Dimas Covas apontou para atraso e paralisação de processo de compra da CoronaVac, destaca assessoria de Renan
A falta de resposta a ofertas, atraso e paralisação em processo de compra da vacina CoronaVac foram apontados como destaques do depoimento do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, até o momento, na avaliação da área técnica de assessoramento do relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
O relator é responsável pela produção de um parecer sobre as investigações promovidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a ser chancelado pelo colegiado e toma como base destaques, informações e divergências entre os depoimentos para construir sua linha de apuração.
"O Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação, não fossem os percalços que nós tínhamos que enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato, como do ponto de vista também regulatório", disse Dimas Covas em depoimento desta quinta-feira à CPI.
O diretor relatou que ainda em julho de 2020, pouco depois de o instituto iniciar os estudos clínicos da CoronaVac no Brasil, o Ministério da Saúde foi procurado, por meio de ofício, com uma oferta de entrega de 60 milhões de doses até o final do ano.
"Um pouquinho depois, como não houve aí uma resposta efetiva, nós reforçamos o ofício e, em agosto, nós solicitamos, além de reforçar o ofício, apoio financeiro ao ministério para apoiar o estudo clínico", disse.
"Um estudo clínico dessa dimensão custa muito caro. Nós tínhamos uma previsão de gastar em torno de 100 milhões de reais nesse estudo clínico. Então, nós solicitamos um apoio do ministério, no sentido de que permitisse a gente suportar esses gastos, e solicitamos também um apoio para reformar uma fábrica", relatou Covas, acrescentando que não obteve resposta positiva aos pleitos.
No caso da reforma da fábrica, explicou, foi sugerido que o instituto buscasse apoio por meio de programa para o desenvolvimento do complexo industrial da saúde. Segundo Covas, essa fábrica terá condições, se estiver pronta até o fim do ano, de funcionar a partir do primeiro trimestre de 2022 com capacidade de produção de 100 milhões de doses ao ano.
Ainda assim, relatou Covas, ministério e Butantan seguiram as negociações, em caráter técnico, que culminaram com a divulgação, em outubro de 2020, da compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. O anúncio, feito pelo então ministro Eduardo Pazuello, teve como testemunhas governadores e parlamentares.
No dia seguinte, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro e garantiu que o governo brasileiro não compraria a "vacina chinesa".
"Isso mudou a perspectiva no próprio ministério. Quer dizer, todas essas negociações que ocorriam com troca de equipes técnicas, com troca de documentos, a partir desse momento elas foram suspensas. Quer dizer, houve, no dia 19, um dia antes da reunião com o ministro, um documento do ministério que era um compromisso de incorporação, mas, após, esse compromisso ficou em suspenso e, de fato, só foi concretizado em 7 de janeiro", relatou Dimas Covas, apontando a paralisação de ao menos três meses no processo de compra da CoronaVac e suspensão, inclusive, de negociação de uma medida provisória que facilitaria a aquisição.
Dimas Covas lembrou que o atraso na negociação em um contexto mundial de forte demanda e oferta limitada, acabou por resultar em um cronograma diferente do originalmente sugerido pelo Butantan.
ANTICHINA
As declarações do presidente e de integrantes do governo tendo a China como alvo, caso das que insinuavam que a vacina seria de baixa qualidade por conta de sua origem, afetaram os estudos que o Butantan promovia e também tiveram impacto na remessa de insumos, na opinião de Dimas Covas, pinçada pela assessoria de Renan no documento obtido pela Reuters.
O diretor do Butantan relatou que em reunião com o atual ministro de Relações Exteriores, Carlos França, da Economia, Paulo Guedes, e da Saúde, Marcelo Queiroga, o embaixador da China teria deixado muito claro que "posições que são antagônicas, que desmerecem a China, causam, obviamente, inconformismo do lado chinês".
Questionado por Renan se as posições políticas do governo haviam prejudicado a distribuição de CoronaVac no Brasil, Dimas Covas afirmou que "impediu a vacinação de milhões de pessoas num prazo anterior ao que começou".
"As pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que a China dá ao mundo neste momento. Então, obviamente isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, e hoje demoram mais de mês para serem resolvidas."
O diretor fez questão de dizer, no entanto, que com a saída de Ernesto Araújo do comando do Itamaraty a situação já melhorou. Covas também elogiou atuação de Queiroga.
O diretor do Butantan também afirmou que campanha promovida em mídias sociais denegrindo a CoronaVac chegaram a prejudicar seus estudos clínicos, dificultando o fluxo de voluntários para os testes.