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"Desastre no Pará é embaraçoso para Noruega", diz pesquisadora

Grande investidor no combate ao desmatamento da Amazônia, país nórdico é sócio da mineradora Hydro Alunorte

13 mar 2018 - 16h33
(atualizado às 16h40)
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A mineradora norueguesa Hydro Alunorte está envolvida num dos mais recentes desastres ambientais no Brasil. Desde a confirmação no final de fevereiro de vazamentos de rejeitos minerais de uma de suas instalações na cidade de Barcarena, na região metropolitana de Belém do Pará, o governo da Noruega, dono de 34,4% das ações da empresa, mantém silêncio, apenas alega não ter envolvimento na gestão da companhia.

O escândalo ganhou nova dimensão na segunda-feira (12/03), quando a Hydro admitiu a um jornal norueguês que realizou vazamentos controlados, sem autorização, num canal que passa ao lado da refinaria desde 17 fevereiro, após uma forte chuva que atingiu a região. A companhia alega, porém, ter avisado as autoridades brasileiras e continua rejeitando ser um acidente ambiental.

"Parece que a Hydro está tentando esconder a verdade, e isso é muito ruim", opina Siri Aas Rustad, do Instituto de Pesquisa em Paz de Oslo (Prio, na sigla em inglês), que realizou um estudo sobre a mineração em Barcarena e seus impactos sociais e esteve na região em diversas ocasiões entre 2013 e 2016.

Em entrevista à DW, a cientista política norueguesa, especialista em recursos naturais e situação de conflito, comenta ainda sobre o silêncio do governo da Noruega diante das falhas da empresa e sobre a repercussão no país do desastre no Brasil.

DW: Como você vê o silêncio do governo da Noruega desde o desastre de fevereiro?

Siri Aas Rustad: O governo é um dos donos minoritários da Hydro e não tem muita influência sobre a empresa. Porém, como acionário, em determinado momento e quando a situação estiver esclarecida, o governo deveria pedir desculpas ou pelo menos discutir o problema e o que pode ser feito para solucioná-lo. Mas agora não está exatamente claro quem sabia o que estava acontecendo. Oslo deve aguardar até ter mais clareza e entender melhor o caso para se posicionar.

Essa posição de apenas esperar até ter clareza não é um pouco hipócrita, considerando que a Noruega, em 2017, criticou o governo brasileiro pelo desmatamento da Amazônia?

Esse é um aspecto a ser apontado. Claro que essa é uma situação embaraçosa para o governo norueguês, pois eles investem muito dinheiro para salvar a Floresta Amazônica. Acredito que eles querem saber primeiro exatamente o que aconteceu. Faz três semanas que ocorreram os vazamentos. Em questões políticas, ainda é cedo para um governo pedir desculpas ou decidir o que a empresa deve fazer. A Hydro tentará solucionar o caso antes de o governo interferir.

Você acha que o governo norueguês tem o poder de pressionar a Hydro para melhorar seu comportamento na região?

O governo não é o sócio majoritário, ele não pode forçar nada. Essa pressão também não seria a melhor maneira de conduzir os negócios da Hydro, que tem sedes na Noruega, no Rio de Janeiro, em Belém. É um longo caminho até Oslo e até o governo norueguês. Oslo pode, porém, pressionar a empresa, especialmente em relação a medidas concretas que podem ser tomadas para garantir políticas ambientais e evitar desastres como o atual.

Desde 2012, você estuda os impactos da mineração em Barcarena. Nessa época, já havia problemas ambientais envolvendo a Hydro na região?

Quando a Hydro adquiriu a Alunorte em 2011, já havia muitos problemas ambientais relacionados à refinaria. Em 2009, houve um vazamento. Ao comprar a Alunorte, a Hydro se tornou responsável judicialmente pelas ações movidas contra a empresa devido a esse caso. Havia uma constante tensão em relação aos resíduos da empresa e parece que essa tensão com a comunidade local cresceu nos últimos seis meses.

A principal crítica que temos é que, por eles saberem sobre o vazamento de 2009 e saberem que chuvas eram problemáticas, deveriam ter implementado melhores tecnologias e melhores métodos de como lidar com essa chuva.

Então, a Hydro não tentou melhorar esse problema?

Eles fizeram algumas coisas, adquiriram uma tecnologia cara que seca esse resíduo e tentaram achar outros meios para usar os dejetos, mas não tiveram sucesso. Não é que eles não tentaram, mas não foram bem-sucedidos em encontrar uma solução. Além disso, Barcarena é uma região muito pobre, especialmente as comunidades em torno da empresa. 90% do esgoto é despejado diretamente nos rios.

Há uma discussão constante entre a empresa e as comunidades sobre a contaminação da água, se ela ocorre pelo esgoto ou por resíduos da mineração. Eles ficam se acusando mutuamente. Mas no desastre recente, parece que a Hydro está tentando esconder a verdade, e isso é muito ruim.

A mineradora disse que, antes de ser liberada, a água foi tratada segundo critérios estabelecidos pelo Conama
A mineradora disse que, antes de ser liberada, a água foi tratada segundo critérios estabelecidos pelo Conama
Foto: Agência Brasil

Como está a repercussão do desastre na Noruega?

Está aumentando nos últimos dias. Começou devagar, mas especialmente ontem, após a empresa admitir que estava fazendo vazamentos controlados, depois de negar inicialmente qualquer tipo de vazamento, o tema se tornou uma grande notícia no país.

Como os noruegueses estão vendo esse caso?

Até agora foi pouco noticiado e também não houve uma discussão política, que deve ocorrer em algum momento. Não sei o que os noruegueses estão pensando, mas o fato de a Hydro ter mentido é algo que faz as pessoas se sentirem desconfortáveis. O mundo todo sabe que a Noruega é bom parceiro de negócios e tem orgulho disso. Assim, essa situação é embaraçosa.

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