Dilma conta como teve dente arrancado a socos por torturador
"Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um ‘presunto’ e ninguém vai saber", era uma das ameaças ouvidas de um agente público no período em que esteve presa
O relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), divulgado na quarta-feira, detalhou como a tortura era praticada por agentes públicos durante o período militar. As informações contidas nos depoimentos dão uma noção mais clara dos requintes de crueldade sem poupar nem mesmo mulheres, adolescentes ou inocentes presos de forma clandestina e sem qualquer direito básico a defesa, algo injustificável mesmo por aqueles que pregam a volta dos militares como se vê em algumas manifestações ou se ouve de alguns parlamentares.
Naquela época, a presidente Dilma Rousseff era uma das líderes de uma organização chamada Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Ela foi presa em janeiro de 1970, pela Operação Bandeirante. Assim como outros opositores do regime militar, Dilma foi torturada e até hoje alega sofrer com sequelas físicas e psicológicas.
No relato que fez à Comissão Estadual de indenização às Vítimas de Tortura de Minas Gerais, em 2001, Dilma conta como teve um dente arrancado a socos, sobre as sessões de tortura (algo que parecia ser uma praxe entre os presos interrogados), sobre ser amarrada em um pau de arara e sobre os choques.
“Eu vou esquecer a mão em você. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um ‘presunto’ e ninguém vai saber”, era uma das ameaças ouvidas de um agente público no período em que esteve presa. “Tinha muito esquema de tortura psicológica, ameaças (...) Você fica aqui pensando ‘daqui a pouco eu volto e vamos começar uma sessão de tortura’”, contou Dilma.
Dilma foi levada para a Operação Bandeirante no começo de 1970, em Minas Gerais. “Era aquele negócio meio terreno baldio, não tinha nem muro direito. Eu entrei no pátio da Operação Bandeirante e começaram a gritar: 'Mata!', 'Tira a roupa', 'Terrorista','Filha da puta', 'Deve ter matado gente'. E lembro também perfeitamente que me botaram numa cela. Muito estranho. Uma porção de mulheres. Tinha uma menina grávida que perguntou meu nome. Eu dei meu nome verdadeiro. Ela disse: 'Xi, você está ferrada'. Foi o meu primeiro contato com o 'esperar'. A pior coisa que tem na tortura é esperar, esperar para apanhar. Eu senti ali que a barra era pesada. E foi. Também estou lembrando muito bem do chão do banheiro, do azulejo branco. Porque vai formando crosta de sangue, sujeira, você fica com um cheiro”, relata.
Oficialmente, a tortura sempre foi negada pelos militares. De acordo com o relatório da CNV, era uma prática instituída dentro do regime militar, inclusive com premiação de torturadores com a Medalha do Pacificador.
No caso de Dilma, o principal responsável pela tortura era o capitão Benoni de Arruda Albernaz. "Quem mandava era o Albernaz, quem interrogava era o Albernaz. O Albernaz batia e dava soco. Ele dava muito soco nas pessoas. Ele começava a te interrogar, se não gostasse das respostas, ele te dava soco. Depois da palmatória, eu fui pro pau de arara”, conta. Albernaz era o chefe da equipe A de interrogatório preliminar da Oban quando Dilma foi presa, em janeiro de 1970.
Dente arrancado a socos
Um dos pontos mais gráficos nos trechos do depoimento de Dilma contidos no relatório fala sobre o episódio no qual teve um dente arrancado a socos, que lhe acarretou sequelas até os dias atuais. “Uma das coisas que me aconteceu naquela época é que meu dente começou a cair e só foi derrubado posteriormente pela Oban. Minha arcada girou para outro lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente deslocou-se e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em gotas para passar a dor. Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz completou o serviço com um soco arrancando o dente”, conta Dilma.
Mas para estas pessoas, a principal memória dos dias em que foram submetidos a práticas desumanas e quase medievais de tortura, em pleno século 20, são as sequelas que perpetuam até hoje em suas vidas.
“Acho que nenhum de nós consegue explicar a sequela: a gente sempre vai ser diferente. No caso específico da época, acho que ajudou o fato de sermos mais novos, agora, ser mais novo tem uma desvantagem: o impacto é muito grande. Mesmo que a gente consiga suportar a vida melhor quando se é jovem, fisicamente, mas a médio prazo, o efeito na gente é maior por sermos mais jovens. Quando se tem 20 anos o efeito é mais profundo, no entanto, é mais fácil aguentar no imediato.
Fiquei presa três anos. O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente o resto da vida.
