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'Discreto' e 'técnico', Teori ficou no centro do fogo cruzado com a Lava Jato

19 jan 2017 - 18h38
(atualizado às 19h19)
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Relator dos processos ligados à operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori Albino Zavascki, de 68 anos, era conhecido como "discreto" e "independente".

Ministro foi responsável por decisões comemoradas por apoiadores e contrários ao governo do PT durante a Lava Jato
Ministro foi responsável por decisões comemoradas por apoiadores e contrários ao governo do PT durante a Lava Jato
Foto: STF

Zavascki foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2012, assumindo a vaga do ex-ministro Cezar Peluso em meio ao julgamento do "mensalão".

Em 2015 e 2016, foi responsável por alguns dos desdobramentos mais importantes da operação Lava Jato.

Elogiado por seus pares, que destacam seu perfil "técnico", o catarinense de Faxinal dos Guedes fez carreira pública no Estado vizinho, o Rio Grande do Sul, e chegou a ser advogado do Banco Central.

"Zavascki é um ministro de reconhecida competência e independência. Sempre teve uma atuação muito segura e costuma ser sensível às manifestações tanto da acusação quanto da defesa. Muitas vezes é duro, mas sempre prezando pela imparcialidade, pressuposto indispensável à atividade jurisdicional", afirmou à BBC em 2015 o advogado Nabor Bulhões, um dos que desfrutam de melhor trânsito no STF.

O ministro também era conhecido por ser minucioso em questões processuais. ''Espero que todos os bons momentos apaguem minha fama de apontador ou cobrador das pequenas coisas'', brincou, ao se despedir da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça e tomar posse no STF, há cinco anos.

Um dia antes do acidente em Paraty, o ministro e sua equipe haviam dado início à análise dos acordos de delação premiada dos executivos da Odebrecht, em meio ao recesso da Suprema Corte.

Até dezembro, ele havia julgado 102 ações cautelares ajuizadas pelo Ministério Público Federal no âmbito da Lava Jato, entre pedidos de prisões preventivas, buscas e apreensões, além de quebras de sigilo bancário, fiscal ou telefônico.

Decisões

Católico não praticante, descendente de poloneses e italianos, Zavascki, que sempre primou pela discrição, precisou a aprender a lidar, a duras penas, com a repercussão de suas decisões junto à opinião pública.

Joaquim Falcão, professor de Direito da FGV-RJ, chegou a definir o catarinense comoum "contraponto a outros ministros da casa, que preferem os holofotes".

No entanto, os holofotes o perseguiram durante o trabalho no STF.

Zavascki foi nomeado ao cargo na mais alta corte do país em pleno julgamento da ação penal 470, mais conhecida como "mensalão", da qual não participou, mas deu voto favorável aos réus quando o plenário do STF discutiu os chamados "embargos infringentes" - recurso exclusivo da defesa interposto quando não há unanimidade na decisão colegiada.

A decisão de Zavascki, que optou por absolvê-los do crime de formação de quadrilha, acabou por reduzir a pena de alguns dos envolvidos, como o ex-ministro José Dirceu, que se livrou do regime fechado.

Desde então, suas decisões foram comemoradas, alternadamente, por grupos favoráveis e contrários ao governo Dilma e ao PT.

Em março de 2015, ele autorizou a abertura de inquérito para investigar 47 políticos suspeitos de participação no esquema de corrupção da Petrobras, a pedido do procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Meses depois, Zavascki autorizou a prisão do senador Delcídio do Amaral, o primeiro político a ser preso no âmbito da Lava Jato durante o mandato, e homologou sua delação premiada.

Em 2016, o ministro determinou que todas as investigações da Lava Jato envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff e outros políticos com foro privilegiado deveriam ser remetidas ao STF - em meio à polêmica da divulgação de ligações telefônicas interceptadas entre Lula e outros membros do alto escalão do PT, incluindo a ex-presidente.

Zavascki também acatou ao pedido de Janot para a suspensão do então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Presidência da Câmara dos Deputados, e negou o pedido do governo para anular o processo de impeachment de Dilma, o que permitiu que o Senado votasse pelo afastamento da presidente.

Em junho de 2016 ele determinou que a investigação envolvendo Lula fosse devolvida ao juiz Sergio Moro, mas que as interceptações telefônicas divulgadas pelo juiz do Paraná deveriam ser anuladas enquanto provas, por considerá-las ilegais.

No mesmo mês, ele negou os pedidos de prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney, feitos por Janot.

"Desde que meu pai se tornou ministro do STF, a carga de trabalho aumentou e cresceu também a preocupação com a segurança. Por essa razão, ele vem cada vez mais restringindo suas saídas", disse à BBC Brasil seu filho Francisco Zavascki, em 2015.

"Nunca passamos por nenhum constrangimento público juntos, mas toda vez que meu pai toma uma decisão polêmica, vez ou outra, sou alvo de xingamentos em minha página no Facebook."

Ministro gostava de despachar ouvindo música clássica e era fanático pelo Grêmio
Ministro gostava de despachar ouvindo música clássica e era fanático pelo Grêmio
Foto: Ascom/Grêmio

Família e futebol

Doutor em Direito Processual Civil, Zavascki veio de uma família de sete irmãos.

Estudou em um internato em Chapecó (SC) e formou-se em Direito em 1972, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde fez mestrado e doutorado. Também foi professor da Universidade de Brasília (UnB).

Pai de três filhos ─ o infectologista Alexandre e os advogados Liliana e Francisco ─ e avô de cinco netos, Zavascki costuma despachar ao som de música clássica.

Ele era viúvo da segunda mulher, a juíza federal Maria Helena Marques de Castro Zavascki, que morreu de câncer em 2013.

Segundo Francisco Zavascki, seu gosto pelo trabalho só não era maior do que o fanatismo pelo Grêmio, clube do qual era membro conselheiro.

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