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'Decisão é ignorar Olavo de Carvalho', diz sucessor de Mourão no Clube Militar

General Eduardo José Barbosa avalia que pressão das ruas no domingo é positiva para as reformas, mas que instituição é contra chamados radicais contra o STF e o Legislativo.

29 mai 2019 - 06h38
(atualizado às 07h56)
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General Eduardo (ao centro) afirma que escritor e 'guru' de integrantes do governo faz 'fofoca'
General Eduardo (ao centro) afirma que escritor e 'guru' de integrantes do governo faz 'fofoca'
Foto: Divulgação/Clube Militar / BBC News Brasil

Em entrevista à BBC News Brasil, nesta segunda-feira, 28 de maio, o general Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar, parece ter adivinhado o que estaria por vir.

Ele disse que a ordem dentro da instituição - que até o fim de 2018 foi comandada pelo atual vice-presidente da República, general Hamilton Mourão - e "nos bastidores do governo" era de ignorar Olavo de Carvalho.

"Ele chegou a atacar até o ex-comadante do Exército, general Villas Boas, que é carismático, bem quisto por todo mundo. Quando ele partiu para essas agressões, nossa decisão foi abandonar, não alimentar mais essa fogueira. Nós percebemos que nos bastidores de Brasília parece que a decisão foi semelhante", afirmou o general de divisão.

O escritor e guru de parte dos integrantes do governo Bolsonaro, que desde o dia 24 se mantinha em silêncio nas redes sociais, voltou a se manifestar.

"A classe militar nem tem iniciativa intelectual própria nem tem uma intelectualidade conservadora que se dedique a educá-la. Acaba virando escrava mental da mídia e da moda - exatamente aquilo que Antonio Gramsci chamava de esquerdista inconsciente", tuitou Olavo de Carvalho menos de 24 horas após a afirmação do general Eduardo.

Olavo de Carvalho (de terno claro) ao lado de Jair Bolsonaro e comitiva em Washington
Olavo de Carvalho (de terno claro) ao lado de Jair Bolsonaro e comitiva em Washington
Foto: Reprodução/Twitter / BBC News Brasil

Sobre as manifestações pró-governo do domingo, o novo presidente do Clube Militar destacou ter notado grande apoio ao pacote anticrime enviado ao Congresso pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Na opinião do militar, é uma das formas que a população tem encontrado para demonstrar insatisfação com a impunidade no país.

O clube fez uma convocação oficial a seus filiados para que comparecessem às ruas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e à reforma da Previdência.

Quanto às críticas ao STF que muitos manifestantes exibiram em cartazes e camisetas, o general afirmou que não se pode "generalizar", mas que decisões da Corte favoráveis a alguns dos condenados no âmbito da Operação Lava Jato, por exemplo, passam a sensação de que os ministros "remam contra".

O general Eduardo foi contemporâneo do presidente Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, turma de 1977. Deixou a ativa com a patente de general de divisão. Hoje, preside o Clube Militar, instituição que reúne oficiais da reserva, em substituição ao general Hamilton Mourão, atual vice-presidente da República.

Mourão se afastou da presidência do clube para fazer campanha e a deixou definitivamente quando a chapa com Bolsonaro assumiu o poder.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

BBC News Brasil - Como o sr. avalia as manifestações a favor do governo no domingo?

General Eduardo José Barbosa - Acompanhei por vários amigos Brasil afora que mandaram fotos, vídeos. Me parece que realmente foi uma mensagem muito bem dada e bastante pacífica. Pelo que nos pareceu, uma manifestação bastante espontânea no sentido de apoiar as medidas que estão sendo tomadas pelo Poder Executivo e contra, evidentemente, o Poder Legislativo e o Judiciário que dão a impressão que estão remando contra.

BBC News Brasil - O presidente Bolsonaro tentou dar uma segurada nesse ponto de ser contra o Legislativo e o Judiciário, não?

General Eduardo - Com certeza. Eu assisti a algumas declarações dele no dia de ontem (domingo) realmente tentando minimizar esse aspecto. Mas aí é o papel dele, ele tem que fazer esse papel de moderador, de conciliador, ele não está num cargo em que deva criar atrito com os outros poderes.

Mas o que nós vimos na rua, efetivamente, foi sim uma manifestação contra alguns políticos, também não é contra as instituições, é contra alguns políticos e ministros do Supremo que parece que ainda não conseguiram enxergar aquilo que o povo deseja. E eles estão ali para representar o povo.