Quando eu tinha hemorragia - na primeira vez foi na Oban - pegaram um cara que disseram ser do Corpo de Bombeiros. Foi uma hemorragia de útero. Me deram uma injeção e disseram para não me bater naquele dia. Em Minas Gerais, quando comecei a ter hemorragia, chamaram alguém que me deu comprimido e depois injeção. Mas me davam choque elétrico e depois paravam. Acho que tem registros disso até o final da minha prisão, pois fiz um tratamento no Hospital de Clínicas.
As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”, relatou Dilma.
Lendo relatos como esse, seja da presidente ou de qualquer outra pessoa que esteve custodiada pelos militares naquela época, fica claro que, independente da orientação política ou do que cada um acredita, uma sociedade civilizada não deveria compactuar ou esquecer da selvageria que foi praticada naquela época e que se perpetua até hoje, de forma arbitrária, entre as camadas mais pobres, talvez como resquícios daqueles tempos.
AUREA ELIZA PEREIRA - Aurea nasceu na cidade de Monte Belo, em 1950, interior de Minas Gerais. Com 17 anos, passou no vestibular do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na universidade, participou ativamente do movimento estudantil. Neste período, conheceu Antônio de Pádua Costa e ArildoValadão. Em fevereiro de 1970, casou-se com Arildo. Em meados do mesmo ano mudou-se para o sudeste do Pará, onde passou a trabalhar como professora. Integrava o Destacamento C da guerrilha. Aurea foi vítima de desaparecimento forçado durante a Operação Marajoara, em 1973.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
AYLTON ADALBERTO MORTATI - Nascido no interior do Estado de São Paulo, em Catanduva, Aylton ingressou no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR-SP) e chegou ao posto de Segundo Tenente do Exército no ano de 1968, quando tornou-se oficial da reserva. No mesmo ano ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, onde começou a atuar no movimento estudantil. Foi preso e, após a prisão, passou a militar na Ação Libertadora Nacional (ALN). Em 1969, participou do sequestro do avião Boeing da Varig, que foi desviado do trajeto Buenos Aires-Santiago para Cuba, onde realizou treinamento de guerrilha. Regressou clandestinamente ao Brasil em 1971, como dirigente do Movimento de Libertação Popular (Molipo), uma dissidência da ALN. Foi visto pela última vez no dia 4 de novembro de 1971, quando foi preso por agentes do DOI-CODI/SP.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
CARLOS NICOLAU DANIELLI - Nascido em Niterói, Carlos Nicolau Danielli começou a trabalhar com 15 anos de idade nos estaleiros de construção naval de São Gonçalo (RJ). Mais tarde, ele se tornaria um ativista sindical. Em 1946, ingressou na Juventude Comunista e, em 1948, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo eleito membro do Comitê Central, em 1954, no IV Congresso do partido. Em 1962, participou da fundação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), uma dissidência do PCB. Morreu aos 43 anos, sob tortura, nas dependências do Destacamento de Operações e Informações Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI), em São Paulo, em ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
ANA ROSA KUCINSKI / ANA ROSA SILVA - Nascida em São Paulo, em 1942, Ana Rosa Kucinski era filha de judeus poloneses que imigraram para o Brasil na primeira metade do século XX. Nos primeiros anos da década de 1960, iniciou seus estudos na Universidade de São Paulo (USP), onde concluiu a graduação em química no ano de 1967. Tornou-se professora do Instituto de Química da USP e prosseguiu seus estudos na mesma universidade. Em 1972, Ana Rosa concluiu o doutorado em Filosofia. Despareceu aos 32 anos de idade na companhia de seu marido, Wilson Silva, em São Paulo. Em outubro de 1975, foi demitida pelo Instituto de Química por abandono de emprego.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
FRANCISCO TENÓRIO CERQUEIRA JUNIOR - Francisco Tenório Cerqueira Junior nasceu no dia 4 de julho de 1940 no Rio de Janeiro. Tenório Júnior iniciou sua carreira artística aos 15 anos, quando estudava acordeão e violão. Compôs músicas, lançou discos, participou de vários festivais e realizou turnês no Brasil e no exterior, ao lado de consagrados nomes da música brasileira. Na década de 1970 tornou-se um dos mais requintados artistas, no Brasil. Seu desaparecimento é datado em março de 1976, em Buenos Aires, onde foi visto pela última vez.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
