Ebola: ministro descarta fechar fronteira e repudia racismo
Arthur Chioro reagiu a comentários feitos após imigrante da Guiné ter suspeita de ebola
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, classificou neste sábado de "inaceitáveis" as manifestações de racismo ocorridas após a suspeita de que um imigrante da Guiné estivesse com ebola e descartou a hipótese de impedir a entrada de estrangeiros no País ou realizar testes em aeroportos.
Conheça as medidas para evitar o contágio do ebola
"Manifestações racistas são inaceitáveis em um país que se diz civilizado como o nosso. Temos que repudiar. É inaceitável que alguns brasileiros aproveitem esse momento para colocar sua raiva, seu ódio e suas manifestações racistas para fora", afirmou, em entrevista no Ministério da Saúde.
O ministro afirmou ainda que as pessoas, "nesses momentos, colocam o que têm de pior para fora por meio das mídias sociais".
O primeiro teste realizado no paciente de 47 anos com suspeita de ebola deu resultado negativo. Mas o diagnóstico só poderá ser totalmente descartado na segunda-feira, quando sai o resultado de um segundo exame realizado no paciente.
Após a suspeita ser divulgada, na quinta-feira, diversas manifestações racistas surgiram nas redes sociais. Reportagem da BBC Brasil mostrou que a maioria das pessoas que escreveu publicamente sobre o tema associou a palavra ebola ao termo "preto" no Facebook. No Twitter, houve comentários como "Ebola é coisa de preto" e "Graças ao ebola, agora eu taco fogo em qualquer preto que passa aqui na frente".
O ministro também rejeitou a hipótese de impedir a entrada de africanos no País - hipótese também defendida por diversos internautas.
"Para a gente não é nem possível, não é necessário, é contraindicado. Se a gente fechar as fronteiras as pessoas vão continuar entrando, mas vão entrar como clandestinos e vão ter receio de se apresentar ao serviço de saúde", disse.
O ministro acrescentou que, se o paciente com suspeita de ebola tivesse ficado em casa com medo, ele poderia ter transmitido o vírus -se a doença tivesse sido confirmada - para outras pessoas.
O paciente procurou uma unidade de saúde em Cascavel, no interior do Paraná, após sentir febre. Como vinha de um país onde a ocorrência da doença é alta, seu caso foi classificado como suspeito.
Sem os registros de sua entrada, também não teria sido possível confirmar a data de sua chegada, o que possibilitou verificar que, caso estivesse infectado, ele ainda poderia estar no período de incubação do vírus, que dura até 21 dias.
Chioro disse também que o Brasil já acompanha possíveis casos suspeitos em portos e aeroportos, mas rejeitou a adoção de testes nos aeroportos brasileiros, medida que já foi anunciada nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.
Ele disse que o caso suspeito não teria sido identificado mesmo se houvesse medição de temperatura nos aeroportos brasileiros, já que o paciente só teve febre dias após entrar no País.
O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, disse que a medida se mostrou inócua todas as vezes em que foi adotada por algum País.
Ambos defenderam a realização de testes na saída dos países onde a epidemia está concentrada. As autoridades locais já estão realizando essas triagens, com supervisão da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Segundo Chioro, o paciente com suspeita de ebola afirmou que passou por essa averiguação na Guiné.
O ministro da Saúde afirmou ainda que o Brasil continua sendo um País com "risco baixo" de transmissão da doença.
"O Brasil continua sendo um País com pouca chance de transmissão da doença, o que não significa que não pode ocorrer, mas o risco é baixo. Nosso fluxo de turismo de viajantes com esses países é pequeno", afirmou.
Ele acrescentou ainda que os preparativos para a Copa do Mundo deixaram um legado que tornou eficiente a resposta do sistema de saúde a ameaças como a do ebola.