O político não foi eleito para fazer o que ele quer, o ministro também não foi colocado no Supremo para fazer o que ele quer. Eles são cumpridores da lei. E como diz o Parágrafo Único do Artigo 1º da Constituição, o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. Fica bem claro que a população em geral não está satisfeita com a maneira como os poderes Legislativo e Judiciário estão se portando face a essas mudanças de que o Brasil precisa.

BBC News Brasil - Não é um pouco perigoso ter a população com essa desconfiança tão grande em relação ao Judiciário, com essa percepção de que ninguém presta?

General Eduardo - É, nós não queremos generalizar e as colocações nossas aqui no Clube são de não generalizar. Então, por exemplo, nós somos contra quando alguém vem falando que tem de haver uma intervenção, tem que fechar o Congresso, nós somos contra esse tipo de colocação. Nós achamos que o remédio pode até ser amargo, mas tem de ser obtido através do processo democrático.

O que se entende é que o Legislativo, por exemplo, não pode ficar postergando votações importantes. Às vezes, até por essa morosidade do Legislativo, o Judiciário acaba legislando, o que não é papel dele fazer. Mas de maneira nenhuma se prega o fechamento ou algo parecido, nenhum tipo de intervenção mais drástica entre os Poderes.

BBC News Brasil - Essa morosidade do Legistlativo tem sido atribuída, até por alguns parlamentares da própria base, a uma falta de articulação do Executivo...

General Eduardo - Cabe ao Executivo apresentar os projetos e cabe ao Legislativo analisar esses projetos e botar em votação. O que nós temos percebido é que o Executivo tem apresentado os projetos de acordo com seu programa de campanha, é um presidente que está cumprindo o que prometeu em campanha, mas o Legislativo não entendeu que a população elegeu o presidente para que ele faça essas reformas e tem segmentos do Poder Legislativo, não vamos generalizar, que ainda não entenderam isso. E por essa razão receberam esse recado de ontem (domingo).

BBC News Brasil - Mas não é esquisito, general, com um partido na base como o Democratas, por exemplo, que tem três ministros, o presidente da Câmara e o presidente do Senado, mesmo assim as coisas não andam...

General Eduardo - Eu não sei o que acontece lá nos bastidores, mas realmente causa estranheza isso. Causa estranheza que alguns setores, inclusive, que se dizem da base do governo, parece que se aliam àqueles opositores, que todo mundo já sabia, iam se opor mesmo, os que perderam as eleições, os partidos mais de esquerda. Esses, de oposição, todo mundo já sabia. Agora, realmente, causa estranheza que alguns partidos que estão na base do governo... Não vou dizer os partidos como um todo, mas alguns integrantes desses partidos ainda insistirem em remar contra a maré.

Mas eu não saberia dizer, por não acompanhar o que ocorre lá nos bastidores, se é uma falta de conversa, se são interesses que não estão sendo atendidos, se são, talvez, alguns congressistas ainda aguardando o toma lá, dá cá... É difícil especificar o que está acontecendo. Mas que é estranho, é.

BBC News Brasil - Agora, general, há uma questão que está fora dos três Poderes, está na Virgínia, que é o sr. Olavo de Carvalho. Ele teve participação ativa em casos como as ofensas ao general Santos Cruz, ofensas à corporação militar em geral. Isso não atrapalha também?

General Eduardo - Olha, eu vou chamar isso aí mais de fofoca. E qualquer tipo de fofoca atrapalha. Em relação especificamente ao Olavo, já houve um posicionamento do governo que a gente tem acompanhado aqui. Aqui mesmo no Clube nós temos conversado a esse respeito e a decisão foi começar a ignorar o que esse senhor tem colocado porque, realmente, ele começa a atacar deliberadamente, e sem nenhuma razão, setores não só do governo, como os militares também.

Ele chegou a atacar até o ex-comandante do Exército, general Villas Boas, que é uma pessoa carismática, bem quista por todo mundo. Quando ele partiu para essas agressões, nossa decisão foi abandonar, não alimentar mais essa fogueira. Nós percebemos que nos bastidores de Brasília parece que a decisão foi semelhante.

Talvez o próprio presidente Bolsonaro tenha conversado com ele e pedido para acalmar um pouco essas postagens. Não estamos mais alimentando essa fogueira de fofocas.

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