GRENALDO DE JESUS DA SILVA - Nascido em São Luís, no Maranhão, Grenaldo de Jesus da Silva era o mais velho entre seus 12 irmãos. Iniciou seus estudos nas Forças Armadas em janeiro de 1960, ao ingressar na Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. Preso, Grenaldo fugiu da prisão e foi para Guarulhos, São Paulo, onde trabalhou como porteiro e vigilante na construtora Camargo Corrêa. Morreu aos 31 anos de idade, executado no interior de um avião estacionado no aeroporto de Congonhas, em ação perpetrada por agentes do Estado. Seus restos mortais não foram identificados.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
HELENIRA RESENDE DE SOUZA NAZARETH - Nascida em Cerqueira César (SP), mudou-se para Assis (SP) aos quatro anos, onde cresceu. Lá iniciou sua militância estudantil. Mudou-se para a capital, onde cursou Letras na Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Universidade de São Paulo (FFCLUSP), na qual foi eleita presidente do Centro Acadêmico. Em 1968, Helenira, que já era militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), passou a viver na clandestinidade. Nesse período, morou em vários lugares, antes de mudar-se para o sudeste do Pará, onde residiu na localidade conhecida como Metade. Integrou o Destacamento A da guerrilha, que passou a levar seu nome após sua morte. Em setembro de 1972, Helenira teria encontrado tropas das Forças Armadas e atirado contra os soldados. Em seguida, teria tomado tiros de metralhadora, sido presa e torturada até a morte.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JAIME PETIT DA SILVA - Nascido na cidade de Icanga (SP), em 1945, Jaime ingressou, em 1965, no Instituto Eletrotécnico de Engenharia da Faculdade Federal de Itajubá e começou a dar aulas de Matemática e Física em escolas dessa cidade e de Brasópolis (MG). Foi militante do movimento estudantil universitário, que já tinha influência do PCdoB. Participou do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), no qual foi preso com centenas de outras lideranças estudantis. No ano seguinte, foi condenado à revelia e passou a viver clandestinamente, abandonando o curso de Engenharia. Jaime desapareceu em novembro de 1973. Diversas fontes ligadas aos militares atestam sua morte em dezembro do mesmo ano, sem detalhes como local ou circunstâncias.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JAYME AMORIM DE MIRANDA - Nascido em Maceió (AL), em 1926, Jayme Amorim de Miranda militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde a juventude. Iniciou o curso de Direito e o abandonou, por algum tempo, para ingressar na Escola de Sargento das Armas, orientado pelo PCB. Na década de 1950, foi preso duas vezes, no Pará e em Pernambuco, por atuar na organização dos movimentos sociais. Posteriormente, foi novamente detido, em Maceió, por seu trabalho junto aos sindicatos. Em fevereiro de 1975, foi preso novamente e morreu, aos 48 anos, em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JAMES ALLEN LUZ - Nascido em Goiás, James Allen Luz participou ativamento do movimento estudantil do Estado, onde presidiu o Grêmio Literário Castro Alves. Iniciou o curso de Direito, mas não chegou a se formar, pois deixou os estudos após ter sido preso em 1966. Encontrou asilo político no Uruguai em 1968, morando por um ano naquele país. Retornou ao Brasil em 1970. Atuou no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e chefiou o sequestro de um avião da empresa aérea Cruzeiro do Sul, com o objetivo de libertar 44 presos políticos e conduzi-los até Cuba. Morreu aos 35 anos de idade, após ter sofrido um acidente de carro em Porto Alegre.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JANE VANINI - Jane nasceu em 1945, e cresceu em Cáceres, no Mato Grosso. Em 1966, mudou-se para São Paulo, onde cursou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Em 1969, se aproximou da Ação Libertadora Nacional (ALN). Identificada pelos órgãos de segurança, que passaram a procurá-la, em meados de 1970 consegue sair do país com destino ao Uruguai. Vai ao Chile e o golpe de estado de setembro de 1973, dando início à ditadura do general Pinochet, obriga Jane a entrar para a clandestinidade. Em meados de 1974, muda-se para Concepción. É lá que, em dezembro daquele ano, Jane morre em um enfrentamento com as forças da repressão chilena.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JOÃO CARLOS HAAS SOBRINHO - João Carlos, nascido em 1941, viveu sua infância no Rio Grande do Sul. Em 1959, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do RS (UFRGS). Logo após o Golpe de 1964, João Carlos foi deposto e preso sob a acusação de esquerdista. Depois de sua prisão e com a ameaça de cassação do seu registro na Faculdade de Medicina, houve grande mobilização dos professores e estudantes. João Carlos teria morrido em setembro de 1972, por uma rajada de tiros de militares.