'Criminoso' ou 'presidente dos sonhos': as reações do mundo político ao vídeo da reunião do governo Bolsonaro
As manifestações sobre a gravação de reunião ministerial se dividem entre os que consideram que imagens comprovam acusação de Moro e os avaliam conteúdo como inofensivo e até mesmo benéfico para o presidente.
As reações do meio político ao vídeo da reunião ministerial divulgado pelo Supremo Tribunal Federal se dividiram entre aqueles que consideram que as imagens comprovam a acusação feita pelo ex-ministro Sergio Moro de que Jair Bolsonaro (sem partido) queria interferir na Polícia Federal (PF) e os que avaliaram o conteúdo como inofensivo e até mesmo benéfico para o presidente.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) disse que as falas reveladas no vídeo da reunião geram uma "imensa desmoralização e perda de legitimidade" do governo Bolsonaro.
Na forma e no conteúdo, a tal reunião ministerial revela um repertório inacreditável de crimes, quebras de decoro e infrações administrativas. Além de uma imensa desmoralização e perda de legitimidade desse tipo de gente no comando da nossa Nação.
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) May 22, 2020
Por sua vez, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que estava presente na reunião, afirmou que o vídeo mostra que o presidente está preocupado em "servir ao povo brasileiro".
A divulgação do vídeo da reunião mostra claramente um governo comandado por um homem que se preocupa em servir ao povo brasileiro. O Brasil não estava acostumado a isso, e sim com governos que se serviam do trabalho do povo brasileiro.#fechadocombolsonaro
— Onyx Lorenzoni 🇧🇷 (@onyxlorenzoni) May 22, 2020
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que a reunião demonstra um "descaso pela democracia" por parte do governo.
O Brasil está atônito com o nível da reunião ministerial. Palavrões, ofensas e ataques a governadores, prefeitos, parlamentares e ministros do Supremo, demonstram descaso com a democracia, desprezo pela nação e agressões à institucionalidade da Presidência da República.
— João Doria (@jdoriajr) May 22, 2020
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) afirmou que a postura e falas dos presidente no encontro são para "proteger o povo dos ditadores e tiranos".
Esse é o meu, o nosso Presidente. @jairbolsonaro , um líder que, a portas fechadas com seus assessores da maior confiança ( #elenão -Moro) esbraveja e xinga-não pra desviar dinheiro, fechar contratos c/ empreiteiras, mas p/ proteger o povo dos ditadores e tiranos. #Bolsonaro2022 pic.twitter.com/1qX54tYeS5
— Bia Kicis (@Biakicis) May 22, 2020
Citado nominalmente por Bolsonaro na reunião, Fernando Haddad (PT), que foi adversário do presidente na última eleição, disse que "não há dúvida" sobre a intenção dele ao afirmar que queria fazer trocas na "segurança".
Se a preocupação do presidente fosse com a segurança da família, ele não se referiria a "F**** AMIGO MEU". Não há dúvida. PF não faz segurança de amigo. Nem vou falar do nível do governo. Sem condições!!
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) May 22, 2020
O escritor Olavo de Carvalho afirmou que o vídeo mostra que "Bolsonaro é o presidente dos nossos sonhos".
— Olavo de Carvalho (@opropriolavo) May 22, 2020
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que pretende processar os participantes da reunião por suas falas no encontro e classificou o vídeo como "absurdo".
O vídeo da reunião ministerial é absurdo. Repleto de crimes, ameaças à democracia, quebras de decoro e de falta de ética p/ gerir uma nação. São inaptos, mas também são abjetos. Bolsonaro não pode continuar a frente da presidência da República! Tem que cair pelo bem do país!
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) May 22, 2020
Por sua vez, o assessor especial da Presidência Filipe Martins celebrou a divulgação do vídeo ao dizer que "a verdade prevalece".
Antigamente, as reuniões governamentais eram feitas para conspirar contra o povo e discutir como saqueá-lo. Hoje é o contrário. Temos um Presidente que só se reúne com os seus ministros e assessores para discutir como atender às demandas, os clamores e os anseios do nosso povo.
— Filipe G. Martins (@filgmartin) May 22, 2020
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) afirmou que o vídeo "é a confissão dos crimes de Bolsonaro e de todo o seu governo".
Não é uma reunião de trabalho de ministros, é a cúpula do Poder Executivo tramando um golpe contra a democracia. O vídeo liberado pelo ministro Celso de Mello é a confissão do crimes de Bolsonaro e de todo o seu governo.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) May 22, 2020
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (Republicanos-RJ) publicou um trecho do Hino Nacional e afirmou que a vontade do povo é "soberana".
