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Eleições 2018: Os erros-chave do PT na campanha contra Jair Bolsonaro

Na reta final do período eleitoral, a campanha do PT conseguiu reduzir a diferença entre os candidatos Fernando Haddad e Jair Bolsonaro (PSL). Ainda assim, não foi o bastante para reverter o favoritismo do capitão reformado.

28 out 2018 - 20h54
(atualizado às 20h57)
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Fontes ouvidas pela BBC News Brasil avaliam que candidatura do ex-presidente Lula teve consequências positivas e negativas.
Fontes ouvidas pela BBC News Brasil avaliam que candidatura do ex-presidente Lula teve consequências positivas e negativas.
Foto: AFP / BBC News Brasil

Na reta final do período eleitoral, a campanha do PT conseguiu reduzir a diferença entre os candidatos Fernando Haddad e o adversário Jair Bolsonaro (PSL). Ainda assim, não foi o bastante para evitar a vitória do candidato do PSL.

Em discurso após a derrota, Haddad disse que o partido precisa "se reconectar com as bases, com os mais pobres, para retecer um plano."

A BBC News Brasil conversou com cientistas políticos e um marqueteiro para levantar possíveis erros da campanha que podem ter colaborado para a derrota.

Entre os principais problemas citados estão o fato de não ter sido criada uma frente única de esquerda, a demora para lançar Haddad e a aposta na candidatura do ex-presidente Lula, hoje preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro. Além disso, foram citados o papel das redes sociais e do WhatsApp, mudança de discurso do primeiro para o segundo turno e a autocrítica tímida e tardia que Haddad fez na reta final.

Frente com outros partidos fracassou

Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, senador eleito e coordenador da campanha de Haddad, defendia que o candidato da esquerda fosse Ciro Gomes (PDT), mas a proposta não deu certo. Wagner disse que sempre defendera um acordo com Ciro pois a campanha de Bolsonaro se resumia a uma postura contra o PT. "O que eles têm a dizer? É anti-PT. É anti-PT".

Antes da prisão de Lula, informações de bastidores davam conta de que o próprio Haddad defendia uma frente de esquerda, mesmo sem candidato próprio do PT. No entanto, com a prisão, essa ideia se desfez, pois o foco do partido passou a ser a defesa pública do ex-presidente.

Parte da cúpula do PT defendia que fosse feito um acordo com Ciro Gomes, mas a ideia fracassou
Parte da cúpula do PT defendia que fosse feito um acordo com Ciro Gomes, mas a ideia fracassou
Foto: LEO CANABARRO / BBC News Brasil

No segundo turno, o candidato do PT tentou compor uma frente com Ciro, Marina Silva (Rede) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas as conversas não avançaram. Fernando Henrique se manteve neutro, Marina declarou voto crítico na reta final e o PDT disse que daria apoio crítico a Haddad. Ciro se manifestou repetidas vezes contra Bolsonaro em redes sociais, mas sem mencionar Haddad.

Ao declarar "apoio crítico" ao PT, Marina disse que o partido "mantém o jogo do faz de conta do desespero eleitoral, segue firme no universo do marketing, sem que o candidato inspire-se na gravidade do momento para virar a própria mesa, fazer uma autocrítica corajosa e tentar ser o eixo de uma alternativa democrática verdadeira".

Autocrítica foi tímida e veio tarde

Para o cientista político Claudio Gonçalves Couto, da FGV, o partido deveria ter reconhecido que membros estiveram envolvidos com corrupção anos antes da eleição. "A campanha foi apenas o ponto culminante desse erro", diz ele.

Pensador ligado à esquerda, mas forte crítico do PT, o filósofo Ruy Fausto acha que Haddad deu, no final da campanha, passos importantes em direção a um mea culpa, mas uma autocrítica mais incisiva poderia ter reforçado sua candidatura.

"Teria que admitir que no governo do PT houve, sim, corrupção, e se apresentar como herdeiro do lado bom, e não do lado ruim. Houve promiscuidade entre o governo e o poder econômico. É melhor que ele diga. Mas o partido não quer que ele diga, porque quer alimentar o mito do Lula".