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JORGE OSCAR ADUR - Jorge nasceu em Nogoyá, na Argentina. Formou-se em Filosofia e Teologia, ambos os cursos realizados em instituições chilenas. No ano de 1970, começou a ser monitorado. Por um tempo ficou escondido no interior da província de Buenos Aires. Após o golpe militar da Argentina, em 1976, exilou-se na França, onde passou a residir na Congregação dos Religiosos Assumpcionistas, em Paris. Permaneceu na região até junho de 1980, quando esteve no Brasil para presenciar a visita do papa João Paulo II. Neste ano, Jorge desapareceu entre na fronteira entre a Argentina e o Brasil.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JOSÉ MANOEL DA SILVA - José Manoel alistou-se na Marinha e serviu em Natal em 1960. Foi cabo até ser excluído dos quadros da Marinha, em 1964, por sua participação nas mobilizações dos marinheiros e nas manifestações do Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, durante o período que precedeu a derrubada do presidente João Goulart. José Manoel foi uma das vítimas do episódio conhecido como Massacre da Chácara São Bento. Algum tempo depois da morte de José Manoel, a sua esposa, Genivalda, foi presa e estuprada.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JOSÉ SILTON PINHEIRO - Nascido em São José de Mipibu (RN), José começou a militar no movimento estudantil e foi eleito presidente do Diretório Marista de Natal em 1965. Quando ingressou na Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 1970, a sua atuação política se intensificou pela participação no movimento estudantil. No mesmo ano, tornou-se militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), atuando inicialmente no Nordeste e, depois, no Rio de Janeiro. José morreu em dezembro de 1972, em ação comandada pelo DOI-CODI do I Exército, no RJ.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
LOURDES MARIA WANDERLEY PONTES - Nascida em Olinda (PE), Lourdes iniciou seus estudos em Recife, que foram interrompidos pelo início da sua militância política, em 1968. No ano seguinte, casou-se com Paulo Pontes da Silva e o os dois se mudaram para Natal (RN) para escapar da perseguição política. Após a prisão de Paulo, Lourdes mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a viver na clandestinidade. Lourdes foi morta em 1972, em ação comandada pelo DOI-CODI do I Exército, no RJ.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
EDSON NEVES QUARESMA - Nascido na cidade de Apodi, no Rio Grande do Norte, o marinheiro Edson Neves Quaresma foi preso em março de 1964, no contexto da repressão à revolta dos marinheiros. Após mais de um ano detido, saiu da cadeia e passou a viver na clandestinidade. Morreu aos 31 anos de idade, em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado. Seus restos mortais não foram plenamente identificados.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
CELSO GILBERTO DE OLIVEIRA - Nascido em 26 de junho de 1945, em Porto Alegre (RS), Celso Gilberto de Oliveira trabalhava como corretor de imóveis. Era militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), quando desapareceu em dezembro 1970, após ser capturado por agentes do CISA e ter passado alguns dias preso no DOI-CODI/I Ex. Consta ter morrido na madrugada do dia 30 de dezembro, durante uma diligência realizada pelo DOI-CODI, com base em informações por ele prestadas, em sede de interrogatório.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
HELENY FERREIRA TELLES GUARIBA - Nascida em São Paulo, Heleny Ferreira Telles Guariba era natural de Bebedouro. Formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Lecionou, montou e dirigiu peças de teatro até a publicação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que interrompeu seu trabalho. Heleny militou na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) durante o ano de 1969. Após sofrer torturas, desapareceu em 12 de julho de 1971, no Rio de Janeiro (RJ), depois de ter sido presa por agentes do DOI-CODI do I Exército, no Rio de Janeiro, junto com seu companheiro, Paulo de Tarso Celestino da Silva.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
PAULO DE TARSO CELESTINO DA SILVA - Nascido em Morrinhos, em Goiás, Paulo de Tarso concluiu o curso de Humanidades no Colégio Universitário da Universidade Federal de Goiás (UFG) em 1962. Sete anos depois, aos 23 anos, finalizou o curso de Direito na Universidade de Brasília (UnB). Paulo de Tarso foi militante da Ação Libertadora Nacional ALN, tendo-se tornado um dos principais nomes da organização após a morte do líder Joaquim Câmara Ferreira. Desapareceu aos 27 anos de idade, em julho de 1971, quando foi preso, junto com Heleny Ferreira Telles Guariba, no Rio de Janeiro (RJ), por agentes do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
