro das investigações da CPI depois que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do ministério Luis Ricardo Miranda, disseram ao colegiado ter informado ao presidente Jair Bolsonaro que havia irregularidades no processo de compra, que, mesmo assim, não foi suspenso.
Somente após a denúncia o Ministério da Saúde determinou o cancelamento definitivo do contrato.
A CPI tem marcada para esta semana, na quarta-feira, depoimento de Francisco Maximiano, presidente da Precisa Medicamentos, empresa que era intermediária na compra da Covaxin. Maximiano, no entanto, avisou a CPI que está na Índia e não irá depor esta semana. A Precisa nega ter cometido qualquer irregularidade.
As reuniões da CPI recomeçam na terça-feira com o depoimento do reverendo Amilton Gomes, implicado em outra suposta tentativa de venda fraudulenta de vacinas ao Ministério da Saúde, esta por intermediários da empresa norte-americana Davatti Medical Supplies.
Gomes, que é o presidente de uma organização religiosa, a Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos (Senah), foi um dos intermediários nas negociações que envolveram uma oferta de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca, apesar de não haver indícios de que a empresa tivesse acesso a esses imunizantes. A Davatti nega que tenha negociado vacinas com o Ministério da Saúde.
Os senadores têm, ainda, mais de uma centena de requerimentos para apreciar. Vários deles incluem uma empresa de logística que presta serviços para o Ministério da Saúde.
A empresa distribui medicamentos comprados pelo governo federal. De acordo com documentos que estão sendo analisados pelo Tribunal de Constas da União (TCU), o ministério aceitou pagar à empresa 1.800% a mais do que previsto em um parecer técnico, em uma decisão tomada por Roberto Dias, ex-diretor de Logística da pasta demitido sob acusação de tentar cobrar propina nas negociações por vacinas.
Os requerimentos também mostram uma tentativa de senadores de abrir uma nova via de investigação, incluindo sites e blogs alinhados com o bolsonarismo e conhecidos por publicarem notícias falsas.
A alegação dos autores dos requerimentos, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) e o senador Humberto Costa (PT-PE), é que a divulgação de notícias falsas ajudou a dificultar o combate à Covid-19 no país.
A comissão, que tem mirado na conduta do governo Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia, deve encerrar os trabalhos no início de novembro.