"Somado, foi tudo muito tardio, e também insuficiente", diz ele.

Ambos citam também como exemplo a forma como o candidato tratou o tema da Venezuela. "Há um fetichismo na esquerda de não criticar governos apenas porque eles são de esquerda", diz Couto.

"Quando a Gleisi Hoffmann (presidente do PT) defende Nicolás Maduro (presidente da Venezuela), é um desastre para a campanha", afirma Fausto. "É uma arma na mão da direita. Alimenta a ideia de que o Brasil vai virar uma Venezuela, quando não tem o menor risco de isso acontecer com o Haddad", opinou em entrevista à BBC News Brasil.

Paulo de Tarso Santos, que já foi responsável pelo marketing de campanhas do PT e de Marina Silva, acha que fazer essa autocrítica no programa de televisão poderia ter melhorado o desempenho. "(Poderia) falar do petrolão, que as pessoas diziam que seria suicídio político, mas eu não acho. Ao mesmo tempo em que a população votou no Bolsonaro, ela tem medo do Bolsonaro. Mas teria que ter uma mão política muito fina para fazer uma autocrítica sem cometer suicídio."

A questão de como fazer a autocrítica sem cometer suicídio político limitou, para Santos, a margem de manobra de Haddad. "Ele trabalhou com muito pouco [espaço político] e foi bem dentro do que tinha, mas houve coisas que não ficaram bem respondidas."

Demora a lançar Haddad como candidato

Foi surfando na onda lulista que Haddad conseguiu se tornar relevante no primeiro turno, ao receber votos que iriam para o ex-presidente. No entanto, a associação com Lula também teve efeito negativo, segundo pessoas ouvidas pela BBC News Brasil, pois alavancou Haddad, que era pouco conhecido, mas ao mesmo tempo impôs a ele um teto de crescimento.

"É indiscutível que Lula é a grande liderança na esquerda brasileira. É compreensível atacar o julgamento e a prisão dele. Defender o Lula é perfeitamente cabível", diz Claudio Couto. "Daí não se depreende, no entanto, que você deva mantê-lo candidato sabendo, de antemão, que ele não vai ser candidato." Por ter sido condenado em segunda instância, Lula se enquadra na Lei da Ficha Limpa, aprovada em seu próprio governo.

"Isso poderia ser importante para a própria defesa dele, e ele, como líder, poderia alavancar outra candidatura, o que de fato aconteceu, mas por outro lado, é um limitador. É positivo para o eleitorado petista e lulista, mas depois passa a ser um problema. Haddad passa a ser visto como um candidato sem vida própria. Você mata o candidato. Além disso, transfere a rejeição - é aquele discurso do 'candidato do presidiário'".

O marqueteiro Paulo de Tarso Santos, responsável pelas campanhas de Lula nas eleições presidenciais de 1989 e de 1994, diz que o projeto da campanha se baseou no ex-presidente, mas, para ele, "o povo não acha o Lula uma vítima." Pesquisa Datafolha feita em outubro indica que 51% da população acredita que o ex-presidente deve continuar preso.

Analistas dizem que teria sido melhor se Haddad tivesse se lançado como candidato mais cedo
Analistas dizem que teria sido melhor se Haddad tivesse se lançado como candidato mais cedo
Foto: Cláudio Kbene / BBC News Brasil

Na visão do marqueteiro, teria sido melhor se Haddad tivesse descolado sua imagem de Lula mais cedo ou que o partido tivesse escolhido outro candidato. "Essa ideia do 'poste dois' é quase uma ofensa ao povo", diz ele.

Santos acredita que o PT errou ao acreditar que a população escolheria o candidato de Lula lembrando das melhorias vistas no país no seu governo - redução da pobreza e da desigualdade, por exemplo. "Não há gratidão na política. O PT fez uma campanha com base na gratidão, mas isso não existe", afirma.

Ele diz ainda que a mudança no discurso e na postura de Haddad em relação a Lula e ao PT do primeiro para o segundo turno foi drástica demais e pareceu pouco crível.

