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Cubanos já começam a deixar Mais Médicos

20 nov 2018 - 17h03
(atualizado às 18h39)
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Médicos relatam que receberam orientação do país caribenho e estão parando de atender. Municípios que dependem deles podem sofrer com falta de atendimento até governo brasileiro preencher as vagas.Cubanos que integram o programa Mais Médicos receberam uma orientação do país caribenho e já deixaram de atender pacientes nesta terça-feira (20/11) em alguns municípios.

Nesta segunda, representantes do Brasil, de Cuba e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que intermediou o contrato entre os dois países, se reuniram em Brasília e decidiram que os médicos cubanos deixarão gradualmente o programa até 12 de dezembro.

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Nesta terça-feira, no entanto, médicos cubanos começaram a informar às secretarias municipais de saúde e a outros agentes das Unidades Básicas de Saúde onde trabalham que devem parar o atendimento imediatamente.

O Ministério da Saúde publicou nesta terça-feira o edital para convocar médicos brasileiros para as vagas até agora ocupadas por cubanos. O processo deve se estender, pelo menos, até o começo de dezembro.

Em Arroio do Padre, no Rio Grande do Sul, há apenas uma equipe de atendimento em saúde da família. Uma cubana, Diamaris Suarez, era a responsável pelo serviço. Ela fazia, entre outras tarefas, visitas a residências de moradores da região, acompanhava o quadro dos pacientes, principalmente os com hipertensão e que necessitam de medicamentos.

"O nosso atendimento básico de saúde fica prejudicado porque não tem ninguém para colocar no lugar dela. Temos médicos plantonistas, mas eles tratam da doença do dia, e não do acompanhamento médico. Enquanto ela [médica cubana] não for substituída, ficaremos sem esse serviço", disse a secretária municipal de saúde de Arroio do Padre, Letícia Baschi.

A cidade gaúcha está na lista dos municípios mais afetados com a saída de Cuba do programa Mais Médicos, decisão comunicada na semana passada pelo governo em Havana diante de novas exigências feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro.

O levantamento foi feito pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e inclui regiões onde há apenas cubanos atuando na atenção básica à saúde ou na área de saúde da família.

Na manhã desta terça-feira, o presidente do Conasems, Mauro Junqueira, disse à DW que o órgão está monitorando as cidades com maior potencial de danos para evitar a falta de assistência médica à população. A lista, de acordo com estimativas, deve passar de 600 municípios.

"É importante que essas cidades tenham reposição imediata. Para se evitar um vazio, podemos pedir para que municípios da região cedam médicos para as unidades de saúde que ficarão sem profissionais. Ou até pensamos em propor o uso de médicos das Forças Armadas para ocupar esse espaço até que haja a substituição dos cubanos", afirmou Junqueira.

Ermo, um município de Santa Catarina, também está na lista. Lá, a médica cubana Yoandra de la Cruz já avisou à Unidade Básica de Saúde - a única da cidade - sobre a sua saída da equipe de atendimento à família.

"São questões politicas. Nós só fazemos o nosso trabalho, aquilo que aprendemos a fazer: prestamos atendimento médico. Mas ninguém pode suportar ser humilhado, ainda mais quando falam coisas que não são verdades", declarou a médica sobre o rompimento do acordo entre Cuba e Brasil no programa Mais Médicos.

De la Cruz frisou que sabe das condições do contrato com médicos cubanos - o governo do país caribenho fica com cerca de 70% dos salários dos médicos. "Ninguém é obrigado a vir. Sabemos como funciona essa questão do salário e em que o governo usa o restante que fica no país. Médicos têm o dever de ir para onde a população mais precisa. Fizemos esse juramento. O governo apresenta a proposta, e nós podemos ou não ir", disse.

A enfermeira Andreia Silva trabalha há dez anos no atendimento básico à saúde em Ermo e há um ano atua em parceria com a médica cubana. "Nós atendemos de 20 a 22 pacientes por dia. Vai ficar complicado [o serviço] aqui. O que está acontecendo com o Mais Médicos me preocupa. Não precisava ser assim", disse.

A Opas afirmou que ainda deve se manifestar sobre o fim do atendimento dos profissionais de Cuba. O Conasems, em nota, "pede aos secretários municipais de saúde para tomarem as providências necessárias para que esta saída seja feita de forma respeitosa e carinhosa, e dentro de suas possibilidades, disponibilizem o devido deslocamento para embarque".

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