Mas, se ergues da justiça a clava forte
Verás que um filho teu não foge à luta
Nem teme, quem te adora, a própria morte
Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil, Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada, Brasil!
🇧🇷🇧🇷🇧🇷 pic.twitter.com/mwZPFhFG7J
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) May 22, 2020
A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, criticou a forma como o presidente se expressou na reunião.
Esse homem não tem condições de ser presidente da República. Mal educado, boca suja, desqualificado. Não tem preparo administrativo, político, humano. É agressão e briga o tempo inteiro. Proteção do povo, nada! Nenhuma fala sobre assegurar renda, emprego, vida!#ForaBolsonaro
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) May 22, 2020
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse ter "orgulho" de uma fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
"A gente está conversando com quem a gente tinha que lutar (...) não pode ter ministro achando que é melhor que o cidadão"@AbrahamWeint
Que orgulho!
— Carla Zambelli (@CarlaZambelli38) May 22, 2020
Já o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) chamou o ministro da Educação de "golpista".
Golpista! @AbrahamWeint ameaça Ministros do STF de prisão. Quem deveria ser preso é esse golpista! #ImpeachmentJá #ForaWeintraub #ForaBolsonaro pic.twitter.com/Qt37PvTSD1
— David Miranda (@davidmirandario) May 22, 2020
Até a publicação desta reportagem, Weintraub não havia se pronunciado sobre a divulgação do vídeo.
Outro ministro que também não havia se manifestado, mas foi alvo de muitas críticas por suas falas no vídeo foi Ricardo Salles (Novo-SP), do Meio Ambiente.
A deputada federal Fernanda Melchionna, líder do PSOL na Câmara, disse que Salles foi "criminoso".
O senador Humberto Costa afirmou que a manifestação do ministro "chega a ser" doentia.
"Enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, (podemos) ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas."
Ricardo Salles - Ministro do meio ambiente.
Isso chega a ser doentio. Vergonha!
— Humberto Costa (@senadorhumberto) May 22, 2020
A ex-candidata à vice-presidência da República Manuela d'Ávila (PCdoB-RS) destacou que o único assunto que não foi tratado no vídeo da reunião foi a pandemia do coronavírus.
Em uma reunião dos ministros em meio à pandemia, o único assunto que não foi abordado foi o combate à pandemia. Houve confissão de crimes, Salles e seus planos de destruir a Amazônia, e ameças a nossa democracia.
— Manuela (@ManuelaDavila) May 22, 2020
Por sua vez, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) afirmou que o vídeo não é prejudicial para Bolsonaro como se pensava e que pode inclusive beneficiá-lo.
Eu não sei se eu estou vendo a fita que vinha sendo anunciada. Realmente não sei. A fita que eu estou vendo reelege o Presidente.
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) May 22, 2020
Foi uma avaliação semelhante a de analistas políticos. O filósofo Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, disse que o vídeo é "ambivalente".
Video de Bolsonaro é ambivalente: por um lado, tem muito apelo popular, é discurso populista antissistêmico em estado puro; por outro lado, é recheado de ilegalidades e desrespeito às instituições. Vai ganhar pontos com eleitores e assustar a classe política, a imprensa e o STF.
— Pablo Ortellado (@pablo_ortellado) May 22, 2020
A antropóloga Rosana Pinheiro-Machado avalia que o vídeo fortalece o presidente junto à sua base.
Achei o nível de Bolsonaro muito parecido com o vídeo de 2014 que o projetou e que falava "se foder" repetidamente. Para base dele, achei bom. Xinga políticos, fala de ameaça comunista e de armar a população.
— Rosana Pinheiro-Machado 罗莎娜 (@_pinheira) May 22, 2020
Moro afirmou que a "verdade foi dita, exposta em vídeo" e comprovada com fatos posteriores".
A verdade foi dita, exposta em vídeo, mensagens, depoimentos e comprovada com fatos posteriores, como a demissão do DIretor Geral da PF e a troca na superintendência do RJ. Quanto a outros temas exibidos no vídeo, cada um pode fazer a sua avaliação.
— Sergio Moro (@SF_Moro) May 22, 2020
Já o presidente Jair Bolsonaro limitou-se a repetir o slogan de sua campanha.
- Brasil acima de tudo! 🇧🇷
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) May 22, 2020