Haddad passou o início da campanha visitando o ex-presidente na prisão em Curitiba e defendendo, em debates e entrevistas, os governos do PT. Após passar para o segundo turno, interrompeu as visitas e reconheceu em entrevistas erros do partido ligados a corrupção, além de recuar na proposta de fazer uma nova Constituinte, mas não sem antes se encontrar-se com Lula novamente, logo na segunda-feira após a votação do primeiro turno. Esse encontro, segundo analistas, enviou sinais de que seu afastamento repentino do ex-presidente era apenas tática de campanha, não um ato sincero.

'Subestimamos o WhatsApp'

A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse em entrevista coletiva que, na avaliação dela, o PT subestimou o papel do WhatsApp na campanha. "A gente já tinha isso mais ou menos no radar por conta da campanha do (presidente dos EUA Donald) Trump, mas não nos preparamos devidamente. Acho que aí tem um erro do PT, de nós termos subestimado, não a força das redes sociais tradicionais, mas não nos preparamos para a questão do WhatsApp", afirmou.

Sérgio Amadeu da Silveira, professor e pesquisador da Universidade Federal do ABC, concorda, e, para ele, não foi por falta de aviso. "Já se sabia que o WhatsApp seria a principal rede social da campanha porque cerca de 90% dos brasileiros com acesso à internet usam a rede", diz ele.

Para ele, Bolsonaro teve vantagem por basear sua campanha nesse meio de comunicação e por ter começado esse trabalho anos antes do PT. Lembrou que há indícios de que esse trabalho teve o apoio de empresas.

Na reta final da campanha, o jornal Folha de S.Paulo publicou uma reportagem afirmando que empresários que apoiavam Bolsonaro pagaram, por meio de caixa 2, o envio de milhões de mensagens no WhatsApp contra o PT. Em resposta, o capitão reformado afirmou que não há provas contra ele, que não pode controlar empresários, que tem uma militância orgânica sem impulsionamento inflado e que sofre perseguição da imprensa.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse em entrevista coletiva que, na avaliação dela, o partido subestimou o papel do WhatsApp na campanha eleitoral.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse em entrevista coletiva que, na avaliação dela, o partido subestimou o papel do WhatsApp na campanha eleitoral.
Foto: Ilustração: Kako Abraham/BBC / BBC News Brasil

Para Amadeu, no entanto, "o PT e outros partidos foram pegos de surpresa em 2013 (época em que protestos irromperam pelo país), não conseguiu entender o processo, a dinâmica das redes, assimilado pela direita, com algumas iniciativas sendo financiadas por empresas. As forças de esquerda melhoraram, começaram a usar as redes, claro, mas não de maneira tão profissional quanto a direita."

Na descrição do especialista, "a rede é impossível de controlar por ser ampla e subterrânea": é possível disparar mensagens para muitas pessoas ao mesmo tempo e os grupos ali são fechados e sem transparência.

A opinião é similar à de Maurício Moura, fundador da consultoria Ideia Big Data, que realiza pesquisas de opinião, e pesquisador da George Washington University, nos Estados Unidos, que analisou o uso do aplicativo nas eleições de 2014 e 2018.

"A campanha do PT foi a que melhor integrou rua, TV, rádio e meios digitais. Foram um exemplo de coordenação de campanha", diz ele, e cita como exemplo o momento em que Haddad virou candidato: "As campanhas do PT em todo o Brasil passaram a trazer a frase 'Haddad é Lula', mas falharam em termos de WhatsApp''.

Ele afirma que "o PT foi pego de surpresa. Eles não colocaram energia e recursos no WhatsApp, tanto para disseminar conteúdos através de grupos, como para coletar números de celular para aumentar o cadastro deles. Não deram a atenção que o WhatsApp merecia. O WhatsApp era uma tendência, baseado no histórico das eleições do México e da Colômbia. O PT se prendeu à velha forma de fazer campanha. Se por um lado foram bem na integração, não deram foco ao WhatsApp." * Colaborou Amanda Rossi

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