LUIZ RENATO PIRES DE ALMEIDA - O estudante Luiz Renato Pires de Almeida nasceu no dia 18 de novembro de 1944. Em 1963, ingressou no Colégio Agrotécnico da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e passou a participar do movimento estudantil. Em 1968, conheceu Oswaldo Chato Peredo, reorganizador do Exército de Libertação Nacional (ELN), que empreendia a luta de guerrilha na Bolívia, e tornou-se membro do grupo. Assim, passou por treinamentos em Cuba e dali foi para a Bolívia. Em outubro de 1970, nas regiões de Masapar e Haicura, a 300 quilômetros de La Paz, Luiz Renato foi rendido pelas tropas bolivianas e, desde então, está desaparecido.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
MARIA CELIA CORRÊA - Carioca, nascida em 1945, Maria Celia era funcionária de banco e estudante de Ciências Sociais na Faculdade Nacional de Filosofia (atualmente, Universidade Federal do Rio de Janeiro) até o início do ano de 1970. Junto aos irmãos, aderiu à militância engajada do PCdoB e, em 1971, seguindo a orientação do partido de organizar a guerra de guerrilha no campo, mudou-se para a região do Araguaia. Pertenceu ao Destacamento A, sendo conhecida como Rosa ou Rosinha.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
MÓNICA SUSANA PINUS DE BINSTOCK - Mónica Susana Pinus de Binstock nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina. Desde de 1970 Mónica atuava como militante da organizaçãode luta armada Montoneros e da Juventude Peronista. Em 1975, pouco antes da instalação da ditadura militar argentina, Mónica foi baleada em um confronto com um grupo ligado a Aliança Anticomunista Argentina conhecida como Triple A. Foi levada para o hospital e sequestrada no mesmo para ser submetida à sessões de tortura. Entrou no Brasil junto com um companheiro de militância, Horacio Campigia, no dia 12 de março de 1980, data de seu desaparecimento.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
PAULINE PHILIPE REICHSTUL - Natural de Praga e filha de judeus poloneses sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, Pauline viveu pouco tempo na Tchecoslováquia. Quando tinha 18 meses, a família mudou-se para Paris, onde ficou até 1955, ano em que migraram para o Brasil. Ingressou na VPR e recebeu treinamento militar em Cuba. Pauline foi morta em janeiro de 1973, no episódio conhecido como massacre da Chácara São Bento.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
PAULO CÉSAR BOTELHO MASSA - Nascido no Rio de Janeiro, Paulo César Botelho Massa cursou parte do ensino médio no Rio de Janeiro. Aos 16 anos de idade, foi aprovado em um concurso para o Banco do Brasil. Em 1968, começou o curso de Ciências Econômicas na Universidade do Estado da Guanabara, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e passou a atuar no movimento estudantil. Em junho de 1971, saiu da casa de seus pais e foi morar com companheiros da Ação Libertadora Nacional (ALN). Foi sequestrado, junto com Ísis Dias de Oliveira, no dia 30 de janeiro de 1972, e levado ao Destacamento de Operações e Informações Centro de Operações de Defesa Interna do Rio de Janeiro (DOI/CODI-RJ) e, desde então, nunca mais foi visto.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
JOSÉ PORFÍRIO DE SOUZA - José Porfírio de Souza nasceu em 12 de julho de 1913, em Pedro Afonso, Tocantins, então parte do estado de Goiás. Camponês e principal liderança durante a chamada Revolta de Trombas e Formoso, conflito entre camponeses moradores da região e grileiros. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) atuou fortemente na revolta, enviando quadros para apoiar os camponeses. José Porfírio de Souza se filiou ao partido em 1956. O conflito se prolongou até 1962, quando o governador de Goiás, Mauro Borges, regularizou e concedeu cerca de 20 mil títulos de terra na região.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
RUY CARLOS VIEIRA BERBERT - Nascido em Regente Feijó (SP), Ruy Carlos Vieira Berbert permaneceu em sua cidade natal até a conclusão do segundo grau. Aprovado no vestibular da PUC e da USP optou por cursar a faculdade de Letras na USP, passando a residir no conjunto residencial da universidade, o Crusp. Participou do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP) e acabou sendo preso, em outubro de 1968. Em 4 de novembro de 1969, Ruy Berbert, acompanhado de outros nove militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), sequestrou um avião da Varig da rota Buenos Aires-Santiago, desviando-o para Cuba. Depois de concluído seu treinamento militar em Cuba, Ruy retornou ao Brasil em 1971, já como militante do Molipo. Morreu aos 24 anos, em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado. Seus restos mortais não foram identificados.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
