Dólar em alta após vitória de Trump: por que moeda chegou a R$ 5,86
Para analistas, a alta reflete expectativa em relação às políticas econômicas do futuro governo Trump, que podem ser mais protecionistas, levando a alta da inflação e dos juros nos EUA.
Com a notícia da eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, o dólar disparou. A expectativa é que a vitória cause impacto na economia global.
O dólar subiu cerca de 1,4% em relação a uma série de moedas, incluindo a libra, o euro e o iene japonês.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas estrangeiras, registrava alta de 1,7% na manhã desta quarta-feira (6/11).
No Brasil, a moeda foi de R$ 5,74 para R$ 5,86 por volta das 9h da manhã, maior valor desde 2020, durante a pandemia.
O interesse pelo assunto na internet também disparou nas últimas horas, segundo dados do Google Trends e este é o segundo tema mais buscado do dia, perdendo apenas para a própria eleição americana. O valor tem flutuado ao longo do dia.
A agenda que o futuro presidente promete colocar em prática, que envolve deportação de imigrantes sem documentos, tarifas de importação e aumento de subsídios, poderá elevar a dívida pública americana, alimentar a inflação e reduzir a corrente de comércio de global, segundo analistas ouvidos pela BBC News Brasil.
Espera-se que o impacto seja negativo, no curto prazo, para a economia brasileira, com um ciclo de dólar mais alto.
Nesta quarta-feira (6/11), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide em quanto elevará a taxa básica de juros, a Selic, em meio à alta do dólar. Há expectativa do mercado de que a taxa seja elevada em 0,5 ponto percentual.
Para Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o dólar deve ter um repique no curto prazo, por um efeito de especulação de como Trump vai atuar na economia.
Mas o economista avalia que a recente desvalorização do real também é influenciada por fatores internos.
"Grande parte do dólar tem o efeito da política fiscal do governo Lula, que tem tido um déficit brutal nos últimos meses. Outro fator importante tem sido também a expectativa da reforma fiscal que ainda não saiu."
O professor lembra que toda incerteza, na economia, gera algum tipo de expectativa.
"Existe um ditado no mercado financeiro, que 'o mercado é covarde'. Significa que qualquer fato novo, seja uma eleição, aumento de juros, fatores políticos, que ainda não está precificado, gera um efeito no mercado financeiro", diz Garbe.
"O aumento do dólar significa uma saída de dólares do Brasil para mercados considerados mais seguros, como os próprios EUA. Quando tem mais saída de dólar, fica menos estoque de dólar no Brasil e a cotação sobe. Isso é o efeito da incerteza momentânea."
Ele lembra que um dos desafios para o governo do atual presidente dos EUA, Joe Biden, em termos econômicos, foi a alta da inflação.
"Apesar de ter tido uma criação importante de empregos, o governo Biden enfrentou uma inflação brutal durante seu mandato. Ele não foi capaz de solucionar o problema da inflação e os americanos são muito sensíveis a processos inflacionários. Americano, nos últimos 40 anos, não soube o que é inflação."
A economista Carla Beni, da Fundação Getulio Vargas, diz que moedas de países emergentes, como o Brasil, tendem a sofrer mais com o impacto causado pela alta dos títulos do tesouro americano.
"Caso Trump faça exatamente com a economia o que ele anunciou, que é elevar tarifas e tornar o país mais protecionista, isso tende a aumentar a inflação e aí você passa a ter que controlar isso via taxa de juros", explica Beni.
"Isso projeta, para um título de dez anos, uma taxa maior. Há um reposicionamento, no mundo. Os investidores saem de suas moedas e vão para o dólar. Neste cenário, as moedas emergentes são as que mais sofrem. A gente vive na periferia deste capitalismo financeiro e sofre muito este impacto. "
Para o economista Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, a alta reflete expectativa em relação às políticas econômicas do futuro governo Trump, que podem ser mais protecionistas, principalmente em relação à China.
"Vale dizer que exportar para os EUA será mais difícil e a tendência será de menores déficits comerciais nos EUA e desvalorização das demais moedas", diz Maciel.
"Como resultado, [teremos] um dólar mais valorizado e demais moedas mais desvalorizadas."