SOLEDAD BARETT VIEDMA - Soledad nasceu no Paraguai e teve a sua vida muito conturbada desde criança, uma vez que seus pais e seu avô eram militantes de esquerda e constantemente tinham que mudar de país por questões de segurança. Desde a adolescência, Soledad militava no movimento estudantil. Enquanto vivia em Montevidéu, em 1962, com 17 anos, Soledad foi raptada por um grupo neonazista que tentou obrigá-la a gritar palavras de ordem em exaltação a Hitler e contrárias à Revolução Cubana. Como Soledad resistiu, os sequestradores gravaram em sua pele uma cruz gamada, símbolo nazista. Em 1971, Soledad veio ao Brasil e foi morta em janeiro de 1973, no episódio conhecido como massacre da Chácara São Bento.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
STUART EDGAR ANGEL JONES - Filho da estilista Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, de nacionalidade inglesa e americana, Stuart Edgar Angel Jones, nascido em janeiro de 1945, era um estudante universitário nascido em Salvador (BA). Cursava Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro e era militante desde 1968. Em 1971, foi sequestrado por agentes da repressão, se tornando mais um desaparecido político da ditadura. O desaparecimento de Stuart é um dos mais conhecidos da ditadura militar, tanto no Brasil como no exterior.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
THOMAZ ANTÔNIO DA SILVA MEIRELLES NETTO - Nascido em Parintins, em 1937, no Amazonas, Thomaz Antônio da Silva Meirelles Netto mudou-se para o Rio de Janeiro em 1958, onde iniciou sua militância política. Atuou na União Brasileira dos Estudantes Secundarista (UBES) e, posteriormente, na União Nacional dos Estudantes (UNE). Ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, posteriormente, na Ação Libertadora Nacional (ALN). Foi preso no dia 18 de dezembro de 1970, na rua da Alfândega, no Rio de Janeiro, e levado para o Destacamento de Operações de Informações Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) do I Exército, onde foi interrogado e torturado. Foi preso aos 36 anos de idade, no dia 7 de maio de 1974, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Dessa data em diante nunca mais foi visto.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
ZOÉ LUCAS DE BRITO FILHO - Nascido em 1944, no Rio Grande do Norte, Zoé Lucas era o quarto de uma família de 15 filhos. Cursou Geografia na Universidade Federal de Pernambuco. Durante o tempo em que esteve na UFPE, participou do movimento estudantil. Ao terminar a graduação, começou a dar aulas como professor de geografia em uma escola particular. Militou inicialmente no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e a partir de dezembro de 1969 entrou para a Ação Libertadora Nacional (ALN). Após ser preso e devido a intensas perseguições e ameaças de morte, mudou-se para o Rio de Janeiro e para São Paulo. Apesar disso, resolveu sair do país com medo de ser preso novamente. No entanto, foi morto antes, aos 28 anos.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução
MÁRIO ALVES DE SOUZA VIEIRA - Nascido em Sento Sé (BA), em junho de 1923, Mário Alves de Souza Vieira foi jornalista e dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), comprometido desde muito cedo com as lutas sociais. Com 15 anos de idade ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB) na Bahia. Preso no dia 16 de janeiro de 1970, ele foi morto um dia depois, aos 46 anos, em ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro. Conforme testemunhas, ele foi torturado até a morte nas dependências do quartel da polícia do I Exército na rua Barão de Mesquita, no bairro Tijuca, onde foi instalado o DOI-CODI do Rio de Janeiro, e até hoje seu corpo continua desaparecido.
Foto: Reprodução / Comissão da Verdade do Rio
MARIANO JOAQUIM DA SILVA - Mariano Joaquim da Silva, de família camponesa, começou a trabalhar aos 12 anos como agricultor e depois como operário na indústria de calçados. Militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) a partir de meados dos anos 1950 e integrou o Comitê Municipal de Recife. Após algumas prisões, em 20 de abril de 1971, esteve pela última vez com seu irmão, o ex-preso político Arlindo Felipe da Silva, em Recife. Depois desse encontro, a família foi informada da prisão de Mariano Joaquim da Silva na rodoviária de Recife em 1º de maio de 1971. Após ser preso no Recife, Mariano foi levado para o Rio de Janeiro, São Paulo e novamente para o Rio de Janeiro, onde desapareceu.
Foto: Relatório da Comissão da Verdade / Reprodução